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11.2.08

CSNY, Déjà Vu


A música em Berlinale não foi só Rolling Stones. Muito longe dos holofotes da fama e das capas dos jornais, passou em Berlim um tal de Bernard Shakey, um dos maiores compositores de toda a história do rock.

Bernard Shakey é o pseudonimo que Neil Young usa quando decide, de tempos em tempos, brincar de cinema. CSNY, DÉJÀ VU é, muito sucintamente, uma "collage" de imagens da bombástica turnê que os Crosby, Stills, Nash & Young fizeram em 2006 contra a Guerra do Iraque e o presidente Bush. Também sexagenários, como os Stones, os CSNY (David Crosby, Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young) foram à estrada com sua turnê, declarando guerra aberta ao governo de Washington, recuperando velhas canções anti-guerra do Vietnã misturadas com canções recentes, como a muito sugestiva "Let's Impeach the President", escrita em 2006 por Neil Young para o seu álbum de estúdio "Living With War".

O filme é o que é, sem muitas pretensões. Diz o que tem a dizer sem papas na língua, como Young sempre o fez. É suficientemente educado e democrático para deixar no ecrã a divisão do público que a turnê provocou nos EUA e suficientemente terno para dar a perceber que os CSNY serão adorados pela América para sempre.

Spoiler Rating: 63
LBC Rating: ~

Por Francisco Ferreira (Expresso)

27.1.08

Sunshine Cleaning


A idéia por trás de SUNSHINE CLEANING – duas irmãs aproveitando uma oportunidade de negocio em limpar cenas de crime e remover produtos químicos perigosos – soa como uma ótima comedia de humor negro. Mas a diretora neozelandesa Christine Jeffs (SYLVIA) e o roteirista Megan Holly tiveram outras idéias... Esse estranho serviço é um ótimo trampolim para se explorar o autovalor, a solidão, e a aceitação. Ainda é comedia, mas talvez, mais cinza do que negra.

Amy Adams e Emily Blunt são duas atrizes em plena curva ascendente. São atraentes, divertidas e seu emparelhamento no filme é um toque de gênio. Com um marketing certo pode surpreender com algum premio.

O filme começa com cada uma com problemas. Rose (Adams), uma popular cheerleader de torcida que vê suas opções se limitar depois dos 30, aceita um trabalho patético como faxineira na casa do seu ex-namorado Mac (Steve Zahn), que agora é casado. Suas ambições só perdem para sua irmã Norah (Blunt), que vive as custas de seu pai Joe (Alan Arkin) e se distrai com drogas e um noivo frouxo.

Mac, que é policial, sucinta a hipotese de Rose fazer dinheiro limpando cenas de crime. E então, Rose arrasta Norah consigo nesse inusitado negocio que cresce vertiginosamente, tal a ânsia do povo de se livrar do sangue, miolos e outros inconvenientes.

O filme não explora as cenas de crime com muita comedia. De fato são cenas fortes: Rose conforta uma mulher cujo marido cometeu suicídio. Norah localiza uma filha em decomposição para dar a mãe algum consolo. E pela primeira vez em suas vidas, as mulheres realmente sentem que estão ajudando as pessoas. É como se limpar a bagunça de outras pessoas tenha uma tônica psicológica.

A química de Adams e Blunt é perfeita, produzindo vários momentos cômicos. Arkin interpreta um personagem que particularmente é sua especialidade. E assim, SUNSHINE CLEANING promete, e muito, ser o novo Miss Sunshine do ano.

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: ~

The Mysteries of Pittsburg


THE MYSTERIES OF PITTSBURGH, dirigido e escrito por Rawson Marshall Thurber, é uma adaptação do best seller de Michael Chabon (no Brasil, chamado de "Usina de Sonhos") sobre a arte na juventude, a exploração sexual e a cidade de Pittsburgh. Aqui, a cineasta capturou toda a essência de amadurecimento do personagem. Obviamente, o livro é melhor, mas ainda assim é uma boa adaptação feita com habilidade e narrativa inteligente.

É complicado adaptar uma historia onde o protagonista é antes de tudo, um observador. Um “gentleman” que pela própria natureza prefere se reservar da ação. O filme é, basicamente, uma estória de formação. Trata de um grupo de jovens Art Bechstein (Jon Foster), Phlox Lombardi (Mena Suvari) e Arthur Lecomte (Peter Sarsgaard) descobrindo o mundo. Seja racionalizando a arte, seja explorando sua sexualidade.


