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20.3.08

Dr. Jivago

DR. JIVAGO é uma meditação profunda sobre vida e morte, amor e ódio, dedicação pessoal e ideologia de massas, liberdade e escravidão, guerra e paz. Trata-se de um fenômeno. A simples menção de Jivago imediatamente evoca imagens de Omar Shariff fugindo de comunistas e traindo Geraldine Chaplin com Julie Christie ao som do meloso "Tema de Lara", de Maurice Jarre.

Baseado no romance homônimo de Boris Pasternak, o filme narra os "anos terríveis" da vida do médico e poeta Iuri Jivago que vão de 1903 a 1943. A fita acompanha de perto momentos cruciais da história de seu país, como a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, na qual deposita uma esperança que logo se converte na mais amarga das decepções. A política, porém, é apenas pano de fundo. A ideologia jamais passa para primeiro plano.

Apesar disso, e apesar de nos enfiar a toda hora o tema de Lara goela abaixo, a visão poética de Lean oferece imagens inesquecíveis. São marcantes cenas como a da estrela vermelha brilhando sobre a entrada do túnel de trabalhadores, outra em que uma criança surge através da vidraça gelada na qual galhos batem, o ataque da cavalaria contra os bolcheviques ou a maneira que os flocos de neve se transformam em flores, e uma flor se transmuta no rosto de Lara.

As vicissitudes da história unem e separam Lara e Jivago diversas vezes. O labirinto de encontros e desencontros vai sendo reconstruído pouco a pouco e mostram a História como uma força moldada pelo homem que, por sua vez, é capaz de moldar a vida de cada indivíduo.

O filme concorreu a nove Oscars e ganhou cinco: Melhor Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Trilha Musical.

Spoiler Rating: 82
LBC Rating: ~

19.3.08

2001: Uma Odisséia no Espaço

A genialidade de Stanley Kubrick em 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO não consiste no que ele mostra, mas sim no quanto é despojado. Esta é a obra de um artista tão sublimemente seguro que não inclui uma só tomada para manter nossa atenção. Ele reduz cada cena à sua essência e a deixa na tela o tempo suficiente para que a admiremos, para que ocupe nossa imaginação. 2001 é uma raridade entre os filmes de ficção, pois não está preocupado em nos excitar, mas inspirar reverencia.

Boa parte desse efeito deve-se a trilha musical que existe além da ação. Ela exalta e busca o sublime e dá seriedade e transcendência ao visual. O filme cria seus efeitos essencialmente sobre o visual e a musica. É meditativo. Não mata nossa fome, mas quer nos inspirar e nos engrandecer com seu balé visual.

O filme, também, é em vários aspectos um filme mudo. Há poucos diálogos, o que o torna um filme difícil e eles estão ali simplesmente para indicar que as pessoas conversam entre si. Não deixa de ser curioso que os melhores sentimentos provenham de HAL 9000, um computador que apela por sua vida entoando “Daisy”.

2001 é um filme transcendente. Passados 40 anos, ainda é atual. Conta a lenda que Stanley Kubrick, o mais cerebral dos grandes diretores norte-americanos, sempre teve o sonho de realizar a obra-prima definitiva dos vários gêneros que freqüentou. Filmes de guerra, como GLÓRIA FEITA DE SANGUE; de terror, como O ILUMINADO; reconstituições históricas, como SPARTACUS e BARRY LYNDON; filmes de assalto, como O GRANDE GOLPE - se não atingiu sempre o seu objetivo, Kubrick esteve muitas vezes próximo de concretizá-lo. Ele deixou uma obra marcante, uma das mais notáveis da história do cinema, mas foi na chamada ficção científica que Kubrick se excedeu e se imortalizou.

Spoiler Rating: 90
LBC Rating: ~

18.3.08

Cleópatra

CLEÓPATRA foi o Waterloo das superproduções dos anos 50/60. Era para ser o máximo. Mas as filmagens demoraram muito mais do que se imaginava, Elizabeth Taylor teve pilhas de chiliques, o filme custou uma fortuna e, na bilheteria, deu muito menos do que se esperava.

Com Richard Burton e Rex Harrison no elenco, o filme narra a lenda da Rainha do Nilo e seu romance com Júlio César e Marco António, dois dos mais poderosos soldados do império romano. A produção descreve o Egito como uma civilização extremamente luxuosa, e talvez por isso o público não tenha aderido: Há um peso excessivo em tudo aquilo, em cada imagem barroca, que nem Joseph L. Mankiewicz conseguiu contornar.

Apesar de excessivamente longo (250 minutos na versão final, embora na TV foi editado para 194 minutos), vale pela ótima interpretação da dupla Taylor e Burton.

O filme recebeu nove indicações para o Oscar, incluindo Melhor Filme. Levou as estatuetas de melhor Direção de Arte, Fotografia, Figurinos e Efeitos visuais.

Spoiler Rating: 60
LBC Rating: ~

5.2.08

Perdidos na Noite


Lavador de pratos numa cidadezinha do Texas, Joe Buck (Jon Voight) resolve ir para Nova York, com sua vestimenta de cowboy, convencido de que, lá, poderia viver às suas custas de mulheres ricas e solitárias, a quem venderia seus favores sexuais.

