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7.3.08

Os Falsários

OS FALSÁRIOS (THE COUNTERFEITERS/DIE FALSCHER) é um filme que remonta aos tempos da segunda guerra mundial. De origem austríaca, este excelente trabalho do diretor Stefan Ruzowitzky conta a história verídica de Solomon Soeowitsch que em 1936 era considerado o rei das falsificações e portanto muito requisitado por muitos vigaristas de Berlim.

Infelizmente, tal fama não ajudou muito e ele teve que lidar com a temível Gestapo de Hitler. Sendo judeu e criminoso, foi preso e levado para um campo de concentração. Graças aos seus talentos únicos foi poupado da temível câmara de gás, desde que colaborasse com os nazistas numa mega operação que envolvia outros falsificadores de renome e que consistia em produzir séries de notas para alimentar a guerra. Obviamente que Solomon e os outros estavam perante um dilema moral: Se não ajudassem os seus inimigos eram mortos sem piedade mas se ajudassem prolongariam a guerra e compactuariam com a morte de milhares de pessoas.

Houve muitos filmes sobre o Holocausto como pano de fundo, contudo OS FALSÁRIOS aborda o tema de modo diferente. Aqui, não se foca especificamente o triste e horrível ato que foi o holocausto mas sim um momento especifico, uma operação que apesar de muito badalada raramente foi mencionada em filmes ou documentários. É uma história que no fundo tem como objetivo contar a estória desse grupo de prisioneiros e os dilemas morais que tiveram de enfrentar, refletindo apenas em alguns traços as atrocidades da época.

O filme é um verossímil retrato humano, de uma década de abstração de regras onde a lei do mais forte imperava, onde nem mesmo os vigaristas estavam a salvo de uma tirania superior. Contem algumas seqüências bastante duras mas que evidenciam da melhor forma possível a violência e a crueldade daqueles tempos, contudo acaba por ser uma das representações do holocausto mais fáceis de digerir não focando excessivamente nem exaustivamente o extermínio dos judeus, logo é uma versão mais simples e não tanto explicita.

Em tempos negros e de aflição, até os ladrões têm honra e são capazes de ter valores positivos, esta é a mensagem principal. O filme levou (com certo louvor) o Oscar de Filme Estrangeiro.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

A Outra


Baseado no best-seller de Philippa Gregory, A OUTRA é uma fascinante e sensual história de intriga, romance e traição, tendo como pano de fundo um momento chave da realeza britânica.

Duas irmãs, Ana (Natalie Portman) e Maria (Scarlett Johansson) Bolena, são manipuladas pelos seus ambiciosos pai e tio para reforçar o poder e status da família, através da conquista dos favores do Rei de Inglaterra (Eric Bana). Abandonando a simplicidade da vida no campo, ambas entram na perigosa e excitante vida da corte - e, o que começa como uma simples iniciativa para ajudar a família, torna-se numa rivalidade impiedosa entre Ana e Maria pelo amor do Rei.

Inicialmente, Maria ganha os favores de Henrique VIII e torna-se sua amante, dando-lhe dois filhos ilegítimos. Mas Ana, esperta, intriguista e destemida, consegue afastar tanto a sua irmã como a mulher do Rei, a Rainha Catarina de Aragão. Embora os sentimentos de Maria por Henrique sejam genuínos, a sua irmã Ana tem os olhos postos no grande prêmio: Ser Rainha da Inglaterra. E enquanto as irmãs lutam pelo amor do Rei - uma levada pela ambição, outra pela afeição genuína - a Inglaterra divide-se.

Tanto livro e filme são baseados em fatos verídicos e mantêm-se fieis ao contexto histórico. O roteiro minucioso de Peter Morgan (A RAINHA), perito nos filmes do gênero, contribui e muito para a imersão no filme do estreante Justin Chadwick
Mas o filme se sustenta apenas no foco romântico. Deixando de lado outras questões importantes como a personalidade do Rei Henrique VIII, o que ele representou para a Inglaterra e os grandes problemas religiosos e políticos do seu reinado. Basicamente, a história inglesa serve como mero pano de fundo para a intriga amorosa, com algumas leves referencias à alguns problemas ingleses.

Natalie Portman é o grande destaque do elenco. Sua interpretação é malévola e calculista. Scarlett Johanson aparece um pouco aquém das expectativas e Eric Bana simplesmente está perdido no filme.

O conceito é convencional mas eficaz. Justin Chadwick peca um pouco por sua experiência em televisão mas no fundo, A OUTRA é um bom romance repleto de intrigas romântica e jogadas.