Infelizmente, a fotografia dispersa um pouco o foco da historia. É como se tudo fosse um grande calendário para agência de viagens da Pensilvânia. Sua ferrugem dourada e enquadramento romântico são saturados demais. Pouco natural.

Mas o grande destaque de MYSTERIES OF PITTSBURGH fica por conta dos atores que estimulam o filme para uma dimensão além da emoção e sentimentalismo fácil. Jon Foster está soberbo como o jovem Art, evidenciando seus conflitos adolescentes com um senso de ruína. No papel mais exibicionista da película, está Peter Sarsgaard, um inferno de carisma e petulância. Ele simplesmente monopoliza a fita, hipnotizando todos os olhares para si, incluindo sua namorada (Jane Bellwether). Outras performances consistentes são de Mena Suvari como uma simpática balconista com baixa-estima e Nick Nolte como um pai “carnívoro por arte”

No geral é um filme bem feito, um pouco romantizado demais. Mas consistente.

Spoiler Rating: 70
LBC Rating: ~

26.1.08

Máncora


Um drama tenso carregado de sexo ardente e desejos ilícitos, MÁNCORA de Ricardo de Montreuil representa um notável trabalho do, ainda, estudante de cinema peruano.

O interessante elenco, as locações sedutoras e o estilo visual fluido englobam recursos de sobra para uma grande promessa de bilheteria, como foi sua estréia na direção com LA MUJER DE MI HERMANO em 2006.

O deprimido Santiago "Santi" Pautrat (Jason Day), jovem de 21 anos, precisa conviver com o fato que seu pai – um velho cantor esquecido – pula de uma ponte para a morte, deixando ao seu filho, apenas a culpa. Santi se lastima por não ter passado mais tempo com seu pai, e fica pior quando desiste dos estudos na universidade e sua namorada termina o relacionamento.

Perder seu emprego é a gota dágua e nada mais, portanto, lhe prende em Lima. Então Santi planeja uma viagem à praia de Máncora com sua irmã mais velha, Ximena (Elsa Pataky), que foi adotada e não via há cinco anos, e seu petulante marido (Enrique Murciano) a bordo do velho Sedan de seu pai. Obviamente que o relacionamento fraternal entre Ximena e Santi invoca um certo ciúme e ambos acabam fugindo rumo a várias aventuras. A tensão sexual entre eles torna-se, então iminente.

O elenco internacional confronta os demônios pessoais de Santi, dando um ótimo suporte no roteiro de Oscar Torres, Angel Ibarguren e Juan Luis Nugent, particularmente Pataky como a “fatal” Ximena.

A enérgica direção de Montreuil ofusca um pouco a trama, lhe dando um senso de possibilidades, embora o final em aberto prove de perplexidade alguma.

Spoiler Rating: 78
LBC Rating: ~

Downloading Nancy


Como diretor de estréia, Johan Renck confundiu “arriscar” com “ser imprudente”. Ao lançar mão de todas as considerações comerciais em DOWNLOADING NANCY para contar os últimos dias de uma mulher irremediável, deprimida e suicida com automutilação, sadomasoquismo e; por fim, uma morte violenta, Renck passa da conta ao remover esse lamaçal com carregada auto-indulgência. Não suficiente, o filme carrega o famigerado tagline de “inspirado em uma história verídica”.

Maria Bello, abusada na infância pelo tio, resultando em graves conseqüências para seu corpo e alma, cai na armadilha do casamento que rapidamente esfria. Seu único alivio é a auto-mutilação. Enquanto, o marido (interpretado por um pegajoso Rufus Sewell) se distrai jogando golfe. Ela encontra um companheiro de dor na Internet. Ela propõe que se encontrem e... Propõe que a mate. O homem, (Jason Patric), concorda.

E esses eventos correm em paralelo com outros eventos que ocorrem antes e depois desse encontro: Cenas das mais infrutíferas do cinema. O roteiro de Pamela Cuming & Lee H. Ross cede ao desejo da autodestruição, mas mostra pouco interesse em analisar o passado na busca de suas causas. Os atores têm pouco a fazer.

E é o filme mais feio captado pela lente do fotógrafo Christopher Doyle. A iluminação é tão monótona e os ângulos tão insípidos que parecem querer infligir no publico a mesma dor que o diretor atribuiu espontaneamente nos seus personagens.

Spoiler Rating: 45
LBC Rating: ~

25.1.08

The Wackness


Com um desempenho brincalhão de Ben Kingsley que praticamente rouba o filme, THE WACKNESS deve em todos os aspectos, méritos ao diretor e roteirista Jonathan Levin. Seu filme arrancou aplausos em Sundance, e em plena manhã de Domingo.