Mas a vida na grande metrópole não e o que ele pensava. Seu sonho se desfaz. Passando por uma prostituta, uma religiosa fanática, uma grã-fina entediada e um homossexual, acaba conhecendo, na Times Square, Enrico "Ratso" Rizzo (Dustin Hoffman), um aleijado tuberculoso que vive de pequenos expedientes e cujo sonho é ir para Miami, lugar de muito sol, abandonando aquela terra fria em todos os sentidos. Os dois acabam grandes amigos, e Rizzo leva Buck para morar com ele, num edifício em ruínas, do Bronx, o bairro mais pobre da cidade. Lutando juntos pela sobrevivência, eles tentam cuidar um do outro.

Apesar de seu um filme essencialmente sobre a solidão, tem momentos de humor e calor humano. Mas um final trágico. Joe acaba roubando duas passagens de ônibus para Miami, com o intuito de realizar o sonho do amigo cada vez mais doente. Mas quando, finalmente, chegam lá, o pequeno Rizzo já esta morto.

O filme foi um grande sucesso, principalmente pela interpretação dos atores principais. Voight atingiu o estrelato da noite para o dia. Hoffman, numa caracterização completamente diferente do filme anterior, recebeu sua segunda indicação para o OSCAR, surpreendendo todos que acreditavam que o seu Bem, de A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM, tinha sido pura sorte de quem foi escalado para fazer um personagem que parecia com ele mesmo.

Premiado com o OSCAR de Melhor Filme, Roteiro e Diretor. Indicado como Ator (Voight e Dustin) e Coadjuvante (Sylvia Miles). Foi o único filme com cotação X (proibido para menores) a ganhar o Oscar de Melhor Filme (essa categoria foi substituida por NC-17). Foi o primeiro trabalho de Hoffman logo depois de A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM, fazendo um tipo completamente diferente, e o lançamento de John Voight como astro. Na verdade é uma história sobre solidão, dois perdidos na cidade grande.

O filme não desaba num romantismo por causa da dupla central. Dustin não consegue fugir a uma certa caricatura, mas Voight consegue passar o ser humano de trás da limitações da inteligência do personagem. A direção é bem de epóca, com efeitos barrocos. Lançou uma canção que se tornou sucesso: "Everbody´s Talking".

Spoiler Rating: 79
LBC Rating: ~

Oliver!


Nas ruas de Londres do século 19, um rapaz, Oliver Twist, que foi vendido à um orfanato, foge e se envolve com um grupo de meninos de rua que são dominados por um ladrão, Fagin, que os obriga a roubar como batedores de carteiras. Mas ele tem um segredo de família.

Versão musical feita por Lionel Bart do livro clássico "Oliver Twist", de Charles Dickens, sucesso no palco e dirigido com tranquilidade pelo veterano e excelente Carol Reed (tio de Oliver Reed, que faz o vilão Bill Sykes e é autor de O TERCEIRO HOEM). Ron Moody interpreta de forma caricatural (mas adequada) o papel de Fagin, e para o papel-título encontraram um menino com a figura certa - Marc Lester (que faria certa carreira como ator, mas sumiria como adulto).

Foi feito com clima de superprodução em grandes sets na Inglaterra e ganhou Oscars de Melhor Filme, Direção, Direção de Arte, um especial de coreógrafia para Oona White, Som e Trilha Musical. Mas é um filme difícil de ver para quem não gosta de musicais teatrais.

Spoiler Rating: 76
LBC Rating: ~

No Calor da Noite


Numa cidadezinha do estado sulista de Tenessee chega um oficial policial negro da Filadelfia, Virgil Tibbs, para ajudar o xerife racista local a resolver um caso de assassinato de um importante homem de negócios.

É preciso situar-se em sua epóca, em plena luta pelos direitos civis, quando ainda era corajoso, ousado e polêmico criticar o rascismo e defender os negros, para entender o sucesso desse filme que ganhou 5 OSCARs: Melhor Filme, Ator (Rod Steiger), Roteiro, Edição (O futuro diretor Hal Ashby, muito elogiado por seu trabalho) e Som. Mas não ganhou diretor para Norman Jewison. Ele perdeu para Michael Nichols por A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM. Décadas depois ele levou um Oscar especial da Academia.

Na verdade, os prêmios estavam errados, Steiger ganhou por consolação (ele merecia por O HOMEM DO PREGO (1965), merecia mais Poltier (que já tinha ganho em 1961 por UMA VOZ NAS SOMBRAS). Também a trilha musical de Quincy Jones é marcante, assim como a excelente fotografia de Haxwell Wexler. A fita deu origem depois a uma série de TV com Carroll O´Connor (de 1988 a 1990).

O filme revela os sinais de uma época, na fotografia (com o uso pioneiro da lente zoom, que muda o foco no meio de uma tomada) e em certos confrontos. Mas ainda é bem dirigida e eficiente, desde a chegada do policial (que por ser negro é imediatamente preso) até a frase famosa de Poltier: "They call me Mr. Tibbs", aliás, ele voltaria representar o mesmo personagem em duas fitas inferiores, em NOITE SEM FIM (1970) e A ORGANIZAÇÃO (1971). Steiger, como de hábito, super-representa, mas tem uma presença marcante. Traz música-tema homônima de Quincy Jones, interpretada por Ray Charles.