Spoiler Rating: 73
LBC Rating: ~

14.2.08

Cherry Blossoms - Hanami


Um filme alemão de baixo orçamento promete ser um dos maiores sucessos do ano. CHERRY BLOSSOMS – HANAMI (Flores de Cerejeira - Hanami) foi apresentado em competição em Berlim e nele a conhecida diretora Doris Dörrie ajudou a fazer praticamente de tudo na produção. O principal suporte artístico do filme está na extraordinária interpretação de Hannelore Elsner. O seu par no filme é também o ótimo (e desconhecido em cinema) Elmar Wepper, que Doris Dörrie foi buscar da televisão onde atuava em produções igualmente baratas.

O curso da história é muito comovente ao mesmo tempo em que faz críticas ácidas ao jeito do ser alemão, em especial sobre os alemães da Bavária, considerados mais metódicos e tradicionalistas. Quem quiser pode ver também referências ao passado alemão nazista, onde a Bavária foi o principal ‘berçário’, e cujo cinema mitificava os símbolos derivados das montanhas. O fetiche da montanha é transferido aqui ao monte Fuji do Japão.

Começa o filme com um médico revelando a uma mulher que o seu marido está com uma doença terminal. Ela não vai contar nada para o marido. Vai tentar estimulá-lo a realizar seus últimos sonhos enquanto é tempo. Aí entra o espírito alemão, regrado, metódico. Ele prefere esperar mais um ano até se aposentar. E "montanha por montanha, na Bavária também as temos, para que ir ao Fuji, mesmo que seja a pretexto de ver o filho que está lá a trabalho?", ele argumenta.

Aos poucos vamos entrando nesta viagem iniciática. A primeira viagem que ele aceita fazer é para Berlim, onde vivem seus dois outros filhos e netos. Os pais, Trudi e Rudi, são considerados um estorvo para os filhos e ninguém tem tempo para sair com eles. Mas Trudi consegue ao menos ver uma performance de teatro Butô, que ela adora e Rudi não suporta. É quando acontece o inesperado. Na segunda viagem que ele aceita fazer com a mulher, ir a um hotel beira-mar no Báltico, Trudi morre. Que ninguém fique zangado com a leitura deste resumo. A própria Doris Dörrie é quem revela estes acontecimentos na sinopse do filme.

O que realmente está em questão são os elementos emocionais que o espectador irá compor a partir de então. Com Rudi sozinho, sem saber que também está para morrer, ele decide viajar finalmente ao Japão. Mais para realizar o desejo da mulher já morta, do que para ver o filho. Veremos então a transformação de um homem seco e rude em um ser emocional que aos poucos irá perceber o que fez de errado e estúpido na vida. Coisa rara na vida de pessoas que envelhecem aguçando mais que tudo suas contradições. Por isso a comoção que provoca nos espectadores.

O estímulo de Doris Dörrie é como dizer "faça antes de seja tarde". E o tratamento respeitoso que ela dá à cultura japonesa, mesmo sendo crítica, corrige os desvios do filme anterior de choques culturais com o Japão, a comédia de Sofia Coppola ENCONTROS E DESENCONTROS. Mas o filme alemão também é cruelmente realista. As últimas palavras dos filhos sobre os seus pais fazem ver que os ciclos de insensibilidade seguem se repetindo. Mesmo que o jeito de mistificar uma montanha em nossos dias seja distinto.

Spoiler Rating: 75
LBC Rating: ~

Por Leon Cakoff

Caos Calmo


CAOS CALMO não seria o novo filme de Nanni Moretti. Foi dirigido por Antonello Grimaldi e adapta um romance de Sandro Varonesi, mas poderia ser.

A fita de Antonello Grimaldi é uma espécie de “variação” sobre a matriz do luto e da dor dO QUARTO DO FILHO. Poderia se chamar O BANCO DO PAI, porque é num banco de jardim que Moretti passa o filme, como um executivo de televisão, cuja mulher morreu inesperadamente. Ele internaliza o vazio passando os dias sentado no tal banco de jardim.

É uma espécie de “Moretti light”, igualmente inteligente no modo como trabalha com sutileza a convenção do melodrama, mas um pouco convencional, mais enfabulado e menos inspirado - talvez seja injusto fazer a comparação, mas a presença do ator/diretor no papel principal (bem como sua colaboração no roteiro) a torna inevitável.

E a verdade é que o filme de Antonello Grimaldi não desmerece os pergaminhos de seu ator, atento e generoso, impecável na placidez do seu homem que reage à maior dor da sua vida recolhendo-se para dentro de sua concha. Sem dúvida, é um filme que merece um olhar mais atento.

Spoiler Rating: 82
LBC Rating: ~

13.2.08

Standard Operating Procedure


Depois que fotos dos abusos cometidos pelo Exército americano com prisioneiros de Abu Ghraib (Iraque) se tornaram um escândalo internacional, uma investigação determinada pelo governo dos EUA separou-as em dois grupos.