Em linhas gerais, Trata-se de um rito de passagem. Um filme de verão inesquecível, mas THE WACKNESS extravasa o gênero. É difícil não imaginá-lo sem o Prêmio do Publico

É uma comédia sobre um traficante de drogas adolescente (Josh Peck) que se apaixona pela filha (Olivia Thirlby) do psiquiatra que trabalha justamente na sua desintoxicação (Ben Kingsley).

O filme, embora comédia de maneirismos, flerta também com o romance. É simplesmente um pacote de entretenimento que explode no território adolescente como um verdadeiro hit, repleto de ironias, insights e sentimento.

Sob a tutela inspirada de Levine, os atores inspiram grande energia. Como o decadente doutor, Kingsley esta maravilhoso como um sem vergonha velho bode que anestesia seus medos com a vida que passa por ele. Peck é chave para um personagem carismático, exultando decência e coragem, enquanto Thirlby extasia o publico com temperamento adolescente.

Spoiler Rating: 87
LBC Rating: ~

Blind Date


Um casal programa um “encontro-às-cegas” para apimentar seu casamento depois da morte de sua filha. Estrelando Stanley Tucci e Patrícia Clarkson, BLIND DATE percorre com humor negro e “encontro a as cegas” filtram-se com conversação escura do humor e conversas absurdas, mas infelizmente tem pouco a fazer além do circuito de festivais.

Assumindo diferentes pretextos, o casal se engaja na terapia de choque com cada um de seus substitutos: Balbuciando verdades e “lavando roupa suja”.

No vociferante roteiro de David Schechter e Stanley Tucci, os encontros são, no mínimo estranhos. Construído com assaltos verbais, piadas autoconscientes e pretensão do absurdo. Esteticamente tudo pontual. Como se tais piadas funcionassem com esquetes de radio, ou mesmo pequenas vinhetas.

Felizmente, os excessos verbais descuidados são regidos por duas finas interpretações. Tucci flexiona um machismo promíscuo. Por sua vez, Clarkson sustenta o filme com vários insights.

Spoiler Rating: 71
LBC Rating: ~

23.1.08

Smart People


Como o titulo sugere, SMART PEOPLE é uma sátira a cerca dos “acadêmicos”. Pessoas que podem ser demasiadamente espertas para o seu próprio bem, tornando-os incapazes de se relacionar com sua própria vida, amigos e familiares.

O esperto elenco inclui Dennis Quaid, Sarah Jessica Parker, Thomas Haden Church e a estrela em ascensão Ellen “Juno” Page.

Para os estudantes do Carnegie Mellon em Pittsburgh, o Professor Lawrence Wetherhold (Quaid) é um show de horror: Um amargo viúvo que perdeu o interesse dentro de sua própria especialidade, literatura vitoriana. Ele é egoísta, exigente, arrogante e insolente com seus alunos e nervoso como o inferno. Não obstante, é um modelo para sua jovem filha Vanessa (Page), que é tão amiga e pretensiosa quanto o pai. Seu irmão mais velho James (Ashton Holmes) vive num dormitório, provavelmente para escapar da atmosfera venenosa e manter seus muitos segredos. E nessas vidas, surgem dois personagens que irão minar a pompa de pai e filha, seduzindo-os para a normalidade.

O principal problema aqui é o roteiro previsível. Extremamente uniforme. Sem muita originalidade ou motivação para os personagens, tornando-os caricato demais. O elenco também não flui como deveria, resultado de uma escolha inadequada dos atores. Por outro lado, os diálogos são interessantes e em poucas linhas o roteiro surpreende com alguns momentos cômicos.

A estréia na direção de Noam Murro é segura. Ele desenvolve uma gama de personagens característicos com imagens limpas e cortes rápidos. Sua câmera passeia divertida sobre a historia, alheia a grandes emoções ou planos impróprios. Esquecendo os pequenos problemas de roteiro e casting, parece uma estréia consistente.

Spoiler Rating: 78
LBC Rating: ~

The Guitar


Amy Redford, filha de Robert Redford, fundador e diretor do Festival de Sundance, sai da sombra para seguir seu próprio caminho e estrear como diretora por THE GUITAR. Um filme que certamente redefine as lágrimas femininas. É uma estréia espirituosa com um elenco OK, mas o roteiro carece de originalidade ou soluções facéis "auto-construtivas".

