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4.2.08

Ben-Hur


Durante muito tempo a superprodução da Metro BEN-HUR foi campeã absoluta em prêmios da academia, recebendo onze Oscars. TITANIC de 1997, dirigido por James Cameron e SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI, de Peter Jackson, empataram com o clássico, quase 40 anos depois.

Estão incluídos na lista melhor filme, diretor e ator, para Charlton Heston no papel de Judá Ben-Hur. Ele é um rico judeu que vive na Jerusalém do início da Era Cristã. Preocupado em evitar o domínio de Roma, acaba se unindo a seus compatriotas mas cria inimizade com o romano Messala.

Hollywood sempre apostou nos épicos religiosos como esse. E BEN-HUR, um enorme sucesso na época, inaugurou o gênero aventura nos moldes que conhecemos hoje.

Uma das sequências mais famosas é a da corrida de bigas, onde também apresenta uma série de novas técnicas em efeitos especiais. Na corrida, boa parte da platéia que se vê foi criada em maquetes e sobreposição de imagens. O resultado é impressionante. São 15 minutos excepcionais e ainda não superados. As belas imagens e enquadramentos, além da direção de Wyler, naturalmente, se devem à excelente fotografia de Robert Surtees (também levou o Oscar).

Spoiler Rating: 82
LBC Rating: ~

Gigi


Na Paris da chamada Belle Époque, uma adolescente - GIGI - está sendo criada pela avó e pela tia para ser uma perfeita cortesã e ter muitos amantes ricos. Mas um solteirão cobiçado se apaixonou por ela.

Baseado no livro de Colette, que Audrey Hepburn interpretou no palco (escolhida pela própria autora) e Daniele Delorme num filme francês (1948), este é o único musical composto especialmente para o cinema pela dupla de MY FAIR LADY, Alan Jay Lerner e Frederic Loewe (ainda por cima com a participação do figurinista e diretor de arte daquele sucesso, o lendário Cecil Beaton, que desta vez se supera). Dirigido com muita elegância por Vicent Minnelli, trouxe de volta o astro francês Maurice Chevalier, que havia sido sucesso nos EUA nos anos 30, e que por este filme ganhou o OSCAR especial e continuou a carreira até o fim da vida.

É ele que conta diretamente para a câmera a história da adorável GIGI e seus problemas românticos (feita por Leslie Caron, de SINFONIA EM PARIS e LILLI, que tem um charme todo especial, ainda que ajudada nas canções pela voz de Betty Wand). O filme foi quase todo rodado em Paris e tem um visual espetacular. É uma pequena jóia de um mundo elegante e sofisticado que não existe mais. A trama também é ousada e divertida, afinal Gigi está sendo treinada para explorar os homens de quem seria amante. Má, inclusive, com uma mãe que nunca aparece em cena. Jourdan saiu-se bem cantando/falando suas músicas, inclusive a canção título que ganhou o OSCAR. O filme mereceu outros OSCARs, Melhor Filme, Direção, Roteiro, Fotografia, Trilha Musical Adaptada (para Andre Previn), Direção de Arte, Figurino. Entre os pontos altos está o dueto "I Remember it Well", e Chevalier agradecendo por não ser mais novo ("I´m Glad I´m not Young Anymore").

Spoiler Rating: 74
LBC Rating: ~

A Ponte do Rio Kwai


Durante a Segunda Guerra Mundial, soldados britânicos são forçados a construir uma ponte sobre o Rio Kwai na Tailândia. Mas acabam ficando orgulhosos demais de sua obra enquanto comandos aliados tentam explodir a ponte.

Antes desse filme, David Lean ainda não era conhecido como o diretor de grandes espetáculos. Baseado no livro de um francês, Pierre Boulle, o mesmo autor de "O Planeta dos Macacos". O roteiro foi escrito inicialmente por Carl Foreman, mas Lean não gostou do resultado e chamaram outro americano exilado pela lista negra do macarthismo, Michael Wilson. No final das contas, nenhum deles pôde ser creditado, e quem absurdamente acabou ganhando o OSCAR foi Boulle. Só mais de quarenta anos depois é que a injustiça foi corrigida.

Para o papel do americano líder do comando que tenta destruir a ponte pensaram no inglês Cary Grant, mas quem ficou com o papel foi William Holden, que se tornou, com a fita, o ator mais bem pago do cinema. Seu agente, lhe conseguiu, além dos 300 mil dólares, 10% dos lucros, o que deixou Holden rico para o resto de sua vida. Para interpretar o Coronel, pensaram em Noel Coward, Laurence Olivier, James Mason, Ray Milland, Charles Laughton, porém, Lean conseguiu convencer seu velho amigo e parceiro de outros filmes Alec Guiness. E para interpretar o comando japonês do campo foi chamado o veterano astro de cinema mudo Sessue Hayakawa, que chegou a ser indicado como coadjuvante no Oscar.

O engraçado é que ele aprendeu os dialogos foneticamente e nunca se deu ao trabalho de ler o roteiro completo, não tinha a menor idéia do que os outros estavam falando. As filmagens no antigo Ceilão, hoje Sri Lanka, foram muito contubardas. Outra imposição dos produtores: Criaram um interesse romântico superflúo, de que Lean nunca gostou, de Holden por uma enfermeira interpretada por Ann Sears, irmã de outra atriz da época, Heather Sears. Foi preciso construir para o filme, uma ponte de verdade, que teria de ser explodida no final, o que aconteceu sem efeitos especiais (Foi para valer mesmo!), ao contrário do livro, no qual isso não sucede. Houve outros problemas: Lean entrou em conflito com o elenco britanico, que era rebelde e não queria usar como tema a antiga marcha militar Coronel Bogney porque ela ficaria conhecida por colocarem nela versos escatólogicos. A solução de Lean foi brilhante: pôs todo mundo assobiando, e a melódia virou desde então um clássico. Premiado com Oscars de Melhor Filme, Ator (Alec Guiness), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Musical e Diretor.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

A Volta ao Mundo em Oitenta Dias


A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS só se tornou realidade devido à ambição de um homem: Michael Todd. Produtor de peso do show business na Broadway, Todd ganhou milhões produzindo os maiores espetáculos musicais dos anos 40/50. Entrou no mundo do cinema na transição do cinema mudo para o falado, fundando um estúdio sonoro, mas só em 1956 lançara o seu primeiro e único filme. A partir de um roteiro que todos tinham a certeza de ser uma bomba, Todd acatou o desafio e decidiu produzir A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS com dinheiro do próprio bolso, após vender a sua parte do Cinerama (o início do WideScreen). O resultado fora uma obra imortalizada com cinco Oscar: Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Montagem, Fotografia e Trilha Musical.

