10.9.07

Persépolis


Autobiográfico, PERSÉPOLIS é baseado na graphic novel homônima da iraniana Marjane Satrapi, que foi recentemente publicada no Brasil pela Companhia das Letras. Nascida no início dos anos 70, em uma família relativamente progressista, a pequena Marjane assistiu ao avanço da Revolução Islâmica em seu país comandada pelo aiatolá Khomeini.

Os modos um tanto ocidentalizados com que foi criada passaram então a ser considerados crimes contra a pátria. Ouvir um "inocente" Iron Maden ou um cassete do Abba dava cadeia. Deixar uma mecha de cabelo cair sobre a testa, punição na certa.

Com ternura e humor, mas sem concessões, o filme narra a queda do xá Reza Pahlevi e a revolução que desembocou na tomada do poder pela hierarquia islâmica, vista pelos olhos de uma menina. Mais tarde, à medida que a personagem cresce, o olhar amadurece, para contar as esperanças de liberdade frustradas, a guerra, e a repressão ainda mais dura a que foram submetidas as mulheres no regime imperial. E, por fim, o exílio.

As guerras e a briga pela exploração energética do país também têm destaque, mas a maior batalha da garotinha Marjane é contra Alá, deus que ela nem sempre entende. Por que ele permite que seu tio revolucionário seja executado se tudo o que ele quer é igualdade de direitos para o proletariado?

Marjane, à certa altura, manda seu deus passear. Mas quem vai embora é ela. Na adolescência, depois de quase ir presa por dizer à professora da escola que o "hijab" (o véu sagrado) não é garantia de respeito nenhum e que milhares de inocentes foram mortos durante uma guerra manipulada pelos ingleses, ela vai morar em Viena. É lá que, sem falar uma palavra de alemão, toma contato com o movimento punk, descobre o amor e, claro, leva o primeiro fora de sua vida. Contar mais é covardia. Contar menos é falar pouco desta tragicomédia iraniana - ainda sem previsão de estréia no Brasil.

Em todo o filme a personalidade da diretora é moldada pela guerra, pela falsidade do governo e a hegemonia cultural masculina. Os governantes iranianos são criticados, mas as democracias ocidentais também, por apoiarem o Xá e fornecer armas de guerra. Mas o objetivo principal de "Persepolis" é contar a história do amadurecimento de uma garota numa sociedade extremamente volátil.

Satrapi e o co-diretor Vincent Paronnaud usam um estilo divertido de animação e muito humor, acrescentando um toque leve a uma história que poderia ter sido um drama sombrio, segundo eles.

Spoiler Rating: 87
LBC Rating: ~

Por Bob Tourtellotte (Reuters) & Flavia Guerra (Globo.com)

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