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: ~

O Homem que Não Vendeu sua Alma


Parece extremamente oportuno - nessa época em que os homens públicos têm pouca ou nenhuma preocupação com a verdade, a consciência ou os escrúpulos - rever este multipremiado drama histórico baseado na famosa disputa entre Sir Thomas More (ou Morus) e o rei Henrique 8º, da Inglaterra.

A trama se baseia justamente na força necessária para se contrapor a um governante déspota ou a um ambiente de interesses que estimula a ambição e a adulação. More (feito pelo grande ator de teatro Paul Scofield), popular e amigo do rei, se recusa a prestar o juramento que daria seu importante apoio à separação entre a Inglaterra e a Igreja Católica. Henrique 8º havia tomado essa decisão para poder se divorciar de sua primeira esposa, Catarina de Aragão, devota e inteligente, mas que não lhe deu um filho homem. O objetivo do monarca era se casar com a bela Ana Bolena (uma pequena participação especial de Vanessa Redgrave, pela qual ela não aceitou pagamento). O episódio resultaria no surgimento da Igreja Anglicana.

More luta, então, para sobreviver e proteger sua família do furacão provocado por sua rebeldia. É necessário relevar as liberdades tomadas com os acontecimentos históricos e, em especial, o retrato idealizado de More. O filme ignora seu fanatismo religioso, que pregava o ódio aos protestantes, suas reservas em relação ao papado, sua defesa da morte na fogueira para os hereges, sua participação ativa nas intrigas palacianas do dia-a-dia (mesmo assim a Igreja Católica o canonizou). No filme, ele é um símbolo de integridade e crença na força da fé e da consciência.

Baseado em peça teatral de Robert Bolt, que também fez o roteiro, o filme tem pouca movimentação e se baseia no cuidadoso diálogo, dando oportunidade para as grandes atuações de Scofield (que lhe deu um merecido Oscar), Wendy Hiller (como a esposa de More, Alice) e Robert Shaw, ambos indicados como coadjuvantes, além de John Hurt, Leo McKern, Susannah York e Orson Welles, que aparece rapidamente no começo como o cardeal Wolsey. Na cerimônia do Oscar, ganhou os prêmios de melhor filme, direção, roteiro adaptado, fotografia e figurino. A direção é do sempre competente Fred Zinnemann, o mesmo de A UM PASSO DA ETERNIDADE.

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: ~

A Noviça Rebelde


O que há de tão extraordinário em NOVIÇA REBELDE (1965), que encanta tanto os espectadores? História romântica, presença de crianças, uma trilha musical agradável, belas paisagens, será só isso? Não creio, existem muitos outros filmes com estes mesmos elementos que hoje amargam o esquecimento. Para entender o que torna o filme tão especial, é melhor ir por partes...

Talvez o elemento que mais fascine seja o fato de que quase tudo que é visto no filme, aconteceu de verdade. É fato que Maria, candidata a freira pouco ortodoxa, foi trabalhar como governanta na casa de Georg Von Trapp, viúvo e pai de sete filhos. Capitão reformado da marinha, Georg tenta reorganizar sua vida após a perda da primeira mulher. Ao conhecer Maria Kutscher, rompe o noivado com uma nobre vienense e casa-se com ela. Como está no filme, afronta o domínio nazista na Áustria e foge ao ser convocado para integrar a marinha alemã. Tudo isso está lindamente exposto no filme, personificado por Julie Andrews, Christopher Plummer e um grupo de talentosas crianças.

A NOVIÇA REBELDE foi um filme notável não apenas pela história que contava. Há também a trilha musical que foi exaustivamente elaborada, pois além do filme ser um musical, estava retratando uma família que era famosa por sua musicalidade.

A fotografia é algo surpreendente, não só nas tomadas ao ar livre nos Alpes, mas também nas filmagens em cenário, em especial as noturnas. Observem as cenas no cemitério do convento e também quando Maria e Georg se entendem no jardim. Uma curiosidade sobre esta cena: Julie e Plummer não conseguiam conter o riso quando iam filmar e depois de trinta tomadas, resolveram fazer a cena em contraluz, que rendeu uma imagem fantástica.

Para a 20th Century Fox, A NOVIÇA REBELDE representou o renascimento do estúdio. Quando todos esperavam a falência do grupo, que vinha de um fracasso monumental que foi CLEOPATRA, Ernest Lehman, o roteirista de O REI E EU e AMOR SUBLIME AMOR foi contratado para escrever o script do novo filme. O primeiro diretor contratado, William Wyler, que vinha do megasucesso BEN-HUR queria fazer uma história de guerra, com canhões, tanques e bombas. Por fim, Robert Wise, o mesmo diretor de AMOR SUBLIME AMOR foi escolhido.

A NOVIÇA REBELDE foi um filme onde tudo deu certo. Uma boa história, um bom roteiro, uma direção segura, trilha musical impecável, elenco profissional e fotografia primorosa. A resposta da crítica e do público não poderia ser diferente do que foi. O filme ganhou cinco Oscars: Melhor Filme, Direção, Edição, Trilha Musical e Arranjos. Em todos os países do mundo a recepção foi calorosa, com a única exceção da Alemanha. Lá só foi exibida uma versão sem o terço final do filme. É curioso, pois em 56 e 58 foram rodados lá os primeiros filmes sobre a família Trapp.