O filme, ambientado no final do século XIX, gira em torno de Phileas Fogg (David Niven, em seu papel predileto), um milionário que freqüenta um clube requintado de almofadinhas em Londres. Fogg é mais conhecido por sua extrema pontualidade, por ter vários relógios em casa e por suas obsessões, como apenas comer a torrada em uma temperatura exata e dividir o armário em roupas para manhã, tarde e noite e de acordo com as estações do ano. E é nesse clube que ele aceita uma aposta com os membros esnobes do igualmente esnobe Reform Club: Dar a volta ao mundo em oitenta dias...

Junto com Passepartout seu fiel e mulherengo mordomo, Fogg, usa toda sua riqueza, em sua viagem, tendo que lidar com o resgate da princesa Auoua, na Índia, com o ataque de índios nos Estados Unidos, com a perseguição do detetive Fix, que acredita piamente que o sr. Fogg é um ladrão de bancos profissional, com os indianos que consideram a vaca um animal sagrado e com muitas outras confusões.

A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS é um excelente filme de aventuras que conta com um elenco estelar onde, entre muitos, encontram-se David Niven, Buster Keaton, Marlene Dietrich, Frank Sinatra, Charles Boyer e Trevor Howard. Cantinflas, o famoso comediante mexicano, em sua primeira aparição num filme americano, está maravilhoso. David Niven e Shirley MacLaine merecem igual destaque.

Spoiler Rating: 78
LBC Rating: ~

Marty


MARTY foi o primeiro filme baseado numa telepeça a fazer sucesso no cinema. Originalmente apresentado no respeitado programa "Playhouse 90", o texto de Paddy Chayefsky, dirigido por Delbert Mann e estrelado por Rod Steiger, foi adaptado para a tela grande por insistência do produtor Harold Hecht. Com o mesmo diretor e Borgnine no lugar de Steiger, a historia sofreu algumas modificações, por simples razões comerciais, como transformar o açougueiro Marty, do Bronx, de judeu, em ítalo-americano, porque a colônia italiana, é bem maior que a judaica, nos EUA.

A historia é simples. O gordo Marty é sempre atormentado pela família, por ainda estar solteiro, aos 34 anos. Certa noite, num salão de baile público, conhece Clara, uma professorinha solteirona (Betsy Blair, na época mulher de Gene Kelly), sensível, mas nada atraente, que acaba de levar um "bolo" num encontro. Os dois se apaixonam. Mas a Sra. Pilletti (Minciotti), mãe de Marty, não tem a menor simpatia pela moça, que não é descendente de italianos. O resto da família e os amigos do açougueiro também tentam convencê-lo de que ele merece coisa melhor. Nas seqüências finais, ele se liberta da influencia de todos e marca um segundo encontro com a moça, chegando à conclusão de que ela é a melhor coisa que ele lhe aconteceu na vida. Satisfeito com o que considera uma vitória pessoal, o desarticulado Marty manifesta sua felicidade dando um soco numa placa de "Pare", o que é bem significativo como um símbolo da sua atitude independente.

As locações em Nova York, fotografadas em preto-e-branco pelas câmeras de Joseph LaShelle, dão autenticidade visual ao filme.

E as perceptivas observações de Chayefsky sobre a forma de gente comum encarar a vida são mantidas, inclusive em alguns deliciosos diálogos, como aquele em que a turma de Marty comenta romances de seu escritor preferido -Mickey Spillane-, vibrando à medida que recordam passagens sanguinolentas das historias, que soam absurdas pelas descrições.

O orçamento da produção foi de apenas 343 mil dólares. A finalidade da empresa produtora, a Hetch and Lancaster´s Steven Productions, de Harold Hetch e Burt Lancaster, era fazer um filme que desse algum prejuízo para descontar nos impostos, dos lucros de outros projetos. Mas quando começou o sucesso de critica e de bilheteria, foram empregados mais de 350 mil em promoção e publicidade

Spoiler Rating: 77
LBC Rating: ~

Sindicato de Ladrões


Depois da morte de seu irmão, um jovem estivador luta contra a organização mafiosa que controla as Docas de Nova York. SINDICATO DE LADRÕES foi premiado com os Oscars de Melhor filme, Roteiro, Direção, Fotografia, Direção de Arte, Ator (Marlon Brando) e Atriz Coadjuvante (Eva Marie). Foi indicado nas categorias de Melhor Música e Ator Coadjuvante (Lee J.Cobb, Karl Malden e Rod Steiger). O dramaturgo Arthur Miller recusou continuar participando do roteiro porque brigou com o diretor Kazan, quando este delatou seus ex-colegas de Partido Comunista perante a comissão de inquérito do Congresso. Schulberg, o roteirista, também foi um dos que delataram os amigos. Por isso, o filme é considerado uma justificativa da delação. A principio o próprio Brando não quis fazer o papel (mas só aceitou porque Kazan era seu descobridor e eles já tinham feito duas fitas juntos). Grace Kelly foi convidada para o papel central mas preferiu rodar JANELA INDISCRETA.

Houve problemas ainda na famosa cena do táxi entre Brando e Rod Steiger, quando ele diz a famosa frase "I Could Be a Contender!" (algo como ''Eu Poderia ser alguém que disputaria os primeiros lugares). Conta-se que durante sete takes Brando não colaborou; e depois, quando foram rodar os closes de Steiger, Brando não participou das cenas - durante anos Steiger nunca mais falou com Brando. A maior parte dos personagens foi inspirada em pessoas reais: Brando em Anthony Di Vicenzo, Malden no padre John M. Corrigan e Lee J. Cobb no gângster Albert Anastasia. Muitos estivadores de verdade trabalharam como figurantes. Foi a estréia de Eva Marie e Balsam, além de ter sido a primeira trilha musical composta para o cinema do maestro Leonard Bernstein (autor de AMOR SUBLIME AMOR e CANDIDE).

