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9.2.08

Os Infiltrados


Em OS INFILTRADOS, Scorsese trabalha com uma história dupla: Collin Sullivan (Matt Damon) é um informante do chefão da Máfia de Boston, Costello (Jack Nicholson), infiltrado na polícia. De outro lado, Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) vê-se em situação inversa. Forja-se um crime que justificaria a sua expulsão da polícia e, logo em seguida, ele se vê integrado à gangue. Na verdade, é um informante da polícia, plantado junto a Costello. Os Infiltrados é, portanto, uma história de lealdades e traições. De agentes duplos que têm de fingir ser o contrário do que são. Mas que, fingindo, descobrem que os dois extremos curiosamente se tocam, e em mais de um ponto.

A estratégia de Scorsese não é dizer que não existem fronteiras entre a lei e o crime, posição tão niilista quanto simplificadora. Mas é discutir onde estão os limites entre um domínio e outro e por que motivo eles parecem se interpenetrar mais de uma vez. Por outro lado, existe um substrato que costuma borrar e confundir essas fronteiras móveis - a violência que aparece na base de formação da sociedade americana, talvez mais do que em outras. Esse tema, que aparecia com tanta clareza em Gangues de Nova York (e talvez uma das fraquezas deste filme estaria em explicitá-lo tanto), é lido aqui nas ações cotidianas dos seus personagens. A certa altura, alguém diz: 'Neste país parece que todos se odeiam' e com esta frase define-se o espírito da coisa.

Scorsese não precisa fazer sociologia, ou mesmo buscar explicações muito profundas para entender que, quando se elege a competição como motor principal da vida em sociedade, a violência surge como decorrência natural. Aceitando-se um termo da equação será preciso aceitar outro. Isso sabemos. O grande cinema, como o de Scorsese, tem o dom de dramatizar a constatação óbvia. Torná-la narrativamente convincente e emocionalmente impactante.

Spoiler Rating: 91
LBC Rating: ~

14.11.07

Os Infiltrados

Não existe paz, habitualmente, nos filmes de Martin Scorsese. O conflito é seu fundamento. Não existe um minuto de paz em OS INFILTRADOS: Estamos em Boston e a polícia tenta organizar uma operação contra a gangue de Frank Costello (Jack Nicholson). Para tanto, convoca o explosivo policial Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) para a ingrata missão de se infiltrar entre os mafiosos.

O que o chefe da polícia (Martin Sheen) não sabe é que Costello fez coisa idêntica: infiltrou em seus quadros Colin Sullivan (Matt Damon).

Este filme retoma certos aspectos de GANGUES DE NOVA YORK, como a idéia da ação secreta de alguém que se une ao inimigo visando aniquilá-lo. Se "Gangues" fazia referência à origem violenta, bárbara de Nova York, que seria uma espécie de segunda natureza da nação, aqui, Scorsese se refere, a horas tantas, a um país onde todo mundo odeia todo mundo.

Dito isso, estamos às voltas com o tema da traição, que é um sucedâneo da espionagem, no sentido de jogo duplo, mas também do teatro, desde que os antagonistas representem papéis: ser o que são e também seu contrário. Esse jogo nos conduz por um estranho xadrez em que o bem e o mal tornam-se instituições intercambiáveis. O mocinho e o bandido são figuras num espelho. Quem é um e quem é outro? Qual é a realidade e qual a aparência?

Essa é a questão que o mundo contemporâneo nos coloca todo o tempo: o que é simples imagem e que imagem contém verdade?

Mas esses "personagens-espelho" existem nesse país em que todo mundo se odeia -e isso faz diferença no filme. É possível que as pessoas não se odeiem mais, "nesse país", do que em qualquer outra parte do mundo, mas para Scorsese isso não minimiza o fato de haver aí uma disfunção.

Desta vez o conflito se reveste de um caráter ético-político claro, como nos filmes do diretor do começo dos 70. Não por acaso, os infiltrados são chamados de "ratos" por Costello. Esses roedores acabam com tudo, minam tudo. Mas ele próprio, Costello, se serve deles, porque os ratos não são uma anomalia, eles são o fundamento do funcionamento desse mundo.

À medida que o filme evolui, passamos, com efeito, do fato isolado, do drama individual dos dois homens, suas motivações e armas, para uma observação geral sobre o funcionamento das instituições. E a maneira cruel de Martin Scorsese observar o mundo, a América em particular, não vem de hoje.

E essa é a maneira como se adapta a um momento em que o cinema político parece ressurgir com força, colocando o tema da degradação dos costumes e da corrupção à frente: assim fazem Claude Chabrol (A COMÉDIA DO PODER) e Nanni Moretti (O CROCODILO).

Spoiler Rating: 91
LBC Rating: ~

Por Gill Pringle (Independent) & Inácio Araujo (Folha)
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