1.9.07

Ave, Bressane


O cineasta brasileiro Julio Bressane levou à Veneza, o mito Cleópatra com um filme "cult" e elegante. Bressane, de 61 anos, um dos fundadores do movimento Cinema Novo e pai do cinema experimental latino-americano, confessou sua emoção com a primeira projeção pública do filme CLEÓPATRA no Palácio veneziano, onde foi bastante aplaudido.

Com a lenda de Cleópatra, um dos mitos mais extravagantes da antigüidade, Bressane lança-se em uma espécie de viagem interior, em um espaço histórico pessoal, marcado pela estilização da cultura egípcia, ambientado com cores alaranjadas e acobreadas, com figuras geométricas e cenas rodadas nos sugestivos penhascos do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.

"Que posso dizer? Meu filme é como entrar no subconsciente", admitiu o diretor, que reviveu em 2001 outro personagem histórico, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, narrando de alguma maneira no filme DIAS DE NIETZSCHE EM TURIM o processo mental que o levou à loucura.

Bressane, convidado pessoalmente pelo diretor da Mostra veneziana, Marco Muller, consegue contar 'a sua maneira' a complexidade da figura de Cleópatra (interpretada pela atriz Alessandra Negrini), última rainha do Egito.

De origem grega, amante de Julio César (Miguel Falabella) e Marco Antônio (Bruno Garcia), hábil política e mulher sábia, chegou a ser identificada com os deuses: Afrodite e Ísis.

Bressane, que trabalhou durante 15 anos no tema e fez diversas pesquisas sobre a vida de Cleópatra, consultando os textos de Plutarco, obteve uma iconografia especial, exótica, graças a moedas e esculturas da época.

"Este pequeno filme, que aborda o grande tema da tirania, narra a lenda de Cleópatra (...) segundo um imaginário lingüístico, uma linguagem que conta com a força do lirismo", escreveu Bressane.

Para o cineasta, Cleópatra, que levou uma vida mais que tempestuosa e decidiu se suicidar no ano 30 a.C. após ter conseguido subjugar o Império Romano, foi uma mulher "entusiasta, trágica, musical, apaixonada pela razão, intelectual, símbolo da junção de culturas, mistura de loucura e sobriedade, resumindo, um sonho...".

Independentemente da Negrini, o filme é de grande beleza visual (mais uma vez fotografado por Walter Carvalho) e denso em simbologia, utilização da música popular brasileira de maneira anacrônica, e implicações históricas, por exemplo nas considerações sobre o Império Romano que bem poderiam ser aplicadas a hoje. Mas certamente Bressane não autorizaria uma transposição assim tão imediata dessas referências.

Fica o fato, confirmado, que Julio Bressane é cineasta bastante apreciado nos festivais europeus. Não, não é um grande sucesso, mas tem um nicho intelectual seguro, por assim dizer.

Spoiler Rating: 80
LBC Rating: ~

Por Luiz Zanin Oricchio (Estado) e Agência AFP

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