Por mais que se admire o diretor Kazan, não há como negar que aqui ele faz uma justificativa ou apologia da delação. O que é no mínimo discutível. Sua inegável importância é mais devido ao fato dele ser grande influência no estilo de representar de toda uma geração, influenciada pelo chamado "Método" de representação do Actor´s Studio. Foi um filme pesquisado, baseado numa série de reportagens, e o autor fez um roteiro exemplar, ficando num meio termo entre documentário e romance. É um filme de denúncia em que certas cenas são admiráveis, assim como a fotografia de Kauffman (irmão de Dziga Vertov), em especial na fuga noturna.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

A um Passo da Eternidade


A UM PASSO DA ETERNIDADE narra, às vesperas do bombardeio na base de Pearl Habor, a vida de oficiais e soldados, seus amores e problemas. Um oficial tem um caso com a esposa do comandante, outro soldado é perseguido pelos colegas e envolse-se com uma prostituta. Até que acontece o inesperado ataque japonês, em 7 de dezembro de 1941, que dá início a entrada dos americanos na Segunda Guerra Mundial.

Premiado com 8 Oscars: Filme, Diretor, Roteiro, Ator Coadjuvante (Sinatra), Atriz Coadjuvante (Donna), Fotografia, Montagem e Som. Indicado também para Ator (Clift, Lancaster), Atriz (Deborah) e Trilha Musical. Há várias lendas sobre a escalação de Sinatra para este papel que salvou sua carreira, na época em decadência. A mais famosa é a lenda de que a máfia teria ajudado matando um dos cavalos de raça do produtor e colocado sua cabeça na cama do homem (cena que foi reproduzida no primeiro filme dO PODEROSO CHEFÃO). De qualquer forma, era Eli Wallach que havia sido escalado para o papel. Sinatra fez o teste e surpreendeu. Para o papel de Prewitt, o chefe do estúdio queria John Derek ou Aldo Ray, e só aceitou Clift porque o diretor Fred Zinneman ameaçou se demitir e o autor Jones também pressionou.

Jones não gostou da fita porque disse que o estúdio "puxou o saco" do Exercito para que eles cooperassem com ela. Curiosamente, a Marinha proibiu a fita em seus quartéis por considera-la ofensiva ao Exercito. O papel do sargento foi oferecido à Edmond O´Brien, mas Lancaster acabou aceitando por 120 Mil Dólares. Joan Crawford iria interpretar a amante de Burt, porém recusou quando não aprovoram seus figurinos (ela queria manter o estilo com ombreiras). Debora Kerr ficou loira e mudou de tipo para esse filme (ela tinha fama de inglesa fria), em que fez uma famosa cena de beijo na praia com Burt (que acabou virando um ícone no filme).

Donna Reed que sempre fazia a boazinha, aqui interpretou a prostituta (Julie Harris havia sido a primeira escolha e Shelley Winters recusou). Borgnine, o vilão, dali a dois anos ganharia o Oscar de Ator como o bonzinho MARTY. Em 1979, foi transformado em minissérie de TV com Kim Basinger.

Numa revisão, a fita não chega a ser tão excepcional como os prêmios fazem parecer. Até a famosa cena de beijo na praia é rápida e malfilmada. Só mesmo Sinatra confirma um inesperado talento. O filme pretende ser um grande painel da base norte-americana no Havaí no momento do ataque japonês, e é infinitamente superior a versão de 2001, de Michael Bay, PEARL HARBOR

Spoiler Rating: 78
LBC Rating: ~

O Maior Espetáculo da Terra


Não há como negar que o Oscar é um prêmio polêmico: distribuído através de votação realizada entre os integrantes do meio cinematográfico, freqüentemente acaba esquecendo grandes artistas e suas obras. Como ignorar que Alfred Hitchcock jamais foi premiado como Melhor Diretor? Como aceitar o fato que CIDADÃO KANE foi praticamente ignorado? Como compreender os critérios para conceder a distinção de Melhor Ator para Roberto Benigni que, por melhor que seja A VIDA É BELA, simplesmente repetiu o mesmo tipo que vem fazendo há mais de uma década?

O motivo que me leva a constatar o óbvio pela enésima vez é simples: ao rever recentemente O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA, senti a terrível frustração de lembrar que esta pretensiosa produção de Cecil B. DeMille tomou o Oscar de Melhor Filme do infinitamente superior MATAR OU MORRER, além de conseguir a proeza de tirar o inesquecível CANTANDO NA CHUVA da competição. Todavia, não há como evitar absurdos como este em eventos que dependem do julgamento humano, sempre sensível ao que ocorre em determinado momento: assim, era previsível que Cecil B. DeMille visse seu filme sair vitorioso da cerimônia, já que naquela noite também estava recebendo o prêmio Irving G. Thalberg (justamente pelo conjunto de sua obra - quatro anos antes de dirigir seu último e mais marcante trabalho, OS DEZ MANDAMENTOS).

Assim, é ironicamente triste constatar que este seu mediano esforço foi o primeiro a lhe render o Oscar de Melhor Filme. Estrelado por um elenco de primeiríssima linha, O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA gira em torno da incrível determinação necessária para se manter um circo funcionando. Logo de início, descobrimos que os executivos por trás do espetáculo não querem realizar uma longa temporada, já que isso fatalmente geraria prejuízos. Preocupado com seus artistas, que dependem daquele trabalho para viver, o administrador/gerente/diretor Brad Braden (Charlton Heston) convence seus patrões a esticarem a temporada ao contratar um verdadeiro 'ás do trapézio', o mulherengo Sebastian (Cornel Wilde). Infelizmente para Brad, isso significa tirar a apresentação de sua namorada, Holly (Betty Hutton), da arena central - algo que a magoa terrivelmente (especialmente por lhe provar que Brad só se preocupa com o show). Decidida a recuperar a atenção do público, Holly passa a se arriscar cada vez mais em suas performances e Sebastian, ao mesmo tempo em que tenta conquistá-la, entra na competição e também realiza malabarismos de tirar o fôlego. O suspense criado por este 'duelo' representa alguns dos melhores momentos do filme.