Spoiler Rating: 93
LBC Rating: ~

My Fair Lady


Na antiga Londres, um professor de línguas defende a teoria de que as pessoas são julgadas pelo modo que falam. Para provar sua tese, aposta que é capaz de pegar uma florista de rua, que trabalha no Convent Garden, o mercado central, e transformá-la numa verdadeira dama.

Inspirado na lenda grega de Pigmalião e baseada na peça homônima de Bernad Shaw, que é seguida praticamente a risca na versão de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, a qual fez sucesso durante anos na Broadway com Rex Harrinson e a novata Julie Andrews.

A fita foi produzida pelo próprio dono do estúdio, Jack Warner, que relutou em chamar Harrison (acabou sendo forçado por pressões sociais, já que era impossível imaginar o personagem do professor Higgins sem ele) e não quis Julie Andrews (ironicamente no mesmo ano, Disney a lançou em "Mary Poppins" e ela ganharia o Oscar de atriz, quase como uma desculpa por ter perdido o papel). Audrey nem sequer foi indicada, mas foi à Festa e se comportou como uma dama. Mesmo porque o problema é que mesmo como florista, ela continua sendo uma dama. O filme poderia ter mais números de dança, mas a produção é suntuosa, utilizando a mesma equipe de montagem teatral com figurinos de Cecil Beaton (GIGI).

Ganhou 8 Oscars: Melhor Filme, Direção, Ator, Fotografia, Figurinos, Trilha Musical Adaptada, Direção de Arte e Som.

Spoiler Rating: 83
LBC Rating: ~

As Aventuras de Tom Jones


Tony Richardson, produtor e diretor do filme, teve dificuldades em conseguir quem o financiasse. A United acabou bancando e distribuindo aquela que foi uma das mais caras produções inglesas até então. Mas o risco valeu a pena. O filme proporcionou grandes bilheterias em todo o mundo e foi o primeiro filme inteiramente realizado na Inglaterra a ganhar um Oscar principal, depois de HAMLET, 15 anos antes.

Passada no século 18, em Somerset e Londres, a historia é sobre o filho ilegítimo de uma criada, o jovem Tom (Albert Finney, em vibrante interpretação), personagem que mescla ingênua inocência com alegre imoralidade. A disposição do publico em aceitar um herói tão ambíguo e contraditório mostra que já estava preparado para fugir dos clichês e convenções da maior parte das produções que Hollywood exportava para o mundo.

Adotado por um fidalgo, Tom acaba expulso de casa e leva uma vida de aventuras, nas quais as mulheres desempenham importante papel, ate que, no final, acusado injustamente de roubo, consegue escapar com força.

À primeira vista, John Osborne não parecia a pessoa mais indicada para adaptar às telas o romance pitoresco de Henry Fielding. Autor de peças de protesto social, ele ficara conhecido como o mais franco dentre os dramaturgos do movimento conhecido como dos "Angry Young Men". Mas, aqui, provou sua versatilidade como escritor, ao mesmo tempo em que descobriu novas maneiras de expor idéias, sem abrir mão da consciência social que marcava suas obras. E isso foi possível porque Fielding também estava interessado em sátira social. A construção de personagens como Western (Hugh Griffith) e outros representantes da nobreza da época deu chance para que Osborne escrevesse um roteiro de comedia, mas que contem, igualmente, serias observações sociais.

A direção de Richardson procurou se adequar ao espírito do texto. E ele fez isso usando (e, às vezes, até abusando) muitos recursos cinematográficos - truques de lentes, câmeras rápidas, congelamento de imagens, montagem frenética e personagens que falam diretamente para a câmera.

Algumas seqüências são excelentes, como a inicial, onde o bebê Tom aparece pela primeira vez; a da caça a raposa através dos bosques e campos, filmada como uma comedia muda de Keystone e intercalando tomadas com a câmera na mão com outras de helicópteros; a da refeição que Tom faz com Mrs. Waters (Redman), na estalagem, prenuncio de uma relação sexual entre os dois, quando Tom cobre a câmera com o chapéu, para não serem vistos pelos espectadores.

Boa solução também é a ocasional e espirituosa narração de Michael MacLiammoir, comentando os acontecimentos. O filme marca a estréia de Lynn Redgrave (a caçula das Redgrave), ao lado de sua mãe. Rachel Kempson.

Spoiler Rating: 72
LBC Rating: ~

Lawrence da Arábia


Dentro dos filmes mais bonitos, mais bem fotografados, mais perfeitos, reserve sempre um lugar para as obras de David Lean. LAWRENCE DA ARÁBIA é até hoje o exemplo perfeito de como se fotografar um filme no deserto. Ninguém conseguiu fazer melhor, nem acredito que tentará. Este é um filme definitivo também como biografia, que mostra muito e explica muito pouco. Falando de um personagem controvertido e ambíguo, que teve um papel político confuso, é um verdadeiro milagre que sustente o interesse e por vezes até empolgue. É sempre graças ao trabalho do diretor, que fotografa as dunas de maneira irretócavel, que se dá ao luxo de utilizar o calor da areia formando o que primeiro parece uma miragem e que aos poucos vai tomando forma, é a primeira aparição de Omar Sharif no filme. Grandioso sem ser grandiloquente, épico sem cair em exageros, histórico sem se tornar didático, Lawrence é uma obra-prima no gênero, de tal forma que fia díficil pensar num deserto sem imaginar na fotografia de Freddie Young e a música de Maurice Jarre.

