17.10.07

O Passado


"O amor pode ser recíproco, mas o fim do amor, não, nunca", escreve Alan Pauls a certa altura de seu romance O PASSADO. Desse descompasso dramático se alimentam o livro do escritor argentino e o filme que Hector Babenco extraiu dele.
Depois de 12 anos de harmonia quase inverossímil, os jovens Rímini (Gael García Bernal) e Sofía (Analía Couceyro) se separam. Rímini quer começar vida nova; Sofía quer mantê-lo preso ao passado.

Belo, inteligente, sedutor, Rímini tem todas as possibilidades da vida abertas à sua frente. Cada mulher com quem se envolve -Vera, Carmem, Nancy- é uma porta para um recomeço. Mas, no meio do caminho, há uma pedra chamada Sofía.

O embate entre a esperança de futuro e o peso opressivo do passado torna o presente de Rímini (de cujo ponto de vista a história é narrada) um terreno tenso e perigoso. Há no romance uma espécie de suspense sentimental que Babenco captou admiravelmente, e este é um dos méritos de seu filme.

Outro acerto essencial do cineasta e de sua co-roteirista Marta Góes foi deixar de lado a maioria das subtramas e digressões do livro. O romance é caudaloso; o filme é enxuto.

O Brasil que aparece na tela, por exemplo, é um primor de síntese. Rímini compra óculos escuros num camelô da Luz; em seguida aparece no prédio da Bienal. A miséria e a sofisticacão, o moderno e o arcaico: o Brasil como um grande camelódromo com ilhas de civilização. Houve quem acusasse livro e filme de misoginia, houve quem os visse como odes às múltiplas faces do feminino. Esse desacordo mostra que ambos estão vivos

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: 70

Por Silvana Arantes e José Geraldo Couto (Folha de São Paulo)

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