De um lado, ficaram as que configuravam inegavelmente um ato criminoso, caso das imagens de abuso sexual. Na outra parcela foram parar as fotos com práticas consideradas aceitáveis nos padrões de interrogatórios. Eram as cenas de operação padrão (STANDARD OPERATING PROCEDURE), expressão que o cineasta Errol Morris tomou como título de seu novo documentário, sobre os eventos de Abu Ghraib.

O filme foi exibido em competição no Festival de Berlim e é provavelmente o mais impactante título da disputa. Morris entrevista alguns dos principais personagens (abusadores) das fotos, que foram julgados, condenados, cumpriram sentença por seus crimes e hoje estão livres.

Eles comentam suas vidas antes, durante e depois de Abu Ghraib. A soldado Lynndie England, célebre pela pose em que subjuga um prisioneiro nu, atado a uma coleira, diz que tomou parte nos abusos porque estava cega de amor.

England namorava o soldado Charles Garner, apontado como mentor dos abusos. Condenado a dez anos de prisão, Garner é proibido pelo governo dos EUA de dar entrevistas, conforme informa o filme. "Garner sabia falar o que você queria ouvir. Eu tinha 20 anos, e ele, 39. Ou seja, 19 anos de experiência a mais do que eu", afirma England no filme.

A soldado Sabrina Harman comenta uma "operação padrão" que ela conduziu e registrou em foto. Ela coloca o preso encapuzado de pé sobre um caixote de madeira e ata fios às suas mãos. Avisa que, se ele descer do caixote, será automaticamente eletrocutado. "É garantido que ele continuaria ali, de pé. Mas os fios não estavam ligados à energia. Eram só palavras", diz.

Trechos do diário que Harman mantinha em Abu Ghraib e seguiu escrevendo durante seu processo pontuam o filme, lidos por ela, que não se arrepende, mas desabafa: "O foda disso tudo é que todo mundo [no Exército] sabia de tudo".

Morris fez um documentário em que os abusos de Abu Ghraib são narrados em primeira pessoa. E fez também um filme sobre como os sujeitos mais graduados dessa história mantiveram-se ocultos.

Spoiler Rating: 90
LBC Rating: ~

Por Silvana Arantes (Folha de São Paulo)

12.2.08

Happy-Go-Lucky


HAPPY-GO-LUCKY é o nome do filme de Mike Leigh - Uma expressão idiomática britânica que descreve o tipo de pessoas que passam pela vida sem preocupação, sem problemas, sem "ralação", como se vivessem no melhor dos mundos.

E Poppy é assim: Uma professora solteira em Londres que nunca se contagia pelo mau-humor de seu rabugento diretor, sua dominadora professora de flamenco, um balconista mal-humorado numa livraria ou sua irmã, grávida e infeliz. Sempre vestida de cores berrantes, sacolas friques, brincos vermelhões e botas de pele de cobra, ela anda por Londres como quem salta por campos floridos. E quando lhe roubam a bicicleta (logo no começo do filme) o pior que ela consegue dizer: "Ora bolas. Nem tive tempo de me despedir dela."

Poppy tem tudo para nos irritar - Como é possível que alguém seja tão irresponsável? Pensamos que Mike Leigh, cansado do niilismo rebarbado de seus filmes anteriores, começa a envelhecer... Mas não vale a pena... No final, percebe-se que Leigh não envelheceu, nem ficou sentimental

O segredo é que a aparente cabeça no ar de Poppy mascara os pés bem assentados na terra. É uma estratégia de sobrevivência tão válida como qualquer outra: Aproveitar cada dia, ver sempre o lado bom das coisas, deixar-se deslumbrar pelos pequenos nadas do quotidiano. De cabeça levantada e sorriso nos lábios.

Poppy é Sally Hawkins que brilha muito, muito, muito alto com uma interpretação extraordinária que escora todo o filme sem esforço. À sua volta temos o habitual círculo de coadjuvantes impecáveis. E, como no melhor Leigh, temos a sensação de não assistir um filme mas sim o cotidiano; não vemos personagens, mas gente de carne e osso.

Spoiler Rating: 90
LBC Rating: ~

Plus Tard Tu Comprendras


A atriz francesa Jeanne Moreau, 80 anos, diz que trabalhar em seu novo filme sobre a luta de uma família para falar do Holocausto trouxe de volta memórias de sua própria infância durante a ocupação nazista.

PLUS TARD TU COMPRENDRAS ("Mais Tarde Você Entenderá"), do diretor israelense Amos Gitai, conta a história de Victor, um homem de meia idade que tenta convencer sua mãe (Moreau) a falar sobre sua infância e a morte de seus pais em Auschwitz.

"Foi muito intenso", disse a elegante Moreau. "Eu nasci em 1928. Vivi a ocupação. Na escola, eu tinha amigas que usavam a estrela amarela na roupa e que desapareceram. Isso fazia parte do cotidiano."

