
No lançamento mundial de Piratas do Caribe - No Fim do Mundo em um hotel de luxo em Beverly Hills, na semana passada, o clima de fim de festa era apenas aparência. O tal fim da trilogia - que chega a 769 salas do Brasil hoje - era confirmado pelo produtor Jerry Bruckheimer e o diretor Gore Verbinski, até que a atriz Naomie Harris soltou sem querer que Bruckheimer já estava pensando no quarto longa, para estrear em 2009. 'A trilogia em si acabou. Vamos fazer um intervalo, ver o que acontece com este filme para talvez retomar os piratas', disse o produtor.
Se No Fim do Mundo repetir os números do segundo filme, os mares ainda estarão cheios de piratas por muito tempo. O Baú da Morte quebrou o recorde histórico de US$ 100 milhões em 48 horas e entrou para o clube dos filmes que faturaram mais de um bilhão de dólares no planeta. O que não diminui a ansiedade dos produtores quanto ao desempenho deste terceiro longa, que em quase três horas de duração tenta resolver todos os conflitos pendentes na história, caso o êxito financeiro não se repita. 'Recordes estão aí para serem quebrados. Homem Aranha 3 virou recordista mês passado, embora fosse o único blockbuster em cartaz. Nós teremos que dividir salas com Shrek 3 no mercado americano', comenta Bruckheimer. 'Mas não há a possibilidade de fazermos outro filme sem Johnny Depp no elenco', disse o diretor, Gore Verbinski.
Depp, que não participou do lançamento nos EUA por questão de agenda, custa a aparecer em cena. Na trama, ele se une aos outros membros da Corte da Irmandade - incluindo o pirata chinês Sao Feng, em uma boa participação de Chow Yun-Fat - contra o lorde Cuttler Beckett (Tom Hollander), que domina os mares e quer matar todos os piratas. Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley) discutem a relação até os últimos minutos, em meio a ótimos efeitos especiais.
E é bom não sair correndo da sala quando os créditos finais subirem. Se você tiver paciência para esperar sete minutos, poderá ver uma última cena. E um evidente recado de que Piratas 4 virá por aí.
A superficialidade do terceiro episódio deve ajudá-lo com o seu público-alvo
A sobrecarga visual de Piratas do Caribe 3 é algo digno de nota. Não faz economia de imagens, e nem poderia fazer num mundo que visa sempre o mais (mais velocidade, mais pancada, mais efeitos especiais). Assim, ao visual feérico na maior parte do tempo, mas também soturno quando convém, se soma a ação desenfreada. Algumas lutas se arrastam (sim, é esse o verbo) por incontáveis minutos. O que torna obrigatória essa outra característica notável do terceiro episódio da série - a sua prolixidade. Não existe nenhum motivo intrínseco para que essa aventura dure exatas duas horas e 45 minutos, mas não direi que essa extensão torna uma sessão de Piratas do Caribe experiência de confronto com o tédio, porque seria uma afirmação puramente subjetiva. Também não se duvida que muita gente vá se divertir com o filme, e assim não vai estranhar o tempo de duração. O que se pode dizer é que nada, na estrutura da história, justifica que ela se arraste por intermináveis 165 minutos.
Mas essa é uma questão do tempo. Outra é a do espaço. Em muitas situações Piratas do Caribe trabalha em espaços fechados, porões de navios, calabouços, etc. Em outras vai para espaços abertos, o mar, a ilha salvadora, a costa. Essa dinâmica não é posta em funcionamento com muita desenvoltura, porque nem é isso no fundo que interessa, apesar de algumas (raras) seqüências de beleza visual, e portanto de impacto. Numa delas, talvez a melhor do filme, temos um navio encalhado no gelo e, em torno dele, a figura solitária de Jack Sparrow (Johnny Depp). É um momento de repouso, quase de reflexão, e que portanto ganha sua força no contexto do filme.
Mas esta é apenas uma exceção num produto que deseja reciclar alguns temas tidos como 'nobres', como o navio fantasma, a questão da morte e da ressurreição, etc., diluídos na estrutura do seu universo pop. Inclusive com a presença, no elenco, de figuras icônicas. Em determinado momento, por exemplo, Keith Richards em pessoa, na pele de um pirata, dedilha sua guitarra. Mas, claro, quaisquer que sejam as intenções e/ou pensamentos de quem escreve o roteiro ou dirige o filme, eles esbarram na necessidade de justificar o uso de efeitos especiais sempre mais espetaculares, recurso que, finalmente, vai bombar o produto nas bilheterias. O problema então será passar de raspão pelos temas mais espinhosos, de modo que não assuste a platéia teen que forma seu público.
Nenhuma dessas limitações apontadas deve se traduzir em queda na expectativa de bilheteria da aventura, cuja trinca principal é formada por Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley. Pelo contrário, são justamente essas limitações que transformam o filme no sucesso que é.
Filme exagera nos efeitos e causa tédio
Q uando chegou aos cinemas em 2003, "Piratas do Caribe" bateu recordes de bilheteria ao cativar um público ávido pelas mirabolantes aventuras do capitão Jack Sparrow. A origem do projeto era uma atração dos parques da Disney, e sua versão fílmica parecia recuperar o prazer do puro entretenimento de um gênero popular na Hollywood clássica. Para explorar melhor as possibilidades da franquia, no ano passado a Disney lançou uma continuação.
Os problemas da segunda parte, porém, só se agravam em "Piratas do Caribe - No Fim do Mundo". Enquanto parte do charme do primeiro consistia em criar uma história aventuresca, capitaneada pela extravagância de Sparrow, o filme seguinte passou para os efeitos visuais o papel de manter a octanagem do show. Neste terceiro capítulo, a opção se acentua, com um fiapo de história que não justifica a longuíssima duração (168 minutos). Os desdobramentos do romance entre Elizabeth e Will e o retorno de Sparrow são inutilmente estendidos para sustentar cenas intermináveis, cujo único valor consiste na magnitude dos efeitos.
Como tudo que é demais enjoa, a sucessão de ataques, saltos, fugas e transformações provoca a impressão de "déjà-vu". Sem oferecer maior interesse pela narrativa, "Piratas" gera o que menos se espera de uma aventura: tédio.
Spoiler Rating: 75
LBC Rating: 45
Por Franthiesco Ballerini, Luiz Zanin Oricchio (Estado de São Paulo) & Cássio Starling Carlos (Folha de São Paulo)