Simultaneamente, somos apresentados ao gentil palhaço Buttons (James Stewart). Sempre com uma palavra de consolo para oferecer, ele tem a estranha mania de andar constantemente maquiado - mesmo quando o circo não está se apresentando em lugar algum. O segredo que Buttons esconde é outro ponto positivo da trama (e é dele um dos poucos diálogos memoráveis do filme: 'Palhaços são pessoas engraçadas', ele diz para Holly. 'Só amam uma vez').

Infelizmente, O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA também gasta um tempo precioso desenvolvendo uma sub-trama completamente dispensável que foi obviamente criada para justificar o impressionante acidente de trem ocorrido no terceiro ato (algo que poderia acontecer sem a necessidade de se colocar a Máfia na história). Além disso, somos obrigados a escutar uma narração pretensiosa e óbvia que, além de não informar nada de novo, acaba tirando o impacto das cenas em que vemos a enorme quantidade de pessoas necessária para se manter o circo funcionando. Para completar, o triângulo amoroso formado por Sebastian-Holly-Brad funciona de maneira inversa: enquanto o roteiro nos pede para torcer por Brad, é Sebastian quem se destaca como a opção mais divertida para o espectador, já que o personagem de Heston afasta qualquer tipo de simpatia com seu tipo durão (característica constante no trabalho do ator).

Sempre adepto de um bom show, Cecil B. DeMille não poupa o espectador de assistir a vários números circenses - alguns dos quais, sejamos honestos, são muito bons. Porém, também somos obrigados a assistir aos números sem graça dos palhaços (que funcionam um pouco melhor ao vivo) e, o que é pior, a um interminável desfile temático protagonizado por personagens da Disney, cavalos e elefantes. Para tornar tudo ainda pior, o diretor não se cansa de mostrar os rostos 'maravilhados' do público que assiste ao espetáculo e estas inserções constantes acabam irritando - além de comprometerem o ritmo do filme (nem as pontas de Bing Crosby e Bob Hope as justificam). Como se não bastasse, DeMille ainda acrescenta dois entediantes números musicais, incluindo um terrivelmente dublado por Hutton e Stewart enquanto saltam em uma cama elástica. Seja como for, os figurinos criados por Edith Head e suas colegas são deslumbrantes e - desta vez, sim - deveriam ter sido premiados com o Oscar (perderam para as roupas de época exibidas em MOULIN ROUGE).

O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA nos reserva, ainda, um impressionante desastre ferroviário. Infelizmente, esta 'virada' na trama não combina em nada com o que acontecera até então, parecendo pertencer a um outro filme. Além disso, a radical mudança no comportamento de Holly nos minutos finais é apresentada de forma pouco convincente, demonstrando ser uma óbvia tentativa por parte do roteiro de nos fazer aceitar a resolução de um história de amor que, na verdade, jamais conseguiu atrair nossa atenção.

O Cinema está sempre nos ensinando algo: talvez a lição, desta vez, seja a constatação de que nem sempre um filme deve ser cegamente alardeado como 'clássico' - mesmo que tenha recebido o prêmio máximo da indústria e contado com a direção de um dos maiores cineastas da história.

Spoiler Rating: 67
LBC Rating: ~

Sinfonia de Paris


SINFONIA DE PARIS conta a estória de um pintor americano, em Paris, sustentado por uma mulher rica que se apaixona por uma modelo-bailarina.

Trata-se de um musical clássico da Metro (que pertence à Turner e, portanto agora a Warner) que ganhou sete OSCARs, inclusive de Melhor Filme, Roteiro, Fotografia, Trilha Musical Adaptada, Direção de Arte, Figurino e um especial para Gene Kelly pela Coreografia. Produzido por um gênio do gênero, Arthur Freed, praticamente todo rodado em estúdio.

O filme é célebre por ter lançado a francesinha Leslie Caron (descoberta por Kelly) e ter um longo balé final no qual se reproduzem quadros de pintores famosos ao som da musica título de Gerswhin (alías, toda a trilha musical reúne obras já então clássicas do compositor)

Um pouco artificial e pedante, mesmo assim o filme tem momentos mágicos, como a dança do casal à beira do Sena ("Our Love is Here to Stay"). A edição daqui e dos EUA não traz qualquer extra, fora o trailer, mas a capinha reproduz o pôster original.

Spoiler Rating: 73
LBC Rating: ~

A Malvada


Durante a entrega de um prêmio teatral para Eve Harrington (Anne Baxter), várias pessoas que a conheceram e ajudaram - e foram traídas de alguma forma - relembram sua ascensão.

A MALVADA é uma comédia dramática. Um clássico do gênero e até hoje recordista de indicações ao Oscars (14), tendo levado os prêmios de Melhor Filme, Direção, Roteiro (o mesmo Joseph L. Mankiewicz), Ator Coadjuvante (George Sanders), Som e Figurinos. Anne Baxter e Bette Davis foram ambas indicadas, mas perderam para Judy Holliday. O papel de Bette deveria ser de Claudette Colbert, mas ela se machucou e saiu do projeto).

Um dos melhores textos sobre o mundo do teatro, vagamente inspirado em fato real acontecido com a estrela Tallulah Bankhead (Bette em certos momentos até a imita) e que serve de padrão para qualquer personagem que deseja subir na vida a qualquer preço, mesmo traindo amigos e parceiros. Um elenco excepcional inclui até mesmo uma pontinha de Marilyn Monroe, estrelinha em ascensão. Sempre um prazer sofisticado.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

2.1.08

O Sétimo Selo

O silêncio de Deus, presente em toda a obra do sueco Ingmar Bergman, é amplificado em O SÉTIMO SELO (1957). "Parece que ninguém me ouve", lamenta o cavaleiro Antonius Block (Max von Sydow), que volta das Cruzadas atormentado por dúvidas sobre o significado de sua ação e o destino de suas preces. "Talvez não haja ninguém", sugere a Morte (Bengt Ekerot), que veio buscá-lo. "Somos pequenos e assustados em nossa ignorância", reconhece Block, mais tarde.