Antes de sua morte, David Lean ainda teve tempo de supervisionar a restauração desse seu filme, que foi relançado em versão completa (inclusive com uma cena polêmica em que o herói era estrupado pelo árabe Jose Ferrer, deixando mais clara a opção homossexual posterior do protagonista). Foi Lawrence que lançou o pouco conhecido irlandês Peter O´Toole, depois de terem sido considerados Albert finney, Anthony Perkins e Guiness (que era velho demais para o papel). Com seu cabelo pintado, ficando mais loiro (e ainda uma operação plastica para tornar mais reto o seu nariz!), ele teve também de controlar suas lendárias bebedeiras para que Lean o aceitasse no papel. Mas foi díficil, pois durante as filmagens ele teve uma longa sucessão de queimaduras, ligamentos quebrados e outros problemas semelhantes. Além de ter sido mordido e derrubado por camelos diversas vezes.

Na cena do acidente de moto, a última filmada, quase que o ator realmente morreu quando o veículo se desmontou inteiro. Dizem que ao final das filmagens ele se retirou apra um hospital para descansar. O filme transformou em astro mundial um ator egipcio, que era astro em sua terra natal, Omar Sharif que mais tarde interpretaria, com o mesmo diretor, o papel-título de DR. JIVAGO. Todas as cidades (Damasco, Cairo, Jerusalém) foram recriadas na Espanha e, para interpretar mulheres muçulmanas, algumas foram realmente levadas do Egito.

O filme ganhou 7 Oscars, inclusive Melhor Filme, Diretor, Direção de Arte, Fotografia, Montagem, Trilha Musical e Som, mas não para ator (O´Toole perdeu para Gregory Peck), nem coadjuvante (Sharif perdeu para Ed Begley). A fita custou na época a fortuna de 15 milhões de dólares.

Spoiler Rating: 86
LBC Rating: ~

Amor Sublime Amor


No bairro Oeste de Nova York, duas gangues de jovens porto-riquenhos, os Sharks e os Jets, lutam pelo controle do lugar. Mas um rapaz que largou a gangue dos Jets se apaixona por Maria, irmã do líder dos Shanks, provocando uma tragédia.

Versão musical de "Romeu e Julieta" de Shakeaspeare para o palco por Arthur Laurents e depois para o cinema por Ernest Lehman, com o mesmo coreográfo Jerome Robbins, que fez parceria com o diretor Robert Wise. Na verdade, o filme é melhor que a peça, dramaticamente mais ajustado e muito cinemático.

Embora Natalie e Richard tenham sido dublados (respectivamente por Marnie Nixon e Jim Bryant), isso não perturba o esplêndido resultado, que inclui os letreiros de abertura, o final de Saul Bass (a fita tinha overture, como era moda na época), e a idéia genial de começar a narrativa do outro lado do rio e depois contar a rivalidade entre as Gangues por meio de uma longa coreografia.

Premiado com dez OSCARs: de Melhor Filme, Direção, um especial de coreografia de Robbins, Atores Coadjuvantes (Rita e George), Fotografia, Figurino, Direção de Arte, Montagem e Arranjos Musicais.

Spoiler Rating: 77
LBC Rating: ~

Se Meu Apartamento Falasse


Ao mesmo tempo comedia de situações e sátira social, foi o ultimo filme em preto e branco a ganhar o Oscar de Melhor Filme, até 1993, quando Steven Spielberg produziu e dirigiu A LISTA DE SCHINDLER.

É a historia de um jovem e solitário executivo de segundo escalão de uma grande companhia nova-iorquina, C.C. "Bud" Baxter (Jack Lemmon), que empresta seu apartamento de solteiro a superiores casados, para encontros mais seguros e confortáveis com suas amantes. Em troca, prometem-lhe uma futura promoção que eles garantem conseguir com o chefão Jeff D. Sheldrake (Fred MacMurray).

Baxter já esta quase desistindo dessas promessas e, agora, só pensa em conseguir marcar um encontro com a atraente ascensorista da firma, Fran Kubelik (Shirley MacLaine), por quem esta apaixonado.

De repente, porém, sai a promoção. O rapaz é transferido para uma sala só dele, com secretaria particular e sala só dele. Mas, certa noite, Baxter encontra Fran inconsciente em seu apartamento. Descobre, então, que ela é amante de Sheldrake. E tinha tentando o suicídio porque ele se recusava a deixar a mulher.

Como em todos os filmes em que foram parceiros de roteiro, Wilder e Diamond optam por um sinal moralista, nessa fabula sobre personagens imorais. Os velhos valores se reafirmam, depois que Fran é tratada com carinho por Baxter e descobre o verdadeiro amor. E ele pede demissão da companhia.

O filme encara as fraquezas humanas com humor e compreensão. Os jovens e excelentes protagonistas se completam. Ela, comovente e vulnerável, ele, patético e engraçado, como na chapliniana cena em que usa uma raquete de tênis como escorredor de espaguete.

Spoiler Rating: 83
LBC Rating: ~

2.1.08

Esses Homens Maravilhosos com suas Máquinas Voadoras / Os Intrépidos Homens e suas Máquinas Maravilhosas

Em plena década de 60, enquanto as grandes potências voltavam-se aos armamentos nucleares e naves espaciais, o diretor inglês Ken Annakin resgatou a comédia "pastelão", satirizando essa afoita interação entre homens e máquinas.