Sua personagem no filme, Rivka, tem dificuldade em colocar em palavras o horror do passado, apesar de seu filho pressioná-la para isso.

Uma cena inicial mostra Rivka em 1987, preparando uma refeição enquanto a televisão mostra o julgamento de Klaus Barbie, o "açougueiro de Lyon", considerado responsável pela tortura e morte de centenas de civis na era nazista, quando foi chefe da Gestapo em Lyon.

O filho de Rivka, Victor, acompanha o julgamento pelo rádio em seu trabalho. Mas, quando mãe e filho se encontram para jantar no apartamento de Rivka, no mesmo dia, o assunto do julgamento vira tabu.

O escritor Jerome Clement, cujo romance autobiográfico serviu de base para o filme, disse que este mostra como gerações diferentes se esforçam para encarar determinados capítulos do passado.

"Não é uma história da guerra. É uma história de hoje. Uma história do silêncio, sobre como, após a guerra, os pais não quiseram falar sobre certas coisas, e sobre como falamos com nossos próprios filhos, hoje", disse ele.

Enquanto Victor e Rivka se esquivam da questão da morte pavorosa dos pais dela, o filme também mostra como o resto da sociedade francesa encarou esse capítulo na história do país.

O ex-presidente Jacques Chirac reconheceu oficialmente em 1995, pela primeira vez, a cumplicidade francesa na deportação de judeus durante a guerra. Mas foi apenas após uma decisão judicial de 2001 que se tornou possível processar as autoridades francesas, pedindo indenização.

Amos Gitai disse que a questão da colaboração de franceses com os nazistas não foi muito tratada no cinema francês até hoje. "Se este filme puder contribuir para que esse assunto seja aberto, será bom. Seria tarde, mas nunca é tarde demais."

Spoiler Rating: 70
LBC Rating: ~

Da Agência Reuters

My Winnipeg


Para o cineasta autodidata e professor universitário Guy Maddin, o tempo não afeta o cinema. Pelo menos não o seu cinema que segue fiel às linguagens experimentadas pelos pioneiros na virada do século 19 para o 20. O tempo, nos filmes de Maddin tem influência e decisão somente sobre as questões da memória. E é este precioso elemento que dá vida aos seus filmes quase mudos. Desta vez, Guy Maddin ousou ainda mais ao narrar ao vivo o próprio filme MY WINNIPEG.

No ano passado Guy Maddin ousou igual com o longa BRAND UPON THE BRAIN!, que teve em Berlim a narração de Isabella Rossellini e, em São Paulo, ainda melhor, de Marília Gabriela. Rossellini, aliada ao produtor de Guy Maddin, Jodi Shapiro, abriu a sessão de MY WINNIPEG com uma série de curtas GREEN PORNO, com sátiras bem humoradas sobre a vida sexual dos insetos.

Winnipeg é a cidade natal de Maddin. "Antes de se falar em mudança climática, Winnipeg era considerada a segunda cidade mais fria do mundo; espero que volte a ser de novo com a Sibéria uma das primeiras cidades congeladas", disse o cineasta depois da exibição do filme em Premiere em Berlim. Mas não é só do frio que MY WINNIPEG tem saudades. Como sempre Guy Maddin faz um filme triste e espirituoso como quem alerta também sobre os malefícios da velocidade que altera o tempo natural das coisas e das cidades que se imolam com símbolos da modernidade. Maddin reclama da ausência dos valores simples da vida e, sobretudo, da perda de inocências. Com o seu cinema único ele sugere resgatar a simplicidade da vida olhando para as gerações passadas, com respeito à natureza, à memória e aos sentimentos como valores essenciais e suficientes. Guy Maddin, mais que um cineasta narrando ao vivo seu filme no palco do antigo cine Delphi, mostrou-se um comovente missionário.

Spoiler Rating: 88
LBC Rating: ~

Por Leon Cakoff

Sparrow


Que outro diretor ousaria fazer um filme policial em que a música substitui o diálogo, tudo fica por explicar no fim e o público ainda sai com um sorriso idiota de felicidade?

Pois assim é Johnnie To. E assim é seu cinema, cuja filmografia competiu nos últimos 12 meses nos três principais festivais de cinema: SPARROW (Em Berlim), TRIANGLE (Em Cannes) e MAD DETECTIVE (Em Veneza). E SPARROW é o mais deslumbrante momento de cinema que Berlim viu esse ano.

SPARROW é a cristalização de uma ideia: Puro fluir, Puro movimento, Pura narrativa visual. Mais: o domínio escandalosamente virtuoso que Johnnie To tem do écrã panorâmico, a precisão da sua encenação faz de SPARROW uma espécie de bailado cinético coreografado ao milímetro, herdeiro direto dos grandes musicais escapistas da MGM. Embora não haja canções. Nem bailados. Mas há muita música (uma espécie de sinfonia lounge-retro a cargo de Xavier Jamaux e Fred Avril) - e To nos dá também muita música.

