Tommy Lee Jones é conhecido por uma variedade de personagens, o conspirador assassino em JFK de Oliver Stone, o "Duas Caras" de BATMAN ETERNAMENTE, o agente do governo impassível de MIB: HOMENS DE PRETO. Ele não costuma ser o herói a cavalo, mas em TRÊS ENTERROS (THE THREE BURIALS OF MELQUIADES ESTRADA), o chapéu de caubói lhe cai bem. De fato, três chapéus, pois Jones é o autor, diretor e principal ator do filme.
Jones e Guillermo Arriaga (que fez o roteiro de AMORES BRUTOS e 21 GRAMAS, de Alejandro Gonzalez Iñarritu) criaram uma espécie de faroeste texano-mexicano, com um herói chamado Pete, interpretado por Jones, cujo coração mora do lado mexicano da fronteira.
Pete, capataz de uma grande fazenda no oeste de Texas, sempre apreciou a cultura mexicana, desde a comida até o idioma e os amigos e Jones desenvolve o papel com um estilo minimalista - tudo está na forma como anda, monta o cavalo e sorri pouco. É um homem de idéias e poucas palavras. Pouquíssimas, de fato.
Jones, que nasceu em San Saba, Texas, e que dividiu seu quarto em Harvard com o ex-vice presidente democrata Al Gore, seu amigo até hoje, fala pouco como seu personagem. Talvez não esteja interessado no circo da mídia. Ele murmura um "Obrigado, senhora", com o olhar longínquo. Ele se anima brevemente, quando fala de Jean-Luc Godard e Akira Kurosawa e depois de uma entrevista de 15 minutos em um restaurante na praia, o que mais gravei foi o som das ondas e o de sua xícara tocando no pires.
Felizmente, o filme é acompanhado de um bom informe à imprensa, no qual se lê que é um projeto amado por Jones e que a história foi inspirada no assassinato de um trabalhador mexicano pelos Marines americanos.
"Era um menino que cuidava dos cabritos do pai na beira do rio", disse Jones. "Por falta do que fazer e estupidez, três Marines decidiram que eram alvos de contrabandistas de drogas e o mataram. Eles foram levados e liberados. Muitos de nós que moramos naquela parte do país ficamos insultados."
O roteiro de Arriaga viaja para frente e para trás no tempo. "Não é uma narrativa linear, e gosto disso", disse Jones. "Trabalho da mesma forma. Acho que ele é um dos melhores roteiristas em atividade; é também um amigo, companheiro de caça."
No filme, Melquiades, estrelado por Julio Cedillo, é um imigrante ilegal, trabalhador na fazenda de Pete, que protege os mais jovens. Melquiades diz a Pete onde quer ser enterrado, em sua terra natal, no México, se algo acontecer.
Rachel (Melissa Leo), namorada de Pete, está tendo um caso com o xerife. Lou Ann (January Jones) é casada com Mike Norton, policial da fronteira encenado por Barry Pepper, jovem impaciente e novo no emprego, sempre pronto para atirar. Norton mata e enterra Melquiades como se tivesse matado um coiote. É o primeiro enterro de Melquiades. Pete caça Mike e o força a levar o menino para o outro lado do Rio Grande. O trajeto torna-se uma viagem espiritual pelas culturas.
"Você lê o que Arriaga escreve e trabalha com o material até ser filmável", disse Jones. Pete é um homem com uma missão. "Não seria um erro dizer que Pete Perkins era meio angelical, mas um desses anjos com uma espada", disse Jones. "Um anjo vingativo?". "Isso".
O filme foi parcialmente filmado em uma das propriedades de Jones, nas montanhas Davis, no norte do Estado. "Algumas ocasiões foram difíceis para a equipe de filmagem, devido a distância e a irregularidade do terreno. A coisa mais difícil foi o tempo", disse ele. "Ficava quente e frio, vinham ventanias e depois enchentes. A única palavra para descrever a equipe é heróica."
O filme foi produzido por Michael Fitzgerald, com Luc Besson e Pierre-Ange Le Pogam: "Amo esses caras. Nos conhecemos em um barco nas Bahamas. Eu disse: 'Luc, aí está o roteiro.' Ele disse 'Ok. Aí está o dinheiro. Vejo você na estréia.' Depois foi mergulhar".
Respondendo a uma sugestão de que o filme, que é bem violento, poderia ser comparado com o "Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia", de Sam Peckinpah, também parcialmente ambientado no México, Jones disse: "Vi esse filme 15 vezes e adoro o trabalho de Peckinpah. Mas eu vi 'O Demônio das Onze Horas' (de Godard) cerca de 20 vezes e 'Sonhos' de Kurosawa 20 vezes. Então, há muitas influências".
Segundo Jones, esses diretores foram sua inspiração para as cores do filme. Ele trabalhou com o cinematógrafo Chris Menges. "Eu queria trabalhar com ele por causa de sua habilidade em filmar grandes exteriores e apreciar as cores do mundo com lentes grande angulares, e por causa da inteligência de seus olhos", disse Jones. "Ele quase não fala, mas pode ver, e tem um grande coração."
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Por Joan Dupont - Le Monde
20.12.07
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