Entre suas realizações, destaca-se ESSES HOMENS MARAVILHOSOS COM SUAS MÁQUINAS VOADORAS (THOSE MAGNIFICENT MEN IN THEIR FLYING MACHINES OR HOW I FLEW FROM LONDON TO PARIS IN 25 HOURS 11 MINUTES) e OS INTRÉPIDOS HOMENS E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS (MONTE CARLO OR BUST), duas interessantes e divertidas obras de um mundo de outrora, que mostra acidentadas situações em que os homens, completamente embriagados por devaneios científicos, provocam ao serem incentivados a executar perigosos inventos. A gozação expressa nesses dois filmes começa desde a propositada escolha dos seus longos títulos, que, por si só, exemplificam a capacidade de complicação humana.

A trama de ESSES HOMENS MARAVILHOSOS COM SUAS MÁQUINAS VOADORAS desenrola-se no período pré-Primeira Guerra Mundial, quando o mundo experimentava seus primeiros veículos motorizados. Já OS INTRÉPIDOS HOMENS E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS é ambientado na década seguinte, os anos 20, quando as nações começavam a se recuperar da recente tragédia bélica, passando a investir em melhorias tecnológicas. A abordagem desses dois momentos históricos talvez tenha sido uma analogia aos testes com foguetes e bombas atômicas na então Guerra Fria, como um alerta à humanidade diante de tais acontecimentos.

Primeiro a ser lançado, ESSES HOMENS MARAVILHOSOS COM SUAS MÁQUINAS VOADORAS retrata uma competição aérea, de Londres para Paris, patrocinada pelo empresário jornalístico britânico Lord Rawnsley - protagonizado magistralmente pelo grande ator inglês Robert Morley - com o objetivo de divulgar o seu jornal e o seu País. Nessa desastrosa e engraçadíssima corrida participam pilotos amadores de vários países, que se valem de suas recém-inventadas engenhocas para, avidamente, conquistarem não só o "gordo" prêmio oferecido pelo patrocinador, como também elevar o status das suas respectivas nações no âmbito mundial. No elenco grandioso e internacional destaca-se, além de Morley, o trio romântico composto pela atriz inglesa Sarah Miles que representa Patricia Rawnsley, uma aristocrática e levada mocinha; pelo ator inglês James Fox, como o nobre e ingênuo piloto Richard Mays; e pelo ator norte-americano Stuart Whitman, como Orvil Newton, um rústico e corajoso galã, misto de piloto e caubói. Entre os outros caricatos competidores estão: o mulherengo francês (Jean-Pierre Cassel); o emburrado Oficial alemão (Gert Fröbe); o irônico japonês (Yûjirô Ishihara); o emotivo Conde italiano (Alberto Sordi); e o indispensável trapaceiro inglês Sir Percy Ware-Armitage (Terry-Thomas), assessorado por seu contrariado parceiro Courtney (Eric Sykes).

Posteriormente é lançado OS INTRÉPIDOS HOMENS E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS, com a mesma abordagem de corrida no início de século, mas sem se tornar repetitivo, mostrando um rali internacional onde os competidores, providos de fantásticos automóveis, melhor dizendo, calhambeques, saem de vários pontos da Europa, com destino à cidade de Monte Carlo, em Mônaco. O talentoso e diversificado elenco dá um show de comicidade, destacando-se o ator norte-americano Tony Curtis, que faz o galã-playboy Chester Schofield; a atriz inglesa Susan Hampshire, como a esperta e refinada donzela Betty; o ator francês Bourvil, como Monsieur Dupont, o organizador do evento; e o ator italiano Lando Buzzanca, como o guarda simpático e namorador Marcello Agosti. Ainda no elenco, e também atuantes no primeiro filme, estão Gert Fröbe, Eric Sykes e Terry-Thomas. Este último como Sir Cuthbert Ware-Armitage, novamente com as suas hilariantes trapaças. Inconfundível presença na maioria das comédias do gênero da década de sessenta, o ator inglês Terry-Thomas sempre interpretava um vilão, rabugento e trapalhão, capaz de tudo para se dar bem.

Com essas duas obras o diretor Ken Annakin ressuscita criativamente a atmosfera cômica da fase inicial do cinema, além de relatar acontecimentos históricos do início de século XX, como por exemplo: a onda de invenções que pairava na época; os reflexos político-sociais gerados pela Primeira Guerra Mundial; e as lutas pela emancipação feminina. Todo esse clima, comicamente atribulado, é ricamente enfatizado pela agradável e descontraída trilha musical de Ron Goodwin.

Para quem quer soltar boas gargalhadas, ou simplesmente alimentar gostosa nostalgia pelas comédias dos anos sessenta, recomendo assistir a estes dois excelentes filmes, no mesmo dia, preferencialmente.

ESSES HOMENS MARAVILHOSOS COM SUAS MÁQUINAS VOADORAS
Spoiler Rating: 68
LBC Rating: ~


OS INTRÉPIDOS HOMENS E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS
Spoiler Rating: 58
LBC Rating: ~

12.8.07

O Principe das Florestas

A partir das histórias criadas pelo escritor Rudyard Kipling, contando as aventuras de um menino que cresce na floresta sob os cuidados de uma pantera e um urso, os estúdios de Walt Disney decidiram levar às telas essa magnífica e encantadora produção. Começa com o choro de um bebê ecoando na densa floresta. Bagheera, uma pantera inteligente e perspicaz, é quem encontra o filhote de homem.

