A primeira sessão mundial de REDACTED, filme de Brian De Palma sobre a presença norte-americana no Iraque foi um soco no estomâgo. Acabou a projeção e um silêncio tumular caiu sobre a platéia. Não se ouviu um aplauso. Não se ouviu ninguém conversar com ninguém. As pessoas foram saindo, quietas, como se o peso do mundo tivesse caído sobre cada uma delas. Não se sabe se gostaram ou não.
O filme calou fundo. É impressionante...Pela coragem, pela utilização de vários materiais e recursos do documentário e do docudrama para reconstituir uma das tragédias daquela invasão: o caso do massacre de uma família de iraquianos por um grupo de soldados, que invadiram a casa, violentaram uma garota de 15 anos, depois a mataram e queimaram o corpo, e assassinaram o resto da família que havia presenciado a cena, mãe, irmãs, o avô. Imagens contundentes que deixaram alguns espectadores em lágrimas. Um horror.
O filme é centrado sobre um pequeno grupo de soldados, estacionados em uma barreira militar em Bagdá. Sua missão é revistar tudo e todos que por ali passam, veículos e pessoas. Submetidos à pressão contínua, expressam seus sentimentos em relação aos iraquianos. São filmados em ação e na intimidade. Situado a meio caminho entre o documentário e a ficção, REDACTED é baseado em vídeos caseiros da guerra feitos por soldados, seus blogs, diários e imagens postados no YouTube, refletindo mudanças na maneira como a mídia cobre a guerra.
"Está tudo ali na Internet, é possível encontrar se você procurar, mas não está na grande imprensa. Hoje a mídia realmente faz parte do establishment corporativo", denunciou De Palma. Ele explicou que seu trabalho "é uma tentativa de levar ao grande público o que acontece no Iraque, já que, ao contrário do que ocorreu com a Guerra do Vietnã, agora os principais veículos de comunicação não informam a realidade".
"O filme se propõe a mostrar ao povo americano a realidade do que está acontecendo no Iraque", disse ele a jornalistas após a sessão do filme para a imprensa. "As imagens são o que vai pôr fim à guerra. Esperamos que essas imagens levem o público a ficar irado a ponto de motivar seus representantes no Congresso a votar contra esta guerra."
O título do filme se refere à maneira como, segundo De Palma, os grandes jornais e televisões americanos estão deixando de contar a verdadeira história da guerra, ao manter distantes da opinião pública as imagens mais explícitas da guerra.
"Quando saí à procura das imagens, pedi (à mídia) as imagens que ela não pode publicar", disse ele, acrescentando que, em função do perigo de retaliações legais, também ele foi obrigado a "editar" o material.
Muito ainda terá de ser dito sobre esse filme especial, desde já, um dos mais fortes libelos contra a guerra em geral, e esta em particular, dos últimos anos. Simbolicamente, tira-se o chapéu para De Palma.
Spoiler Rating: 92
LBC Rating: ~
Por Silvia Aloisi (Reuters/EFE), Alessandra Magliaro (Agência ANSA) e Luiz Zanin Oricchio (Estado de São Paulo)
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