20.12.07

O Grito

A grande máquina de reciclagem de Hollywood descobriu uma mina de ouro: Os filmes de terror japoneses. Depois de ter emplacado a refilmagem de O CHAMADO, com orçamento de US$45 milhões e rentabilidade de US$ 230 milhões, invistiram em O GRITO, refilmagem de JU-ON, de Takeshi Shimizu (Orçamento de US$10 milhões e rentabilidade, só nos EUA, de US$110 milhões).

O dado mais curioso, neste caso, é que os produtores preferiram contratar o mesmo diretor do original e manter os cenários japoneses. No atual contexto do cinema norte-americano essas são decisões arriscadas, realmente dignas de atenção.

Entre outras coisas, O GRITO traz uma estrutura temporal não-linear em que o espectador é convidado a montar um quebra-cabeça complicado. Enquanto qualquer filme de terror ou suspense exige explicação para tudo, a maior parte dos filmes japoneses do gênero são pura atmosfera e susto. Pelo menos em parte, essa característica se mantém.

A principal adaptação da história é a transformação da heroína em uma loura meio sonsa (a jovem vivida por Sarah Michelle Gellar) que, de passagem por Tóquio, vai parar em uma casa mal-assombrada, onde é aterrorizada por fantasmas japoneses. Não fantasmas quaisquer, mas almas tristes e rancorosas de pessoas que foram vítimas de mortes brutais e se recusam a desgarrar do local em que morreram.

Um enredo simples que ganha contornos mais sombrios quando se pensa na complicada relação entre Estados Unidos e Japão, assombrada pelo fantasma real das tantas mortes causadas por dois ataques nucleares. Afora paralelos inevitáveis, Shimizu não chega a criar um conjunto que realize o potencial dos filmes sobrenaturais, que é a vontade de chegar ao invisível.

Preso à necessidade de assustar e, a partir de certo momento, de explicar a história, ele alterna momentos inspirados a outros frágeis. Recorre, por exemplo, ao susto do gato no armário, um dos mais velhos e reconhecíveis truques dos filmes de terror. Mas, por outro lado, obtém resultados interessantíssimos na aparição dos fantasmas -causando arrepios genuínos.

Spoiler Rating: 67
LBC Rating: ~

Por Pedro Butcher - Folha de São Paulo

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