É uma história veridica sobre uma mulher com diagnóstico de câncer. Despedida do trabalho, abandonada pelo namorado e com apenas dois meses de vida, ela decide juntar todas as suas economias para alcançar um dos seus grandes sonhos: aprender a tocar guitarra.

O roteiro de Amos Poe exibe uma certa inteligência emocional, mas de forma rude, se consome com uma overdose de analgésicos narrativos, levando a história para o lugar comum de sentimentos bons, mas pouco originais. Uma pena, pois de outra forma seria um filme exemplar.

Spoiler Rating: 71
LBC Rating: ~

The Merry Gentleman


O complexo “ménage a trois” psicológico de Michael Keaton, THE MERRY GENTLEMAN, encantou público e crítica, durante sua Premiere em Sundance. Trata-se de um filme bastante nervoso e ao mesmo tempo, simples e intimista.

Três pessoas compõem a história. Os três são emocionalmente feridos – um policial alcoólatra, uma esposa infeliz e um matador de aluguel. E num cenário incomum, suas vidas se unem por um assassinato.

O fio condutor segue Kate (Kelly MacDonald) que inesperadamente vê Frank (Michael Keaton) saindo de um prédio, momentos depois dele atirar numa vitima inocente.

Mas o grito de Kelly ao descobrir o corpo, o faz retornar e trazê-la para rua. E um relacionamento improvável floresce entre ambos. Enquanto a investigação prossegue, um dos policiais (Tom Bastounes), também se apaixona por Kate.

Introduzindo na trama, toques de humor influenciados em Hitchcock, o roteirista Ron Lazzaretti tece um perverso, mas aconchegante conto. Com ótimos diálogos e momentos característicos, Lazzaretti esculpe um filme emocionante. E a estréia de Keaton na direção resulta num senso afiado para construir momentos de forte tensão. É uma excelente alternativa para um ator em fim de carreira

Spoiler Rating: 85
LBC Rating: ~

20.1.08

Frozen River


A pratica de contrabando ilegal entre a reserva indígena de Mohawk e Nova York é real; Os personagens não são, mas poderiam ser. FROZEN RIVER flerta com uma verdade que inconscientemente é parcial, mas não ilegítima.

Melissa Leo é Ray, uma mãe de dois filhos que luta por manter a família unida num restrito trailer. Seu marido fugiu uma semana antes do natal depois e perder as economias da família. O dinheiro era reservado para a compra de uma casa. Mas agora ela mal consegue suprir o jantar de seus filhos, T.J. (Charlie McDermott) e Rickey (James Reilly).

No fim, sem muita esperança, ela acaba se envolvendo com Lila Littlewolf (Misty Upham), uma contrabandista. Inicialmente, as duas mulheres não gostam – ou confiam – uma da outra. Muito comum no relacionamento entre brancos e nativos. Mas Lilá tem um sonho também: Ela quer reaver seu filho, cuja avó tirou sua guarda.

Para fazer o contrabando, Ray e Lila têm que negociar com clientes agressivos. E o trabalho exige transportar pessoas, a maioria chineses, pelo rio congelado St. Lawrence que vêem do Canadá. É um lugar inóspito, onde qualquer coisa pode acontecer. Os riscos são grandes e o pagamento é modesto.

A performance de Melissa Leo dá ao filme uma intensidade que jamais teria sem ela. Despida de pretensão e vaidade. Sua expressão realça dor, sofrimento e esperança. O final parece forçado, mas como disse no começo, é realmente difícil ficar imparcial diante dessa historia.

Spoiler Rating: 79
LBC Rating: ~

Transsiberian


Viajar de avião tornou-se muito comum e em prejuízo, ficaram as velhas historias de suspense e mistério, a bordo de um trem. Brad Anderson ressuscitou o gênero em TRANSSIBERIAN, um possante suspense que embarca quatro ocidentais numa das viagens mais perigosas do continente asiático.

Depois da queda da antiga URSS, o Transsiberiano perdeu muito do seu charme, mas ainda conserva um certo ar de mistério que impregna a historia de Anderson. O filme é, potencialmente, um hit de bilheteria e seu afiado elenco composto por Woody Harrelson, Emily Mortimer, Kate Mara e Ben Kingsley, prováveis contenders na temporada de prêmios do próximo ano.

Roy (Harrelson) e Jessie (Mortimer), um casal americano em missão em Pequim, decide retornar para casa via Moscou no Transsiberiano, no final do rigoroso inverno. Roy é um aficcionado por trens e aventuras e Jessie têm pouca objeção a fazer - mesmo estando farta de aventuras incluindo drogas, bebidas e sexo.