Uma música que faz nos interessar por uma história que praticamente não existe e serve apenas de pretexto para uma série de "tours-de-force" visuais de cortar a respiração. SPARROW ("Pardal") é um cartão postal nostálgico de Hong Kong.

O filme, em competição em Berlim, trata de um bando de batedores de carteiras liderados por Kei, que se fascinam por uma jovem, bela e misteriosa, que está sempre fugindo de alguém. Quando descobrem que ela foge de um grande chefão da máfia, não conseguem resistir à tentação de ajudá-la, não importando o risco.

SPARROW é um cinema raro com heróis e vilões e mulheres fatais. É Fred Astaire deixado à solta numa Hong Kong tão artificial como se tivesse sido reconstituída em Hollywood, filmada como Steven Soderbergh a homenagear Vincente Minnelli: elegância, leveza, graça, agilidade, descontração, deslumbramento. É uma sensação de permanente deslumbramento - como se Johnnie To estivesse a inventar o cinema à nossa frente. Não está, mas não faz mal: o que interessa é a imagem.

Spoiler Rating: 87
LBC Rating: ~

11.2.08

CSNY, Déjà Vu


A música em Berlinale não foi só Rolling Stones. Muito longe dos holofotes da fama e das capas dos jornais, passou em Berlim um tal de Bernard Shakey, um dos maiores compositores de toda a história do rock.

Bernard Shakey é o pseudonimo que Neil Young usa quando decide, de tempos em tempos, brincar de cinema. CSNY, DÉJÀ VU é, muito sucintamente, uma "collage" de imagens da bombástica turnê que os Crosby, Stills, Nash & Young fizeram em 2006 contra a Guerra do Iraque e o presidente Bush. Também sexagenários, como os Stones, os CSNY (David Crosby, Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young) foram à estrada com sua turnê, declarando guerra aberta ao governo de Washington, recuperando velhas canções anti-guerra do Vietnã misturadas com canções recentes, como a muito sugestiva "Let's Impeach the President", escrita em 2006 por Neil Young para o seu álbum de estúdio "Living With War".

O filme é o que é, sem muitas pretensões. Diz o que tem a dizer sem papas na língua, como Young sempre o fez. É suficientemente educado e democrático para deixar no ecrã a divisão do público que a turnê provocou nos EUA e suficientemente terno para dar a perceber que os CSNY serão adorados pela América para sempre.

Spoiler Rating: 63
LBC Rating: ~

Por Francisco Ferreira (Expresso)

Gardens of the Night


Leslie está em San Diego, California, é uma adolescente de 15 anos e com medo, se dirige a um centro de abrigo. Ao funcionário do centro (John Malkovich), ela diz que não vê os pais desde os 8 anos e fala de um tio, Alex, e de um irmão, Donnie. O "flashback" é terrível e vem logo depois, esclarecendo o mistério: Alex, afinal, é um "falso tio". Um pedófilo que raptou Leslie a caminho da escola quando ela tinha 8 anos, convencendo-a que seus pais não a queriam ver mais.

E assim, dos 8 aos 15, Leslie será escrava dessa rede de pedofilia que o filme se encarrega de mostrar e exibir em todas as suas nuances, tornando-se obsceno demais para o público que já estarrecido pelo tema, se choca mais ainda com as cenas ardentes.

É claro que tudo pode ser filmado pelo cinema, mesmo algo tão repugnante como a pedofilia: Tudo depende de como se filma. Damian Harris quis deixar um documento de denúncia sobre crianças raptadas nos EUA e redes de pedofilia, sublinha as suas boas intenções, defende-se com realidade (foi isso o que fez na conferência de imprensa) mas o "olhem, isto existe!" não chega.

GARDENS OF THE NIGHT é, afinal, um filme lamentável, com um olhar tão sórdido quanto o seu tema.

Spoiler Rating: 69
LBC Rating: ~

Por Francisco Ferreira (Expresso)

Julia


JULIA do francês Erick Zonca apresenta uma perseguição policial repleta de ritmo e drama. Esse é o segundo filme assinado por Zonca, dez anos após A VIDA SONHADA DOS ANJOS, um retrato desencantado e perturbando de dois jovens, que deu a Natacha Régnier e Elodie Bouchez o prêmio de interpretação feminina no Festival de Cannes.

A britânica Tilda Swinton, indicada para o Oscar de melhor atriz coadjuvante por CONDUTA DE RISCO, vive o personagem-título do filme, uma comédia dramática que dá lugar a um thriller quando uma mulher que já foi bela e sedutora, mas que se encontra à beira de um colapso físico devido ao alcoolismo - papel que cai como uma luva a Swinton -, seqüestra e maltrata uma criança de oito anos, de mãe mexicana. Kate del Castillo é a mãe que, após perder a guarda do filho também devido ao alcoolismo, pede a Swinton que o seqüestre.