Bagheera leva a criança até uma família de lobos para que ela seja alimentada. O tempo passa e agora o bebê se tornou um menino. Só que ele corre perigo vivendo na floresta e deve retornar à aldeia dos homens. Nesse momento surge Baloo (voz de Phil Harris, veterano ator e dublador), um urso simpático e carinhoso que resolve adotar Mowgli. Os dois se tornam grandes amigos e passam o dia se divertindo.

Bagheera, no entanto, mantém sua posição de que Mowgli não pode viver entre eles. E é na tentativa de Ballo em levar o jovem até o seu território que muitos perigos os cercam. Primeiro há Louie, o rei dos macacos que quer aprender com o Mowgli a mágica de fazer o fogo; Shere Khan é o tigre que não gosta dos homens e quer fazer do menino seu jantar; e Kaa, uma cobra que tenta hipnotizar Mowgli.

Dentro da tradição dos desenhos Disney, este também teve a música indicada para o Oscar - "The Bare Necessities", chamada no Brasil "Somente o Necessário", composta por Terry Gilkyson como tema do personagem Baloo.

Spoiler Rating: 75
LBC Rating: ~

Por Marcos Petrucelli

Eu mencionei algum Dragão Roxo?

Este é um dos últimos longas dos estúdios Disney supervisionado pelo próprio Walt, que encerraria sua carreira com o excelente MOGLI, em 1967. Trata-se de uma versão divertida da infância do rei Arthur, adaptada do livro de T.H. White.

A história é muito simples: o mago Merlim torna-se mentor do jovem Arthur, sem saber que este se tornará o rei da Inglaterra. Talvez, por causa da simplicidade, esta seja uma das realizações mais fracas entre as obras realizadas enquanto Disney estava vivo. O roteirista Bill Peet não escolheu o melhor método para enriquecer o argumento: optou por carregar nos diálogos e acabou por obter pouca fluência na ação. A partir de certo momento, as "aulas" de Merlim ao garoto se tornam muito previsíveis.

Já se nota também a simplificação no desenho que marcaria as produções dos anos 70, a pior época da Disney. Há até mesmo repetição de movimentos de personagens, o que surpreende a quem conhece o virtuosismo de animação exibido em obras anteriores. Mesmo assim, vale a pena ver, pois sempre sobram seqüências clássicas nas quais animadores como Milt Kahl ou Ollie Johnson esbanjavam seu talento.

O duelo de transformações entre Merlin e a bruxa Madame Min (chamada de "Kim" pela dublagem antiga) não só é hilariante como também é uma aula de caricatura. Duvida? Tente desenhar a mesma expressão facial num bode e num caranguejo. Se não conseguiu, assista: Merlin demonstra essa mágica e outras aina mais prodigiosas.

Spoiler Rating: 79
LBC Rating: ~

Por Marcos Smirkoff - Revista SET

Supercalifragilisticexpialidocious

alt havia começado o ano de 1941 acreditando que FANTASIA seria o veiculo para o renascimento de Mickey Mouse. Mas terminou com múltiplas imagens de morte. A morte de seu pai, a morte do seu estúdio, a morte do seu espírito criativo. Desde então, sentindo-se traído por sua “família” de grevistas, reagiu da mesma forma que o pai, abandonando-os ao terreno comum da animação que haviam compartilhado. Walt nunca mais realizou nada que se comparasse às suas realizações do período de quatro anos compreendidos entre BRANCA DE NEVE e FANTASIA e por cerca de 20 anos, Disney pouco interferiu na produção do estúdio, mantendo-se ausente em praticamente todas as criações.

Mas em 1962, depois de 101 DÁLMATAS, Disney relançou com sucesso, um dos seus fracassos comerciais, FANTASIA. O renascimento do filme foi impulsionado por várias críticas entusiasmadas dos jornalistas da época.

A critica reanimou Disney, induzindo-o a agir nem tanto em razão do louvor que, achava, há muito era devido à FANTASIA, mas pelo elogio excessivo. Disney, então, sentiu-se compelido a realizar outra obra-prima, agora pela ultima vez. Para sua grande despedida, ele espreitou uma vez mais o prisma de sua alma , a fim de produzir algo que seria a síntese de sua grande obra. No filme, com as cores vivas de uma radiosa comedia, sombreado por conteúdo emocional e redimido pela alegria física, Disney finalmente iluminou por completo sua visão de fada madrinha personificada por uma pequena e doce babá inglesa, conhecida como Mary Poppins.

Quando a produção começou, Walt viu-se obcecado por MARY POPPINS como não ficara por nenhum outro filme, animado ou não, desde VOCE JÁ FOI A BAHIA? Trabalhou durante meses, dia e noite, mudando-se para o escritório no estúdio, como fizera com freqüência nos velhos tempos. Exigiu que tudo, mesmo o detalhe mais insignificante, fosse executado exatamente como queria e não lhe importava quanto tempo ou dinheiro fosse gastos até se dar por satisfeito.