Há um assunto mal resolvido entre eles, mas por hora, a grande aventura espreita adiante. Um corpo é descoberto. O detetive russo Grinko (Kingsley) imediatamente vê uma conexão entre o trem e o trafico de drogas. Ele embarca para Moscou e obviamente no mesmo trem.

E o filme concede ao expectador o charme e exotismo da viagem antes de embarcar literalmente no suspense. Longe das fases áureas, o trem embala em seu ventre, aposentados, traficantes, oficiais corruptos e canalhas. Os passageiros trocam vodka e contos obscuros para passar o tempo. E obviamente sobrevivem à pessima comida.

A direção firme de Anderson revela uma lógica de caos e negligência que flui em constante perigo e tensão. A fotografia é outro triunfo. Obscura. Claustrofobica. E conforme o trem acelera para o noroeste sobre um deserto de gelo, você fica com a impressão que a civilização vai ficando cada vez mais longe e mais longe e mais longe e mais longe...

Spoiler Rating: 89
LBC Rating: ~

19.1.08

Ballast


Em BALLAST, três pessoas lutam contra os outros e contra seus piores instintos, gerado sob a desconfiança profunda e memórias piores, para alcançar um tipo de equilíbrio onde possam, finalmente, viver tranqüilos. O debute de Lance Hammer é valente – valente pelo o que ele quer conseguir e por como ele consegue. Seu filme é construído sob circunstancias desoladas, num distrito desolado e vem a publico num estilo muito mais familiar ao circuito de arte europeu do que o americano.

O filme, como Hammer escreveu, dirigiu e editou, tem uma estética rigorosa. Durante os créditos iniciais, somente a palavra “ballast” (em bom português: lastro - algo que dá equilíbrio) aparece em tela. As cenas que seguem são curtas. Pontuais. Mesmo a edição comprime o tempo normal de cada cena. Os ângulos são escolhidos com cuidado. Som ambiente. Sem musica. Personagens falam. Menos por palavras. Mais pela linguagem corporal.

No delta do rio Mississipi, num amargo inverno. Um suicídio desarma o sutil equilíbrio de três pessoas. Depois de um tempo de luto, Lawrence (Michael J. Smith Sr.) se atira em si mesmo pelo desespero da morte do irmão gêmeo. Ao retornar do hospital, ele reabre sua pequena loja, no qual trabalhava com o irmão.

Para o filho de 12 anos de seu irmão, James (Jim Myron Ross) e sua esposa Marlee (Tarra Riggs) – o filme é vago sobre isso – a morte pode ter sido uma benção: No último minuto, o irmão escreve uma carta dando à mãe e a criança, a casa para viverem. A nota fica fixada na porta da rua.

Mas a legalidade da carta é incerta. E como Marlee vende a casa é ainda menos claro. Hammer astutamente lança-se de um jogo de montagem para esconder um fato chave: As casas de Lawrence e Marlee ocupam uma mesma propriedade com um muro imaginário de Berlim entre eles. Enquanto isso, James anda com companhias erradas. Amigos e drogas.

Hammer gradualmente lança um relance de luz na melancolia. Mas seu poder não é suficiente. Os três não têm escolhas para negociarem entre si. Não é fácil. E se não há paz entre eles, pelo menos há uma trégua.

Trabalhando com atores não profissionais. Hammer extrai performances autênticas do trio. Às vezes doloroso demais para se ver. Os danos calam fundo. E o buraco de bala no peito de Lawrence é nada comparado a essas feridas. No entanto, BALLAST ainda é um filme otimista, pois o Sol ainda pode alcançar esses corações frios.

Spoiler Rating: 85
LBC Rating: ~

Good Dick


Os cineastas nunca se cansam de retratar a guerra dos sexos. GOOD DICK, estréia na direção e roteiro de Marianna Palka, examina uma mulher machucada, interpretada pela própria diretora, que quer se reerguer de qualquer forma. O filme aos trancos, ora convincentes, ora melodramáticos, ganha em explorar pontos obscuros, mas acaba na vala comum da caricatura. Ainda assim, trata-se de um filme provocante.

Se Freud perguntassem o que as mulheres realmente querem. A resposta, aqui, seria: Ela quer ficar sozinha. Pelo menos a jovem do filme (nunca identificada pelo nome) quer isso no início. Ela aparentemente só sai de casa para alugar filmes pornôs e então, retorna para apreciá-los. Quando o balconista da locadora (Jason Ritter) mostra interesse, ela parece não se importar, ao menos externamente.