As duas se conhecem em sessões de alcoólatras anônimos e a princípio não simpatizam uma com a outra, a não ser por um motivo: cada uma vê na outra um meio - para ganhar dinheiro e recuperar a criança - respectivamente.

Zonca foi duramente criticado na entrevista coletiva em relação à originalidade do filme, tido por alguns especialistas como derivado de GLORIA, de John Cassavetes. O filme é um fiasco completo, mesmo assim, Swinton salva várias cenas, decidida a ganhar um Oscar.

Spoiler Rating: 67
LBC Rating: ~

Das Agências EFE e AFP

Lake Tahoe


Tudo começa com um carro que bate num poste e um motorista adolescente que vai à procura de uma mecânico para o consertar. Daí em diante, temos uma odisseia burlesca em câmara lenta quase-quase-parada onde nada parece acontecer.

LAKE TAHOE, segundo filme do mexicano Fernando Eimbcke (TEMPORADA DE PATOS), é um daqueles filmes que nenhum distribuidor sabe como vender... Os diálogos são monossilábicos e a câmera fica estática durante 99,99% do tempo.

É uma receita para o desastre ou para a seca. Mas nas mãos de Fernando Eimbcke, é uma revelação. Nada nos 85 minutos do filme é casual, tudo faz parte do empenho de refletir como cada um transporta sua dor.

A mão da mãe aparecendo atrás da cortina da banheira, fumando, chorando e rodeada de álbuns de família, bastam a Eimbcke para refletir o desespero da mulher. Para a projeção no cinema do bairro de um filme de Bruce Lee, o diretor recorre a outra representação mínima: a tela escura, com os ruídos de kung-fu ao fundo.

E assim Eimbcke retorna à Berlim com sucesso. Uma cidade que havia visitado antes, como convidado do Talent Campus, oficina para jovens, onde rodou seu primeiro longa. Berlim não errou em convidá-lo...

Spoiler Rating: 82
LBC Rating: ~

Da Agência EFE

Elegy


ELEGY tem direção da espanhola Isabel Coixet e conta com a musa Penelope Cruz no elenco. Aqui ela faz o papel de Consuelo, uma rica estudante, filha de cubanos exilados nos EUA, que se apaixona por seu professor de literatura (Ben Kingsley), trinta anos mais velho.

Como Almodóvar em VOLVER, Coixet faz de Cruz uma atriz muito mais radiante e sedutora na tela. E como se fosse uma confidência entre amigas, o ambiente escuro e paranóico da casa do professor serve para desinibir Penélope fazendo cair o queixo do espectador com tanta generosidade íntima. A atriz é comparada a "Maya Desnuda", do famoso quadro de Velázquez. Seus seios são cantados como os mais lindos do mundo e um dos quadros abusa do ridículo ao imitar revistas masculinas. A atriz aparece despida, de bruços, enquanto a câmera passeia sua lascívia por seu corpo até... terminar nos seus pés que calçam sapatos de saltos finos cor de vinho.

Quem leu o livro do americano Philip Roth ("The Dying Animal") diz que o original é mais picante. Ben Kingsley e Dennis Hopper interpretam dois amigos que se aconselham o tempo todo como agir com mulheres, mas nenhum segue o conselho do outro. E eles também estão ótimos no filme de Coixet. O professor imagina sempre que vai perder a namorada e o complexo da idade começa a corroer a sua mente. A reviravolta final, bem do estilo da diretora, segue parecendo uma boa oportunidade para alçar ainda mais Penélope Cruz ao altar das grandes musas do cinema.

ELEGY não consegue evitar um certo ar burguês acomodado, mas há pequenos papéis cruciais de Peter Sarsgaard, Patricia Clarkson e Dennis Hopper, um sábio uso da trilha musical (muito Bach e Satie) e, sobretudo, há Ben Kingsley...

Spoiler Rating: 70
LBC Rating: ~

Por Leon Cakoff e Agência Reuters

10.2.08

Black Ice


Todo ano Berlim inclui na seleção oficial filmes sobre casais disfuncionais, para discutir relações amorosas e familiares. MUSTA JÄÄ (BLACK ICE), do finlandês Petri Jotwica, é sobre um triângulo amoroso. Um filme, no qual o motor da ação são as mulheres, enquanto os homens estão subordinados à sua vontade...

Trata-se de uma mulher de 40 anos traída pelo marido que, ao descobrir o caso dele com uma jovem aluna, finge ser outra pessoa, tornando-se a melhor amiga da amante, onde passa a manipular a vida dos dois.

