O cineasta Paul Haggis estreou no 64º Festival Internacional de Veneza, a exibição do seu recente filme IN THE VALLEY OF ELAH, um apelo no qual diz que os Estados Unidos precisam de ajuda.
Obviamente, o diretor americano não fala de uma ajuda militar ou econômica, mas moral. IN THE VALLEY OF ELAH é um filme sobre os efeitos da guerra, mas ao contrário de REDACTED, de Brian de Palma, não tem tanto um caráter de denúncia ou redenção, mas
de reflexão.
"Eu quero fazer perguntas incômodas", disse Haggis na entrevista coletiva de apresentação do filme, projetado na Mostra Competitiva, assegurando que "o melhor de ser artista é não ter de dar as respostas".
O filme IN THE VALLEY OF ELAH, com Tommy Lee Jones, Charlize Theron e Susan Sarandon (mãe do soldado), narra com ritmo, suspense e sobriedade a angustiante busca nos EUA por parte do pai do jovem militar, recém-chegado da guerra no Iraque. No entanto, a investigação tropeça em impedimentos do Exército para ocultar a verdade.
À medida que os obstáculos são resolvidos, vai sendo revelada uma verdade destruidora: uma guerra injusta acaba também com a vida dos sobreviventes, destruindo o equilíbrio psicológico de uma geração, que se afunda na depressão, na violência e no consumo de drogas.
Esse mau não se restringe aos jovens e afeta também suas famílias que vêem a destruição moral dos filhos.
E tudo isso sem sentimentalismos nem comoções, pois Haggis conta a história com a uma magnífica interpretação de Tommy Lee Jones, no papel principal, cujo rosto tem uma impressionante força expressiva.
A sóbria atuação de Jones lembra em alguma ocasião o melhor de Clint Eastwood. O ator americano divida a cena com Susan Sarandon e Charlize Theron, cujo papel é menor, mas muito bem interpretado.
Haggis consegue construir um filme no qual a guerra é apenas citada, mesmo com a presença de sua sombra do início ao fim.
Essa seria a metáfora mais oculta do filme, a guerra destrói não apenas no local onde caem as bombas, também corrói as sociedades que, como ocorre com a americana, não escutam o barulho das explosões.
Na coletiva, Haggis se uniu na crítica feita na sexta-feira por Brian de Palma sobre a ausência de um verdadeiro jornalismo nos Estados Unidos ao comparar a situação do Iraque com a Guerra do Vietnã.
"Alguém me perguntou por que são feitos agora estes filmes se os do Vietnã não foram rodados durante a guerra. Acredito que há uma diferença básica: naquela (Guerra do Vietnã) magníficos jornalistas fizeram seu trabalho, informando sobre coisas que não queríamos escutar. Bastava ler os jornais e assistir a televisão para saber
toda a verdade desagradável. Agora não", explicou.
Com IN THE VALLEY OF ELAH, Haggis supera seu último trabalho, CRASH, que ficou com o oscar de melhor filme, segundo o realizador do programa "Dias de cinema", da "TVE" (Espanha), Francisco Ventura Guerra.
Ventura destaca o acerto de Haggis ao perceber que esta é uma guerra contada "na primeira pessoa", pois todo mundo tem um telefone celular com o qual pode gravar vídeos, recurso usado no filme e que também é explorado por De Palma no seu longa, embora com menor acerto.
IN THE VALLEY OF ELAH deveria ser posto em continuação com REDACTED. Com linguagens e propósitos diferentes, tratam do mesmo assunto, os efeitos deletérios da invasão do Iraque sobre os próprios Estados Unidos. Um belo e intenso filme na maneira como é construído e interpretado. Seria ocioso falar de Tommy Lee Jones, que se impõe na tela, como de hábito. Charlize também não está mal, e o par se conduz numa progressão que, no fundo, é clássica. Aquela da descoberta de uma incômoda verdade, que de fato não se quer ver.
Spoiler Rating: 81
LBC Rating: 55
Por Luiz Zanin Oricchio (Estado), Antonio Lafuente (EFE) e Agência AFP
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