A Morte joga com as peças pretas a célebre partida de xadrez para a qual o cavaleiro a desafia. Enquanto o xeque-mate é postergado, Block e seu escudeiro cético (Gunnar Björnstrand) vagam por uma região devastada pela peste. Essa alegoria medieval resume, em imagens clássicas, o estilo e as preocupações existenciais de Bergman. Prova de sua popularidade é que até o humor de Woody Allen (em A ÚLTIMA NOITE DE BORIS GRUSHENKO) e do grupo Monty Python (em O CÁLICE SAGRADO e O SENTIDO DA VIDA) já fizeram referência a seus elementos-chave.

Bergman se baseou na peça "O Retábulo da Peste", que havia escrito para alunos da escola de teatro na qual lecionava. "É um dos poucos filmes de minha autoria que me acalenta o coração", diz ele no livro "Imagens". Sua síntese da obra: "O enigmático, o além, não existe. Tudo é deste mundo". Silêncio.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

11.8.07

A Bela Adormecida

Dentre todos os contos de fadas clássicos adaptados por Disney para as telonas, A BELA ADORMECIDA ocupa um lugar de destaque. Walt Disney instigou seus artistas a criarem "ilustrações em movimento", isto é fazer com que cada fotograma tivesse vida independente do filme em si, como uma bela ilustração. Ele pediu à sua equipe de animadores que "criassem personagens os mais reais possíveis, quase de carne e osso, e que se identificassem com eles". Como modo de garantir isso, modelos-vivos foram filmados para servir como objeto de estudo e de referência aos artistas.

A fim de enriquecer o visual ilustrativo do filme, Disney requisitou os serviços de um grande ilustrador de cenários do estúdio, o talentoso artista Eyving Earle. Earle fez uma fusão das influências góticas francesas, italianas e renascentistas com seu próprio estilo abstrato de realismo, criando a beleza formal e o desenho estilizado que se vê em A BELA ADORMECIDA. Um dos exemplos desta técnica consistia em desenhar objetos em primeiro plano com a mesma definição com que se desenhava uma árvore ao fundo, a 15km de distância. A influência de Earle também pôde ser sentida no desenho dos personagens, cujo traço era marcadamente vertical e angular, em contraste com os desenhos mais arredondados e suaves das produções de animação anteriores do estúdio.

A BELA ADORMECIDA, uma realização técnica espetacular que se aproveitou de todos os recursos do formato widescreen, foi o primeiro longa-metragem animado a ser filmado em bitola 70mm. Empregando um processo até então inédito, chamado Technirama-70, os artistas Disney foram capazes de criar cenas panorâmicas em um Technicolor reluzente, incluindo uma animação cheia de minúcias de detalhes. A ilusão impressionante de profundidade de campo e dimensão do filme é fruto do casamento dos recursos da câmera de planos múltiplos e do widescreen.

A trilha instrumental de A BELA ADORMECIDA é uma coadjuvante da ação nas telas - a música acentua o apelo emocional da estória, conferindo ainda mais impacto e emoção às cenas de amor entre o príncipe e a princesa, às cenas cômicas das três fadinhas e à cena climática do duelo final entre o príncipe e o dragão. O filme inclui ainda cinco canções retiradas do balé original de Tchaikovsky, que ganharam letras e foram transformadas em temas dos personagens. "Once Upon a Dream" e "I Wonder" são interpretadas por Mary Costa. As demais são "Hail the Princess Aurora", "The Sleeping Beauty Song" e a cômica canção "Skumps", interpretada pelos dois reis.

A BELA ADORMECIDA explora simbolicamente um processo de crescimento e maturação dos adolescentes com o qual se pode explorar também outros valores tão importantes para a realidade dos jovens: As forças do mal e as forças do bem. Crescimento, maturação, responsabilidade, proteção excessiva dos pais que não impedem o rumo dos acontecimentos.

A adolescência é um período de grandes e rápidas mudanças, caracterizada por espaços de completa passividade e letargia, alternando com atividade frenética, até mesmo de comportamento perigoso para "darmos provas" ou para descarga de tensões interiores. Este comportamento do vaivém adolescente encontra expressões em A BELA ADORMECIDA. Numa interpretação contemporânea, por exemplo, o fuso onde ela se pica (a agulha), pode ser considerado como um símbolo de drogas pesadas que podem levar à morte.

Os presentes das fadas na altura do batizado da criança têm como justificação o contraste com a praga da bruxa má: Ao fim de quinze anos a princesa espetará o dedo no fuso de uma roca e morrerá. A última das fadas boas consegue mudar a ameaça de morte em um sono de cem anos. (...) O que pode parecer um período de passividade como a morte, no fim da meninice, não é senão um período de crescimento sossegado e de preparação, do qual a pessoa sairá adulta, pronta para a união sexual, ou seja, a adolescência.

Todos os meticulosos esforços envidados pelo Rei para evitar a praga lançada pela Rainha Malévola falham. Remover todas as rocas do reino não evita o fatídico destino quando a filha chega aos quinze anos, tal como a fada havia profetizado. Sejam quais forem as precauções tomadas pelo pai, quando a filha estiver madura para tal, começará a puberdade. A ausência temporária de ambos os pais, quando isto acontece simboliza a incapacidade deles protegerem os filhos das várias crises de crescimento pelas quais todo o ser humano tem de passar.

Em A BELA ADORMECIDA constatamos que não só ela, mas todo o seu mundo - os seus pais, todos os habitantes do castelo - retornam à vida no momento em que ela retorna. Se formos insensíveis ao mundo, este deixa de existir para nós. Quando a Bela Adormecida entrou no sono, também o mundo adormeceu para ela.

Spoiler Rating: 83
LBC Rating: ~

Por Marc Eliot (O Príncipe Sómbrio de Hollywood)

Nesta Linda Bella Notte

Em 1955, eles dividiram um prato de espaguete e entraram para a história...

Lady é uma pequena cocker spaniel que chega à casa de uma tradicional família européia, no início do século XX, para trazer alegria ao local. O tempo passa, ela cresce. A querida senhora da família fica grávida e, com isso, Lady passa a se sentir em segundo plano. Amparada pelos amigos Fiel, um cão que perdeu o faro, e Joça, ela tenta se confortar com a nova fase de sua vida – justamente quando Vagabundo, um cão que costuma passear pelas ruas da cidade, cruza sua vida. Quando os donos da casa precisam viajar, eles chamam a tia Sarah para cuidar do neném recém-nascido. Dona de dois gatos malvados causa um desespero interior em Lady, que a leva a fugir de casa. Cabe então a Vagabundo fazê-la refletir sobre a situação e dar a volta por cima.