Em coletiva, o diretor comentou que sempre buscou uma identidade entre o público e a personagem que, de início, parece odiosa. Mas os aplausos reduzidos e meramente protocolares que o filme recebeu dão a medida de um filme decepcionante, para se dizer o mínimo.

Spoiler Rating: 75
LBC Rating: ~

In Love We Trust


O drama na vida de um casal de meia-idade ZUO YOU (IN LOVE WE TRUST ou LEFT/RIGHT) de Wang Xiaoshuai (BICICLETAS DE PEQUIM) teve Premiere Mundial em Berlim, durante sua 58º Edição.

No filme, os personagens "vêem suas vidas invadidas pela catástrofe", conforme define o diretor, no momento em que a garota Hehe (Zhang Chuqian), de cinco anos, é diagnosticada com leucemia. A esperança de cura reside num transplante de medula. Mas há um problema: Divorciados desde que a filha era bebê - e vivendo em novos casamentos -, os pais de Hehe descobrem que não são doadores compatíveis.

A mãe decide engravidar novamente do pai de Hehe, com o intuito de que o irmão seja o doador da filha. Com a restrição do número de filhos permitidos por casal vigente na China, se tiver uma segunda criança com seu ex-marido, a mãe de Hehe não poderá dar ao atual marido o filho que ele quer.

O impacto dessa decisão no quadrilátero amoroso interessa mais ao diretor chinês do que o drama da personagem com a vida em risco. "Não quis mostrar brigas e exaltações no filme, porque é o que eu mais procuro evitar na minha vida. Acho que a solução do conflito pode se dar pela via do amor”. A história é digna de uma novela de Manoel Carlos, mas na corda-bamba da emoção, o diretor consegue tratar com sutileza uma realidade chinesa.

Spoiler Rating: 71
LBC Rating: ~

Por Luiz Zanin Oricchio (Estado), Silvana Arantes (Folha) e Agências Internacionais

8.2.08

Shine a Light


SHINE A LIGHT é basicamente um show filmado. Um filme que tem qualidades para agradar mesmo quem não seja fã do cineasta norte-americano ou da banda inglesa - se existir alguém assim...

Em torno do show que os Stones fizeram no Beacon Theatre em Nova York, Scorsese acrescentou elementos de suspense, de história, de humor e até de intriga -principalmente na rivalidade entre os guitarristas Keith Richards e Ronnie Woods.

Começa com imagens em preto-e-branco de Scorsese no Beacon Theatre e de Jagger num escritório, em Londres, paralelamente. Enquanto o diretor estuda onde posicionar as câmeras, Jagger diz, vendo a maquete do teatro: "Parece uma casa de bonecas". De fato, com “apenas” 2.400 lugares, o Beacon Theatre é pequeno demais para uma banda habituada a platéias de milhões. E as "desavenças" entre os Stones e Scorsese sobre locais e músicas ocupam a primeira parte do filme, que logo depois se torna colorido.

E é numa das cenas iniciais, no quarto de hotel que Mick Jagger cantarola: “Quero champanhe/quando estou com sede”. Mais tarde, “Champagne and Refresh” será o mais vibrante dos números, um diálogo de guitarras no palco que inclui a participação de Buddy Guy. Não há nada parecido! Não é a performance ao vivo, mas Scorsese com uma epopéia de câmeras e tomadas e cenas e planos e frames, justamente para tentar captar toda a eletricidade de um show ao vivo. E por isso mesmo, o filme, como insinua a sinopse, não é um show dos Stones, mas um filme de Scorsese. E acima disso, um tributo à longevidade da banda e do próprio diretor.

Spoiler Rating: 83
LBC Rating: ~

Por Luiz Zanin Oricchio (Estado), Silvana Arantes (Folha) e Agências Internacionais

27.1.08

Sunshine Cleaning


A idéia por trás de SUNSHINE CLEANING – duas irmãs aproveitando uma oportunidade de negocio em limpar cenas de crime e remover produtos químicos perigosos – soa como uma ótima comedia de humor negro. Mas a diretora neozelandesa Christine Jeffs (SYLVIA) e o roteirista Megan Holly tiveram outras idéias... Esse estranho serviço é um ótimo trampolim para se explorar o autovalor, a solidão, e a aceitação. Ainda é comedia, mas talvez, mais cinza do que negra.

Amy Adams e Emily Blunt são duas atrizes em plena curva ascendente. São atraentes, divertidas e seu emparelhamento no filme é um toque de gênio. Com um marketing certo pode surpreender com algum premio.

O filme começa com cada uma com problemas. Rose (Adams), uma popular cheerleader de torcida que vê suas opções se limitar depois dos 30, aceita um trabalho patético como faxineira na casa do seu ex-namorado Mac (Steve Zahn), que agora é casado. Suas ambições só perdem para sua irmã Norah (Blunt), que vive as custas de seu pai Joe (Alan Arkin) e se distrai com drogas e um noivo frouxo.

