24.12.07

Em Busca da Terra do Nunca

Na Terra do Nunca, as crianças não crescem, vive-se aventuras com piratas e índios e ninguém envelhece. É o paraíso, mas não isento de perigos. Essa fábula feliz saiu da pena do dramaturgo escocês James Matthew Barrie, que, nos primeiros anos do século 20, encenou a história de Peter Pan e da família inglesa que vai com ele para a Terra do Nunca. No EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, Barrie é interpretado por Johnny Depp, ator carismático que se sai tão bem em papéis exóticos.

Aliás, Depp leva à sua concepção dramática um certo distanciamento, uma ironia fina em relação ao personagem. Ele tem o ar daqueles que sabem que o rei está nu. Constatam e comentam esse fato com o olhar e, se sabe, de uma hora para outra, irão dizê-lo ao mundo. Em poucas palavras: Depp conserva uma certa atitude infantil em sua pessoa, que lhe permite dizer a verdade quando todos estão mentindo.

Assim, o papel de Barrie lhe cai como um calçado feito sob medida, já que o escocês, ao menos pelos indícios deixados por sua obra, é tido como anticonvencional mesmo depois de se tornar adulto na conservadora Grã-Bretanha. O encanto do filme se concentra no olhar de Barrie. E também na maneira como se recupera a origem da peça através do relacionamento entre Barrie e a família que serve de inspiração para os personagens. Há um tanto de melodrama na história, na medida em que a mãe das crianças (Kate Winslet) é viúva e ela própria não se sente bem. Mas nada de mais sério a se queixar quanto a esse ponto, embora as cenas finais tenham sido pensadas "para chorar".

Verdade: os embates entre Barrie e seu produtor, Charles Frohman (Dustin Hoffman) soam meio artificiais. É aquele negócio do cinema: o protagonista tem de ter sempre um antagonista, alguém que, ainda que de maneira benévola, se opõe aos seus desejos, à sua criatividade, ao seu senso de inovação.

Frohman vai achar que uma peça tal como Peter Pan será uma loucura, pois o mundo adulto nunca a aceitará, etc. E Barrie fará o papel do sonhador, daquele que vê longe e detecta que, em todo o coração adulto, dorme a nostalgia da aventura, da irresponsabilidade, da fantasia. Por isso Pan dá certo. E também porque, pelo menos como Depp o interpreta, Barrie poderia dizer como disse Flaubert de Madame Bovary: Peter Pan c'est moi. Ele é o personagem.

Spoiler Rating: 91
LBC Rating: ~

2 comentários:

Wiliam Domingos disse...

Este com o Depp eu ainda não vi, mas falando em personagens exóticos...veja Ed Wood, se ainda não viu! Ele está o máximo!
Abraço!

Anônimo disse...

Amo esse filme, inclusive não entendo porque tanta gente odiou - foram muitos críticos que deram apenas 1 estrela, especialmente entre os blogueiros. Eu considero o melhor de seu ano, sem dúvida emocionante - e com ótimas atuações, inclusive acho que o Depp merecia o Oscar.

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