12.2.08

Sparrow


Que outro diretor ousaria fazer um filme policial em que a música substitui o diálogo, tudo fica por explicar no fim e o público ainda sai com um sorriso idiota de felicidade?

Pois assim é Johnnie To. E assim é seu cinema, cuja filmografia competiu nos últimos 12 meses nos três principais festivais de cinema: SPARROW (Em Berlim), TRIANGLE (Em Cannes) e MAD DETECTIVE (Em Veneza). E SPARROW é o mais deslumbrante momento de cinema que Berlim viu esse ano.

SPARROW é a cristalização de uma ideia: Puro fluir, Puro movimento, Pura narrativa visual. Mais: o domínio escandalosamente virtuoso que Johnnie To tem do écrã panorâmico, a precisão da sua encenação faz de SPARROW uma espécie de bailado cinético coreografado ao milímetro, herdeiro direto dos grandes musicais escapistas da MGM. Embora não haja canções. Nem bailados. Mas há muita música (uma espécie de sinfonia lounge-retro a cargo de Xavier Jamaux e Fred Avril) - e To nos dá também muita música.

Uma música que faz nos interessar por uma história que praticamente não existe e serve apenas de pretexto para uma série de "tours-de-force" visuais de cortar a respiração. SPARROW ("Pardal") é um cartão postal nostálgico de Hong Kong.

O filme, em competição em Berlim, trata de um bando de batedores de carteiras liderados por Kei, que se fascinam por uma jovem, bela e misteriosa, que está sempre fugindo de alguém. Quando descobrem que ela foge de um grande chefão da máfia, não conseguem resistir à tentação de ajudá-la, não importando o risco.

SPARROW é um cinema raro com heróis e vilões e mulheres fatais. É Fred Astaire deixado à solta numa Hong Kong tão artificial como se tivesse sido reconstituída em Hollywood, filmada como Steven Soderbergh a homenagear Vincente Minnelli: elegância, leveza, graça, agilidade, descontração, deslumbramento. É uma sensação de permanente deslumbramento - como se Johnnie To estivesse a inventar o cinema à nossa frente. Não está, mas não faz mal: o que interessa é a imagem.

Spoiler Rating: 87
LBC Rating: ~

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