Esse envolvimento incansável e obsessivo patenteou-se na tela. A mistura perfeita de ação real e animação de MARY POPPINS transformaram o romance original, uma serie de episódios mal relacionados, em uma descrição da natureza da fantasia infantil. Em MARY POPPINS, Walt criou um mundo onde a identidade, felicidade, expressão e satisfação eram determinadas somente pelas alegrias da liberdade física. Um mundo, como Mary informa ao sr. Banks, um tipo decididamente nada físico, onde nada tinha de ser explicado.

Disney alem disso, “estabeleceu uma relação” com os personagens da família do filme, como sendo um autobiográfico quebra-cabeça emocional, cujas peças pareciam preencher as lacunas de sua obra. Os dois filhos de Banks, Jane e Michael, evocam as imagens de Walt e Roy (seu irmão) na infância: os rebentos obedientes, reservados, traumatizados, de um pai disciplinador e desprovido de humor e de uma mãe amorosa, mas ineficaz. A estrutura emocional e física do Sr. Banks liga Walt a Elias (seu pai, completo, e até com o fino bigode), no papel de um chefe de família benevolente, mas pouco amoroso.

Mary Poppins, por seu lado, é irreal, literalmente uma fada, embora de algum modo consiga reter a essência de uma “mamãe” real. Ela pode ser firme, adorável, mágica e, quando necessário, autoritária sem excessos, em sua determinação de salvar as crianças Banks e humanizar seus pais. Também ela espelha uma imagem de Disney, o qual foi, a seu modo, a melhor babá a serviço da eterna infância.

Bert, o limpador de chaminés e principal musico da banda de um homem só, entretém uma multidão no parque com um numero mambembe, reminiscências do passado de Disney – o estagio inicial da carreira do jovem, que cresceria e se transformaria no homem dos sete instrumentos, à frente do próprio estúdio. Bert também possui o dom de desenhar, e seus esboços na calçada, dispostos em seqüências semelhantes a tantos storyboards de filmes de animação, transformam-se em passagem para o mundo mágico da diversão. E assim somos introduzidos ao magistral tema visual, a jornada redentora que nos leva, através dos desenhos mágicos, do restrito mundo da realidade adulta ao mundo livre da fantasia infantil.

Em MARY POPPINS, a liberdade é definida como um desprendimento do jugo que o tempo impõe, a liberação, enfim da alma. Quando, no clímax do filme, o Sr. Banks passa por sua transformação e é humanizado, juntamente com o excêntrico banqueiro Sr. Dawes Sênior, a impressão é novamente de grande liberação. Muito mais que aos personagens de comportamento infantil e crianças adquirindo um novo senso de maturidade, o filme realça adultos sendo redimidos pela liberação da eterna criança em seu interior. MARY POPPINS é a magistral descrição do eterno triunfo da esperança sobre o ceticismo, da juventude sobre a velhice, da vida sobre a morte.

É o grandioso monumento de Disney à imortalidade.

O filme foi indicado à 13 Oscars e recebeu cinco – os de Edição, Som, Canção, Efeitos Visuais e Atriz. Julie Andrews, a favorita desde a humilhação sofrida na escolha do elenco de “My Fair Lady – Minha Bela Dama”, ironicamente venceu a disputa com Audrey Hepburn, indicada ao Oscar pelo papel que justamente seria de Andrews.

Ainda assim, essa conquista foi obscurecida por nuvens de desesperança. Disney tornou a mergulhar em profunda depressão. Por ironia, foi o enorme sucesso de MARY POPPINS que a desencadeou. O acontecimento que lhe proporcionara sensação de redenção pessoal e profissional, embora por breve período, foi seguido pelo letárgico desalento de se saber incapaz de superá-lo.

Spoiler Rating: 86
LBC Rating: ~

Por Marc Eliot - O Príncipe Sómbrio de Hollywood

Os 101 Dálmatas

Este foi um dos últimos desenhos animados realizados sob a supervisão do mestre Walt Disney. E que, inevitavelmente, se inclui na lista dos grandes clássicos do gênero, assim como BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES e PINÓQUIO.

Baseado no livro homônimo de Dodie Smith, a história se passa na cinzenta Londres, onde um casal de dálmatas tem quinze filhotes de uma só vez. Os donos da casa e dos animais recebem a visita de Cruela Cruel, uma velha esnobe e cruenta como lhe convém o nome. Seu desejo é comprar quantos dálmatas surgir e com eles confeccionar um casaco de peles. Ao saber da existência dos quinze pequeninos, decide sequestrá-los e levá-los à sua sinistra mansão.

Mas lá existem mais 84 filhotes, todos sem saber que a morte os aguarda. Em resumo, a história trata de sequestro e resgate. O primeiro é de se esperar, quando conhecemos a vilã Cruela e suas intenções.

O resgate torna-se assim o motivo de aventura e tensão do desenho, que também conta com uma boa dose de diversão. Cachorros, gatos e outros bichos se juntam para encontrar os filhotes e tentar salvá-los.

No original em inglês, a voz do dálmata Pongo (pai dos pequeninios) é de Rod Taylor, ator autraliano que trabalhou na adaptação de H.G. Wells A MÁQUINA DO TEMPO, de 1961, e em OS PÁSSAROS, dirigido por Hitchcock em 1963.

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: ~
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SoSuechtig,Burajiru