Algumas das mais belas cenas de toda a história do cinema também foram realizadas neste longa. Como não pensar no filme e não lembrar do inesquecível jantar no beco do restaurante italiano, onde os dois cachorrinhos comem uma bela macarronada e se beijam através de um macarrão que interliga as duas bocas? Simplesmente apaixonante. Aliás, esse é uma outra característica forte dos grandes clássicos da Disney, de nos fazer identificar com as situações vividas pelos personagens, mesmo estes sendo animais - e nos emocionar com isso.

A Disney fez a acertadíssima opção de não se entregar ao clichê do amor impossível entre duas "pessoas" de classes diferentes e trabalhou o roteiro em cima de outro conflito, o do retorno para casa com um sub-texto interessantíssimo sobre liberdade x responsabilidade. Criado em uma época pré “Easy Rider” estadunidense, o filme se torna historicamente importante também, afinal, todos querem viver livres, mas como Lady pergunta a Vagabundo, “mas quem cuidaria dos bebês?”.

O filme é mais lento, charmoso, delicado do que os demais também. Dá um passo de cada vez, sem pressa, nos apresentando tudo de forma forte e deliciosa. Regado com belíssimas canções, é uma viagem apaixonante e até mesmo os clichês não incomodarão. Se há falhas (alguns personagens que passam rápido demais na estória, influenciam o caminho dos personagens e depois são esquecidos mais rápido ainda), essas se tornam pequenas perante a declaração de amor que é A DAMA E O VAGABUNDO – o maior e melhor animal de estimação que o cinema já teve.

Spoiler Rating: 80
LBC Rating: ~

Por Marcos Petrucelli (E-Pipoca), Lóiam Torres (Animatoons), Marc Eliot (O Príncipe Sombrio de Hollywood) & Diana e Mário Corso (Fadas no Divã)

Peter e o Tempo

PETER PAN é o tempo. Hook e o crocodilo também são o tempo, mas em aspectos diferentes do tempo. A fábula em si já pertence ao senso-comum, tendo sido, desde Disney em 1953, várias vezes adaptada para o cinema, tv, teatro, literatura: três irmãos são levados para a Terra do Nunca por um garotinho sem mãe e que nunca cresceu. História para por criança para dormir. Boi também.

O que muda é o modo como é contada, que permanece atual. Contada por um narrador ora observador e ora personagem, uma vez que conversa com os outros personagens e com os seus leitores, a história se desenvolve como um grande interlúdio real-fantástico na vida da família Darling. O sobrenome da família dá indicações da sua constituição, assim como o pirata James Hook tem um gancho no lugar de uma das mãos. Os nomes próprios assumem conotações narrativas, como os deuses nos mitos dos cultos religiosos através dos tempos.

Entretanto, a leitura de PETER PAN se faz permeada por essa noção de que além de fábula infantil é também uma reflexão sobre o passar do tempo. A narrativa deixa de ser um mero episódio feliz da infância para ganhar uma dimensão transcendente, além da literalidade que lemos de início. Peter Pan, garoto-que-não-cresce, envelhece enquanto personagem da fábula e passa a ser o tempo estagnado na infância imaginativa e imagética, tal qual o próprio romance, originalmente uma peça de teatro. James Hook é a possibilidade, do ponto de vista infantil – sempre – de crescer e ser obliterado pelas vicissitudes de uma vida de responsabilidades. A sua roupa de pirata lhe concede ares maquiavélicos associados às mesmas supracitadas responsabilidades.

E o crocodilo? O crocodilo é a morte. Ele é o relógio que faz tique-taque e que um dia some ou quebra e termina a história. Seja ela a do Capitão Hook ou a do leitor que se dá conta de que perdeu os jogos de imaginar da infância e mesmo que se empenhe não pode recuperá-los e que o seu envelhecer e subseqüente morte são uma realidade. Nós sempre nos imaginamos eternos, Peter Pan de J. M. Barrie diz que não. Peter Pan mora na Terra do Nunca, onde as crianças não crescem nem ficam mais velhas. Às vezes, durante a infância nos foi permitido visitá-lo, para ouvir suas histórias egocêntricas, e fazer a limpeza de primavera da sua casa entre as fadas.

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Fonte Desconhecida

Alice e o Tempo

Positivamente, ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS se distingue entre todos os outros filmes do estúdio por fugir do que temos em mente como "o padrão Disney": a heroína não tem nenhum grande propósito ou dilema - ela é apenas uma espectadora das coisas que acontecem ao seu redor; há pouco ou nenhum comprometimento com a realidade.

Alice é uma menina curiosa e cansada de seu mundo monótono. Acaba caindo no maluco País das Maravilhas ao seguir o apressado Coelho Branco. Lá conhece personagens como os irmãos gêmeos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum, o Gato Risonho e a Lagarta, toma chá com a Lebre Maluca e o Chapeleiro Louco e participa de um jogo de cricket com a Rainha de Copas.

A falta de uma protagonista com maior personalidade e de um foco central para a história podem ter deixado alguns espectadores indiferentes ao filme, mas há muito que se admirar no filme, a começar por seus aspectos técnicos: com o trabalho da artista Mary Blair servindo de grande inspiração para os artistas, o mundo "de verdade" de Alice é retratado com cenários detalhados e fieis à realidade, enquanto, o País das Maravilhas é retratado com formas exageradas e irregulares, com texturas estilizadas e grandes áreas dos cenários pintadas com mínimas tonalidades de cor. Os efeitos especiais são usados em todo o seu potencial, com lágrimas gigantes transformando-se em uma enchente, a vela de um bolo estourando em fogos de artifício e o ponto alto do filme, em que o exército de cartas de baralho da Rainha desfila enquanto uma cornucópia de cores pisca diante de nossos olhos.