Mas o rapaz é persistente e a segue até seu apartamento, insinuando-se gradativamente em sua vida, mas nunca de maneira convencional. Eventualmente, eles assistem ao filme alugado, mas sem nenhum sexo depois; Dormem na mesma cama, mas sem sexo. E quando ela o toca, é geralmente para empurrá-lo, afastando-o física e emocionalmente.

Obviamente, algo age nela. Quem está vivendo a parte divertida de sua vida? Onde está a felicidade? Sua raiva pelos homens é palpável, mas isso é uma fabula feminista sobre a concessão. Um microcosmo de todos os relacionamentos íntimos, ou discurso inflamado de uma mulher hostil contra homens.

Eventualmente quando o mistério é resolvido - e saiba que é o clichê clássico de filmes desse tipo - O filme cai num avassalador anticlímax.

A produção em si, indie genuína, ostenta a tensão de um baixo orçamento e uma programação de filmagem apertada. Considere no pacote, a lente de André Lascaris, numa câmera Sony HD e uma queixosa composição de guitarra de Andrew Trosman. Eficaz, mas um tanto ousado.

Spoiler Rating: 65
LBC Rating: ~

Be Kind Rewind


Depois de explorar os instintos naturais do homem (A NATUREZA QUASE HUMANA) e a interação da memória, dos sonhos e das relações pessoais (BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS e THE SCIENCE OF SLEEP), Michel Gondry tornou-se brincalhão para encarar a si mesmo.

BE KIND REWIND flerta com a interação entre os filmes, seu publico e seus criadores. É uma fabula fantástica ajustada para uma fatia da sociedade, onde a necessidade das pessoas por uma fuga, qualquer fuga que seja, coincide com o desejo de participar da criação do seu escapismo.

Para todos os efeitos, o talento de Gondry é incontestável. É inconcebível imaginá-lo fora desse projeto, assim como sua grande estrela: Jack Black. Com uma estúpida energia, vibração e sentido. Black é a personificação do lunático Gondry que contamina toda uma cidade com a febre do cinema amador.

Como os demais filmes do diretor, BE KIND REWIND não é para todos os gostos. Sua doçura apela a muitos, mas outros podem esnobá-lo completamente, considerando-o outro conto de fadas mal executado. Contudo é fato: Esse cineasta francês criou uma legião de fãs devotados que aguardarão ansiosamente pelo filme. O que vale o preço de sua distribuição pelos cinemas.

No filme, Black vive um homem que, ao tentar sabotar uma estação de força, gera um campo magnético que acidentalmente apaga todos os VHSs da locadora de seu melhor amigo (Mos Def) e, para salvar o lugar; eles resolvem encenar de novo, os filmes perdidos. Entre os filmes "suecados" tem OS CAÇA-FANTASMAS, ROBOCOP, A HORA DO RUSH 2, 2001, OS DONOS DA RUA, QUANDO ÉRAMOS REIS, KING KONG, CONDUZINDO MISS DAISY...

“Suecar” um filme é, grosso modo, reeditá-lo de forma simples, sem grandes efeitos ou arroubos interpretativos. Tudo muito simples e, certamente, muito amador. Gondry, que também assina o roteiro, mantém o foco no cinema pop. Nada de “suecar” Bergman ou CIDADÃO KANE. Conseqüentemente, não esperem um grande tratado sobre cinema e arte.

E é realmente irônico que uma fita que satiriza tanto os maus filmes, saiba fazê-lo tão bem, tornando-se um ótimo filme. É o cumulo da ironia.

Spoiler Rating: 88
LBC Rating: ~

The Yellow Handkerchief


Três improváveis companheiros, todos desajustados, saem em viagem através de uma New Orleans pós-Katrina em THE YELLOW HANDKERCHIEF (“Lenço Amarelo” em livre tradução). Refilmagem do homônimo japonês de Yôji Yamada (O SAMURAI DO ENTARDECER) de 1977 e baseado no romance de Pete Hamill.

Quatro desempenhos extraordinários fazem a transição para o EUA do cineasta Udayan Prasad. William Hurt - protagonista depois de longa temporada como coadjuvante - escora o drama com uma avassaladora performance de um ex-condenado que acaba de ser liberado da prisão por ter matado acidentalmente um homem. Maria Bello, sua ex-mulher em cenas de flashback e dois estreantes Kristen Stewart e Eddie Redmayne criam personagens inesquecíveis.

Pena que o filme seja demasiadamente lento para emplacar fora do circuito de arte. É um filme ansioso para enfatizar sua identidade regional e a fotografia de Chris Menges e a música de Eef Barzelay e Jack Livesay captam com perfeição todos os trejeitos e temperamentos desse pequeno país rasgado pelo Katrina.