Mac, que é policial, sucinta a hipotese de Rose fazer dinheiro limpando cenas de crime. E então, Rose arrasta Norah consigo nesse inusitado negocio que cresce vertiginosamente, tal a ânsia do povo de se livrar do sangue, miolos e outros inconvenientes.

O filme não explora as cenas de crime com muita comedia. De fato são cenas fortes: Rose conforta uma mulher cujo marido cometeu suicídio. Norah localiza uma filha em decomposição para dar a mãe algum consolo. E pela primeira vez em suas vidas, as mulheres realmente sentem que estão ajudando as pessoas. É como se limpar a bagunça de outras pessoas tenha uma tônica psicológica.

A química de Adams e Blunt é perfeita, produzindo vários momentos cômicos. Arkin interpreta um personagem que particularmente é sua especialidade. E assim, SUNSHINE CLEANING promete, e muito, ser o novo Miss Sunshine do ano.

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: ~

The Mysteries of Pittsburg


THE MYSTERIES OF PITTSBURGH, dirigido e escrito por Rawson Marshall Thurber, é uma adaptação do best seller de Michael Chabon (no Brasil, chamado de "Usina de Sonhos") sobre a arte na juventude, a exploração sexual e a cidade de Pittsburgh. Aqui, a cineasta capturou toda a essência de amadurecimento do personagem. Obviamente, o livro é melhor, mas ainda assim é uma boa adaptação feita com habilidade e narrativa inteligente.

É complicado adaptar uma historia onde o protagonista é antes de tudo, um observador. Um “gentleman” que pela própria natureza prefere se reservar da ação. O filme é, basicamente, uma estória de formação. Trata de um grupo de jovens Art Bechstein (Jon Foster), Phlox Lombardi (Mena Suvari) e Arthur Lecomte (Peter Sarsgaard) descobrindo o mundo. Seja racionalizando a arte, seja explorando sua sexualidade.


Infelizmente, a fotografia dispersa um pouco o foco da historia. É como se tudo fosse um grande calendário para agência de viagens da Pensilvânia. Sua ferrugem dourada e enquadramento romântico são saturados demais. Pouco natural.

Mas o grande destaque de MYSTERIES OF PITTSBURGH fica por conta dos atores que estimulam o filme para uma dimensão além da emoção e sentimentalismo fácil. Jon Foster está soberbo como o jovem Art, evidenciando seus conflitos adolescentes com um senso de ruína. No papel mais exibicionista da película, está Peter Sarsgaard, um inferno de carisma e petulância. Ele simplesmente monopoliza a fita, hipnotizando todos os olhares para si, incluindo sua namorada (Jane Bellwether). Outras performances consistentes são de Mena Suvari como uma simpática balconista com baixa-estima e Nick Nolte como um pai “carnívoro por arte”

No geral é um filme bem feito, um pouco romantizado demais. Mas consistente.

Spoiler Rating: 70
LBC Rating: ~

26.1.08

Máncora


Um drama tenso carregado de sexo ardente e desejos ilícitos, MÁNCORA de Ricardo de Montreuil representa um notável trabalho do, ainda, estudante de cinema peruano.

O interessante elenco, as locações sedutoras e o estilo visual fluido englobam recursos de sobra para uma grande promessa de bilheteria, como foi sua estréia na direção com LA MUJER DE MI HERMANO em 2006.

O deprimido Santiago "Santi" Pautrat (Jason Day), jovem de 21 anos, precisa conviver com o fato que seu pai – um velho cantor esquecido – pula de uma ponte para a morte, deixando ao seu filho, apenas a culpa. Santi se lastima por não ter passado mais tempo com seu pai, e fica pior quando desiste dos estudos na universidade e sua namorada termina o relacionamento.

Perder seu emprego é a gota dágua e nada mais, portanto, lhe prende em Lima. Então Santi planeja uma viagem à praia de Máncora com sua irmã mais velha, Ximena (Elsa Pataky), que foi adotada e não via há cinco anos, e seu petulante marido (Enrique Murciano) a bordo do velho Sedan de seu pai. Obviamente que o relacionamento fraternal entre Ximena e Santi invoca um certo ciúme e ambos acabam fugindo rumo a várias aventuras. A tensão sexual entre eles torna-se, então iminente.

O elenco internacional confronta os demônios pessoais de Santi, dando um ótimo suporte no roteiro de Oscar Torres, Angel Ibarguren e Juan Luis Nugent, particularmente Pataky como a “fatal” Ximena.

A enérgica direção de Montreuil ofusca um pouco a trama, lhe dando um senso de possibilidades, embora o final em aberto prove de perplexidade alguma.

Spoiler Rating: 78
LBC Rating: ~
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