Alice é uma obra que permite muitas interpretações. Uma delas pode ser a de que a obra representa uma associação muito forte com a adolescência. Parece que ela entra nessa aventura sem pensar em nada, tão de repente quanto se entra na adolescência. Podemos ver no filme: “No mesmo instante, lá se foi Alice atrás dele, sem nem parar para pensar de que jeito é que ia conseguir sair depois. A toca era a entrada de um túnel, que continuava um pouco para adiante e depois descia pela terra adentro, tão de repente que Alice nem teve tempo de pensar, antes de começar a cair numa coisa que parecia ser um poço muito fundo” e “Continuava caindo, caindo, caindo. Será que a queda não ia chegar ao fim nunca ?”.

E a questão do tamanho nos faz novamente lembrar da adolescência. Ela parece integrar todos os episódios da estória. Alice está sempre crescendo e diminuindo dependendo da situação e isso certas vezes é conveniente ou não para ela.

Logo no inicio, Alice tem seu tamanho reduzido, que parece sugerir insignificância. A transformação pela qual Alice passa leva-a a refletir sobre a possibilidade de reduzir até acabar, fazendo-a “sumir completamente, como uma vela”. O tamanho pequeno a faz pensar em si mesma como algo insignificante: “As coisas estão piores que nunca - pensou a pobre criança - pois nunca fui tão pequena assim antes, nunca!”. E também no episódio no qual ela pensa em se fingir de duas quando diz “Mas agora não adianta nada fingir que sou duas pessoas – pensou a pobre Alice – Na verdade estou tão mínima que o que sobrou de mim, mal chega a fazer uma pessoa decente.” Esses episódios parecem corresponder, portanto, ao arquétipo da criança – pequena ou insignificante.

Noutro momento, Alice bebe o líquido de nova garrafa e torce para que os efeitos sejam os desejados: “Espero que me faça crescer de novo, porque estou realmente cansada de ser esta coisinha tão pequenininha”. Comparamos isso com o fato de, em alguns momentos, o adolescente se sentir como uma criança, insignificante e incapaz de exercer um papel na sociedade.

Há também episódios nos quais Alice cresce de modo desenfreado. Na casa do coelho ela fica presa por ter crescido demais. Comparamos isso com a insatisfação adolescente de crescer e ter a responsabilidade de fazer o que a sociedade espera dele, ficar preso em convenções. Isso é representado também no episódio da lagoa de lágrimas no qual se vê “Pobre Alice! O máximo que ela conseguia fazer, se deitasse de lado, com a cara no chão, era botar um olho diante da porta e olhar o jardim. Entrar tinha ficado mais impossível do que nunca. Então ela sentou e começou a chorar de novo”. E nesse mesmo episódio observam-se contrastes da adolescência quando ela ordena a si mesma que pare de chorar por ser feio uma menina tão grande chorando daquele jeito, mas o conselho não lhe adianta de nada e ela continua a chorar.

Mas é possível perceber uma grande quantidade de circunstâncias nas quais o tamanho representa novas possibilidades para Alice como representa o ser criança ou ser adulto para um adolescente. Sendo pequena ela pode entrar no jardim, mas sendo grande ela pode pegar a chave. Sendo grande ela também se sente mais confiante em relação ao julgamento no último capítulo do livro. Alice passa a superar seus obstáculos graças a efeitos mágicos próprios do novo mundo no qual foi inserida. Há uma passagem na qual seu pescoço cresce muito e ela tem uma possibilidade inimaginável de observação. É uma nova visão do mundo. Como a nova perspectiva de um adolescente sobre o mundo. Porque depois de experiências vividas principalmente nessa idade temos uma nova visão de mundo, uma nova visão das situações.

Mesmo sentindo saudades dos seus “velhos tempos” como no momento no qual ela diz “Em casa era muito mais agradável – pensou a coitada – eu não ficava toda hora aumentando e diminuindo, nem encontrando camundongos e coelhos que ficam me dando ordens. Já estou quase me arrependendo de ter entrado na toca do coelho”, Alice gosta desse novo mundo, e logo contrapõe “acontece que essa vida por aqui pode ser bem divertida, de tão estranha que é!”. O mesmo acontece com adolescentes que gostavam de suas vidas como crianças, mas adoram as novas possibilidades que a adolescência os traz.

As novidades do país das maravilhas (e, por que não dizer, do tamanho) fazem-na sentir a potência do recurso mágico, desejá-lo para sentir-se invencível – “quando eu for grande, vou escrever um conto de fadas”. É como se dissesse que gostaria de dominar seu mundo, controlar suas regras, regular suas engrenagens.

Encontra-se toda uma questão de formação de personalidade. Podemos perceber isso no trecho da conversa com a lagarta que pergunta a Alice quem é ela e ela, por sua vez responde “A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma”. E é exatamente assim que acontece com o adolescente, as mudanças são rápidas e grandes e não se tem noção de quem se é, porque a cada dia você muda ao menos um pouco.

Ao final, ao longo do julgamento, Alice vai crescendo num ritmo menos acelerado se comparado com todas as outras vezes nas quais ela cresceu. Mas o limite desta transformação é o tamanho natural da menina. Tamanho que tinha antes de entrar na toca atrás do coelho. Que é muito maior que o tamanho das criaturas ali presentes. Ela se torna mais confiante com seu tamanho e se vê numa nova condição para dialogar com o mundo.

Assim, conseguimos entender a coragem de Alice na cena final do julgamento, ainda no sonho, momentos antes de acordar, em que confronta a Rainha, sem se importar com nenhuma das ameaças. Quando é mandada calar, a menina investe contra as cartas dizendo “Quem se importa com vocês - disse Alice, que já tinha crescido até voltar ao seu tamanho verdadeiro. – Vocês não passam de cartas de baralho”. Pouco a pouco ela se sente mais segura e passa a se entender com seu tamanho real e a partir daí está pronta para acordar de seu sonho como um adolescente que amadurece partindo para a vida adulta.

Depois de Alice acordar sua irmã fica pensando nela “Ela imaginou como sua irmãzinha (...) ia se transformar em mulher feita e como ela guardaria, nos anos mais maduros, o coração simples e amoroso de sua infância. E como reuniria em volta de si outras crianças, seus filhos, e faria seus olhinhos ficarem brilhantes e curiosos com (...) o sonho que tivera com o País das Maravilhas muito tempo antes”. Parece que é alguém que já passou pela adolescência falando dela, com certa nostalgia e saudade. Parece que a irmã de Alice percebe que ela cresceu.