É um brilhante road-movie. Mas o roteiro de Erin Dignam excede no estratagema do minimalismo, com diálogos curtos e grande polidez que choca de frente com o naturalismo do filme.

Mas os atores salvam o filme. Há uma dolorosa honestidade em todas as performances que vão além dos sentimentos, endurecidos pela vida e miséria de pessoas que nunca enxergam a solução, mesmo quando ela está bem clara na palma de suas mãos.

Spoiler Rating: 83
LBC Rating: ~

In Bruges


Quando você pensa que já viu todas as variações possíveis do gênero “hit-man”, aparece o dramaturgo irlandês Martin McDonagh que logo na estréia faz uma combinação audaciosa entre a ingenuidade do velho mundo com a ultraviolência moderna.

Em linhas gerais, entregue por um excelente elenco, o filme brinca com convenções e transcende em maior parte, os limites impostos. Mas a generosa sangria é demasiada para o público ”indie”, enquanto o engenhoso conceito não se paga em circuitos multiplex. Enfim, é um filme difícil de vender.

Depois de uma carnificina em Londres, Ray (Colin Farrell) e Ken (Brendan Gleeson) são enviados para a cidade de Bruges, na Bélgica. Ken é basicamente a babá de Ray, indicado especialmente pelo chefão da máfia - Harry (Ralph Fiennes) – até que as “coisas esfriem”.

O conceito de vândalos “cheios de sentimentos” em fuga para o esplendor medieval de uma das mais velhas cidades da Europa é fruto da inspiração de McDonagh, celebre autor de teatro, conhecido por "The Beauty Queen of Leenane" e "The Lonesome West”.

Quando Ken cai no feitiço de Bruges e torna-se filosófico; Ray encontra diversas maneiras de encontrar problemas... Em um set de filmagem na cidade, ele se encanta com a bela Chloe (Clemence Poesy), que não é a “princesinha” que aparenta ser. E como uma verdadeira oportunista ela encomenda diversas confusões para Ray resolver. Mas o problema fica realmente feio quando surge a ordem da máfia para exterminar Ray. Mesmo sendo um criminoso por toda a vida, isto certamente apresenta um dilema moral a Ken.

McDonagh é muito hábil em fermentar crueldade humana com humor. Como escritor, e agora diretor, ele entende como moldar uma cena de quilometragem máxima e mesmo assim, dar aos seus atores, diálogos ótimos para falarem. De forma inusitada, Gleeson traz uma caracterização adocicada para o papel, enquanto Farrel oscila entre o tipo chocante e simpático. E Fiennes é tão comicamente depravado que está irreconhecível.

IN BRUGES Não é um conto de fadas, tão pouco um inferno de Dante. É apenas a vida de “bad guys” descobrindo o valor da vida.

Spoiler Rating: 78
LBC Rating: ~

18.1.08

Just Another Love Story


JUST ANOTHER LOVE STORY é um suspense psicológico do diretor e roteirista dinamarquês Ole Bornedal que vence no estilo e designer mais infelizmente perde, e muito, na lógica.

O estilo – confiante, esperto, observador – joga você dentro de um brilhante e perturbador filme “noir”. Um filme certo para os cinemas de arte americano e europeu, mesmo que termine um tanto abrupto.

Em clara referência a CREPUSCULO DOS DEUSES, ao utilizar-se de um cadáver – propriamente a vítima – para narrar seu filme, Bornedal conta a historia de Jonas (Anders W. Berthelsen), o distante marido de Mette (Charlotte Fich), que surge na tela, gritando em direção ao público. Por sorte, Julia (Rebecka Hemse) entra na vida de Jonas como uma pancada. Uma péssima pancada de uma mulher distraída, que enquanto ao celular, bate inesperadamente seu carro contra o veiculo de Jonas numa estrada de Copenhagen. Ela bate a cabeça, seu carro capota e acaba em coma no hospital.

Sentindo-se culpado, Jonas espreita para o quarto de Julia, onde seus familiares o recebem como Sebastian, um novo namorado de Julia. Jonas não se esforça para corrigi-los e quando Julia acorda – convenientemente com amnésia e cegueira – ela o aceita também. Acontece que Jonas “convenientemente” trabalha na policia e descobre – convenientemente – que Sebastian está morto.

Então, Jonas assume duas vidas: A sua (confusa e miserável) e a de Sebastian (compulsiva e ardente). Ok, Jonas está em crise de meia idade, tema preferido do cinema dinamarquês, onde o herói, detestando sua vida, muda-a completamente.

