20.8.07

A Vaca e o Frango

Chegamos ao fim de uma era. Com a estréia de NEM QUE A VACA TUSSA, estamos - até segunda ordem - órfãos dos desenhos animados tradicionais da Walt Disney. Foi lá que surgiram clássicos como BRANCA DE NEVE (1937), PINÓQUIO (1940) e BAMBI (1942), na chamada era de ouro, e ainda A BELA E A FERA (1991), ALADDIN (1992) e O REI LEÃO (1994), na retomada de interesse pelos desenhos nos anos 90. Mas os chefes dos estúdios decidiram parar a animação quadro a quadro e investir apenas na que é feita por computação gráfica, como TOY STORY, VIDA DE INSETO e MONSTROS S.A.

Sem se preocupar com este futuro incerto, a equipe Disney foi literalmente até o oeste dos Estados Unidos buscar inspiração para esta última empreitada. Não chega a ser nenhum segredo que, guardadas as mudanças de cenários e personagens, a Disney sempre contou o mesmo filme. Um evento qualquer perturba o equilíbrio de uma comunidade, que se vê diante de pouquíssimas esperanças até o surgimento de um herói. O mais desajeitado e improvável, melhor.

Aí entram as vacas. Quando o temido Alameda Slim começa a roubar o gado das fazendas da região, o dono da vaca leiteira Maggie fica com uma mão na frente e outra atrás e resolve doar o animal para uma amiga fazendeira. O problema é que essa fazenda está correndo um sério risco: endividada até o pescoço, Pearl, a fazendeira, pode perder as suas terras, caso não pague o que deve.

Sem nada a perder, a nova vaca convence Calloway e Grace a saírem juntas em busca de uma solução para o impasse --o que inclui participar de um concurso de beleza para animais do campo e da caçada ao lendário ladrão Slim. Três vacas gordas caçando? Conta outra... O humor absurdo, um pouco na linha da safra recente de séries animadas (alguém falou em A VACA E O FRANGO?) é um dos pontos altos do longa.

Mas, voltando ao início, o fato é que, tirado o couro da vaca, nada sobra que não o mais manjado argumento clássico dos filmes da Disney. Já sabemos onde vai acabar tudo aquilo. O conservadorismo faz todo o sentido considerando que NEM QUE A VACA TUSSA pode ser, de acordo com os próprios funcionários dos estúdios de animação, a última bala na agulha da companhia no campo da animação tradicional, em 2D.

Daí que ninguém queria errar a mão: aproveita-se a carcaça, mudam-se as aparências e, muitas vezes em prejuízo do próprio ritmo e coerência da narrativa, faz-se de tudo para deixar tudo amarradinho no final. "Nós vamos capturar esse vilão nem que a vaca tussa”. Encaixado mais ou menos nesses termos, só para justificar o título em português, não é exatamente esse o sentido do dito popular, geralmente usado para expressar a impossibilidade de um acontecimento. Engraçadinho, porém digno de encerrar a carreira outrora brilhante dos clássicos estúdios Disney? Mas nem que a vaca tussa!

Spoiler Rating: 64
LBC Rating: ~

Da Redação da Folha de São Paulo

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