20.12.07

Moulin Rouge

MOULIN ROUGE é um daqueles filmes que provocam reações radicais, tipo ame-o ou deixe-o. Mas quando se gosta, é com verdadeira paixão. Quase tão intensa quanto aqueles que o acham histérico, exagerado, irritante, excessivamente editado e equivocado. É possível também que essa minoria tenha razões até mesmo plausíveis e lógicas. Porque não se deve assistir MOULIN ROUGE com o cérebro, mas com o coração. E inteiramente aberto.

Certamente é um filme arrojado. Numa época em que se produziam fitas conservadoras, impressiona que a produtora Fox tenha a coragem de bancar um projeto extremamente original e atrevido, que lembra muita coisa (até os filmes anteriores do realizador) mas não se parece com nada. Nem mesmo tem muito a ver com o famoso cabaré parisiense que lhe dá o nome (ou com um filme homônimo de John Huston sobre o pintor Toulouse Lautrec que aqui é feito por John Leguizamo e mero background).

MOULIN ROUGE é o musical do novo século: É realmente pós-moderno na acepção do conceito, fazendo tudo aquilo que a gente apostaria que nunca daria certo. Mas que acaba funcionando. Sua proposta fica clara nas primeiras imagens. É uma história de amor com final trágico, contado no ambiente de um cabaré imaginário, distorcido já pelo imaginário de um poeta infeliz (como ele é o narrador isso justifica tudo o que vem a seguir) que perdeu sua grande amada.

É difícil acreditar, mas Bazz Luhrmann pegou canções pops antigas e umas poucas mais antigas ("Diamonds are a Girl´s Best Friend", cantada por Marilyn Monroe originalmente; "Nature Boy", sucesso de Nat King Cole, aqui com David Bowie) e transpôs tudo isso para a virada do século 19 para 20 em Paris, onde um poeta (o inglês Ewan McGregor) se apaixona por uma estrela de cabaré que pode apenas namorar por dinheiro, principalmente o milionário que financia o novo espetáculo do lugar e que ainda por cima, dentro da tradição romântica do gênero, está sofrendo de tuberculose (Nicole Kidman, no auge da beleza e inegável talento).

Realizado com um estilo frenético de dar inveja a qualquer videoclipe, com uma enorme estilização visual (cenograficamente é um desbunde, assim como todo o trabalho de direção de arte, figurinos, maquiagem, ou seja desenho de produção), o filme tem uma primeira meia hora alucinante, de tirar o fôlego. Depois dá uma derrapada (até porque faz brincadeiras com operetas de Gilbert & Sullivan e depois com um pout-pourri de músicas de amor famosas/pop de Elton John, Mc Cartney etc). Aliás o CD fez mais sucesso nos EUA do que o filme, até porque a sofisticação do resultado não é para qualquer um menos informado, enquanto seu estilo "modernoso" (usado aqui como elogio) pode afastar os mais velhos. Mas retoma o fôlego novamente ao final.

Todos saem admirando o fato do elenco cantar com sua própria voz. A de Nicole é mais do que adequada e Ewan tem uma voz de roqueiro bem eficiente e apropriada. É verdade que a edição poderia ter se moderado em determinados instantes (reclamo por exemplo da seqüência do Tango, onde a gente sente falta de uma respirada, é uma melodia trágica e que deveria ter sido mostrada com mais vagar e sentimento) e que o excessivo por vezes pode acontecer.

Mas como eu disse, ou você se apaixona pela fita, embarca nela de alma e tudo, ou é bem capaz até de sair no meio. Aconselho a não resistir. Mesmo que você rejeite o resultado não há como negar a ambição e originalidade do projeto. Uma fita que ainda não tive tempo de rever. Mas continuo ansiando para ver outra vez e mais outra e outra...

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: ~

Por Rubens Ewald Filho

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