A recuperação de Julia é milagrosa e ambos caem num arroubo de paixão ardente. Sua família o adora e - ela esta grávida. Mas aparentemente o filho não é de Jonas, mas de Sebastian (Nikolaj Lie Kaas) que - aparentemente – não está morto...

Bornedal constrói seu suspense de forma ordenada, com uma certa aposta emocional, uma fotografia requintada de Dan Laustsen e uma trilha solo de guitarra de Joachim Holbek. A ironia é que o roteiro descamba sempre para soluções fáceis demais, sem muito compromisso com nada. Tudo é conveniente demais. As reviravoltas são clichê demais. Mas o clímax é genuíno. É um suspense à flor-da-pele. Estiloso, mas ilógico.

Spoiler Rating: 73
LBC Rating: ~

17.1.08

I Always Wanted to Be a Gangster


Amarga, nostálgica e completamente louca, a comédia francesa de Samuel Benchetrit, I ALWAYS WANTED TO BE A GANGSTER (J'AI TOUJOURS RÊVÉ D'ÊTRE UN GANGSTER) é uma entusiasmante homenagem às antigas comédias ”pastelões” da década de 40, no melhor estilo “Abbott & Costello”.

Ele relata uma série de tentativas – todas equivocadas - de um grupo de homens dispostos a se tornarem criminosos. Franck (Edouard Baer) é um daqueles bobões com tamanho de gorila que planeja roubar um café, mas acaba acidentalmente se trancando do lado de fora de seu carro na hora da fuga... Bouli Lanners e Serge Lariviere são dois seqüestradores que resolvem levar a filha de um milionário. O que eles não sabem é que a menina, além de mimada, têm tendências suicidas...E então, um grupo de velhos ladrões aposentados resolve fazer um último assalto a banco. O fato é que o banco que eles roubaram, há 25 anos, não é mais o mesmo...

A única ligação entre cada história é um pequeno café nos subúrbios de Paris. Mas Benchetrit tece sua trama de forma tão inteligente que o filme não parece construído em episódios e pelo contrário flui naturalmente. Têm mais um pequeno detalhe: O filme é mudo com roteiro em entretítulos.

Sem problemas. O excelente elenco dá conta do recado num filme que deixa saudades. Os personagens são tão apaixonantes que, no fundo, você não quer abandoná-los. É uma péssima companhia, eu sei, mas extremante agradável.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

Nothing is Private


Preconceito e alienação, sensibilidade e violência. Temas comuns a Allan Ball, outrora roteirista de BELEZA AMERICANA e A SETE PALMOS que estréia na direção de NOTHING IS PRIVATE num perturbador retrato da classe média americana dos anos 80. Um exame minucioso de segredinhos sujos que espreitam além de gramados verdejantes e bem aparados.

Sob pano de fundo da primeira guerra do Iraque, mas abordando espectadores aparentemente distantes do conflito, o filme revela as raízes do desejo e as faíscas da intolerância racial. Corre o ano de 91 e Saddam Hussein acaba de invadir o Kuwait. A entrada dos EUA na guerra parece iminente. Enquanto isso, em Houston, Texas, a jovem Jasira (Summer Bishil) é chamada na escola de cabeça-de-toalha, negra de areia e jóquei de camelo. Descendente de árabes e irlandeses, ela mora com o pai, um libanês que trabalha para a Nasa. De temperamento explosivo e com idéias rígidas e preconceituosas, ele mantém a filha sob um regime de medo, tornando indistintas para ela as fronteiras entre o sexo e o amor.

Negligenciada e solitária, ela atrai os olhares do vizinho (Aaron Eckhart), um militar da reserva cuja falta de escrúpulos só é ombreada por seu patriotismo fervoroso. Entre os dois se estabelece um jogo de lances perigosos e conseqüências imprevisíveis, em que a pureza se mistura à obsessão sexual, a mentira à desilusão.

Peter Macdissi rouba o filme como o arrogante pai de Jasira. É uma criação completamente original, uma espécie de Borat mais comedido. Destaque também para a câmera de Newton Thomas Sigel que captura cada nuance incômodo.

E como o titulo sugere, todos nesse beco sem saída interferem nos negócios alheios. Nada é privado. Tudo é publico. Polêmicas à parte, Allan Ball orquestra todos esses egos com grande maturidade. É certamente uma estréia promissora.

Spoiler Rating: 76
LBC Rating: ~
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SoSuechtig,Burajiru