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Do Wikipédia

Você precisa de uma Abóbora!

Provavelmente o mais popular dos clássicos de Walt Disney, esta versão animada de CINDERELA já faz parte da nossa cultura popular e, assim como ocorreu com BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES anos antes, se firmou como a versão definitiva do famoso conto-de-fadas. Lançado em 1950, CINDERELA (também conhecido como A GATA BORRALHEIRA até alguns anos atrás) foi o primeiro verdadeiro longa-metragem Disney desde BAMBI de 1942. Devido aos problemas financeiros enfrentados pelo estúdio no período de guerra e pós-guerra, Walt se viu obrigado a produzir filmes de forma mais econômica, produzindo longas da união de diversos curtas animados. A produção de CINDERELA foi um grande risco para Walt e, caso o filme não fosse um sucesso, poderia significar o fim dos estúdios Disney. Como sabemos atualmente, essa história teve um final feliz.

Não há uma pessoa no mundo que não conheça o conto de Cinderela ou uma de suas diversas interpretações. Inspirado na versão de Charles Perraut, o filme Disney conta a história da menina que fica sobre os cuidados de sua cruel madrasta após a morte de seu pai. Atormentada por suas feias e invejosas meias-irmãs, Cinderela é obrigada a trabalhar como criada em sua própria casa. Ainda assim, a garota cresce cada vez mais bonita e nunca perde a esperança de que um dia as coisas possam melhorar. Esse dia chega quando o Rei convoca todas as jovens solteiras do reino para um baile em homenagem ao Príncipe, e todos sabemos para onde a história irá a partir desse ponto.

CINDERELA foi produzido em uma época problemática para os estúdios Disney, e isso significava que Walt não poderia ousar em caros experimentos como havia feito com seus primeiros longas-metragens. Essa implicação é refletida na tela, pois os visuais de CINDERELA são muito mais simples do que os vistos em PINÓQUIO e BAMBI (a não ser pelos imaginativos cenários inspirados pela diretora de arte Mary Blair) e a animação dos personagens é mais presa às limitações das referências com atores reais. Deste modo, o filme se sustenta na força de sua história e no charme de seus personagens, e são estes os fatores chave para o seu sucesso. CINDERELA é a clássica história da menina em apuros, e o que faz a mesma funcionar é o fato de podermos nos identificar com o sofrimento da personagem. Quando Cinderela tem seu vestido rasgado e é deixada para trás, nos sentimos mal ao vermos todos os sonhos da jovem serem jogados fora, mas ao mesmo tempo sentimos uma grande satisfação quando ela finalmente sucede sobre suas adversárias ao final.

Walt Disney já foi alvo de muitas feministas por suas heroínas passivas e complacentes, mas a verdade é que Cinderela é uma personagem muito mais forte do que Branca de Neve, e pode ser considerada uma antecessora das atuais heroínas independentes como Bela e Pocahontas. Apesar de ser bondosa e sonhadora, Cinderela não se deixa subestimar por sua madrasta e meias-irmãs, e até mesmo possuiu uma ponta de ironia em algumas de suas falas (“Talvez deva interromper a... lição de música”). Quando fica sabendo sobre o baile, por exemplo, ela assume sua posição como parte da família e lembra que o convite também se estende a ela. Um dos ingredientes principais para o sucesso da personagem é a voz de Ilene Woods, que possui uma qualidade de princesa de contos-de-fada, mas também uma autoconfidência e segurança que a torna uma heroína contemporânea.

Mas o que torna Cinderela uma heroína ainda mais forte é a presença de uma perversa vilã. A Sra. Tremaine não é apenas uma das mais assustadoras vilãs dos estúdios Disney, mas também uma das mais reais. Não sendo provida de nenhuma espécie de poder mágico, a Madrasta é uma pessoa fria e calculista que faz todo o trabalho sujo com suas próprias mãos, não tendo medo de mostrar suas verdadeiras cores na frente dos outros personagens e não medindo esforços para fazer a vida de Cinderela miserável. Sua introdução é uma das mais interessantes de qualquer personagem Disney, sendo apresentada em meio às sombras apenas com seus olhos em realce. A vilã ainda proporciona alguns dos melhores momentos de atuação no filme, graças à poderosa animação de Frank Thomas e a ríspida e elegante voz da atriz Eleanor Audley. O espectador pode sentir em sua dominadora expressão o ódio que sente por Cinderela, e seus brilhantes diálogos alternam entre linhas calmas e frias e momentos de súbita fúria.

Assim como em BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES, apenas a história de Cinderela não seria o bastante para carregar um longa-metragem inteiro, então aqui temos a introdução de uma galeria de animais que fazem companhia para a personagem-título. O subpiloto dos ratinhos Jaque e Tatá e sua rivalidade com o gato Lúcifer é perfeitamente inserido na história principal – ao final, Cinderela apenas sucede porque os ratinhos também sucedem sobre seu adversário. O grande destaque dado aos personagens cômicos, fazem de CINDERELA um filme mais leve e menos sombrio que BRANCA DE NEVE e A BELA ADORMECIDA, mas há alguns momentos brilhantemente dirigidos que merecem destaque. Um deles é a cena em que as meias-irmãs rasgam o vestido de Cinderela, momento de pânico interpretado com o uso de uma edição rápida e um dramático uso de cores. Outro é a quando os ratinhos devem percorrer a longa escadaria a fim de levarem a chave para Cinderela a tempo, em uma cena com suspense digno de um filme de Alfred Hitchcock.

Apesar de não ter a ambição de FANTASIA ou PINÓQUIO, CINDERELA é um dos filmes mais satisfatórios emocionalmente produzidos por Walt Disney, e isso é o que o faz permanecer uma das mais memoráveis obras do estúdio. Ainda que não esteja exatamente no mesmo patamar dos filmes já citados, CINDERELA não perdeu nem um pouco de seu charme mais de cinqüenta anos após seu lançamento.

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Por Lóiam Torres (Animatoons), Marc Eliot (O Príncipe Sombrio de Hollywood) & Diana e Mário Corso (Fadas no Divã)
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