20.8.07

Os Incríveis super-heróis da Pixar

É só mais um dia na vida do Sr. Incrível: salvar um gatinho da árvore pela manhã, ajudar a polícia a prender uns assaltantes de banco em seguida, impedir uma tentativa de suicídio e o descarrilamento de um trem à noite e, acima de tudo, chegar a tempo para o casamento. O seu próprio.

Sim, estamos no bom e velho universo dos super-heróis, seres superpoderosos capazes de levantar carros com uma só mão, correr à velocidade da luz, ficar invisíveis, cada um a seu modo, mas com uma coisa em comum: jamais vão conseguir levar uma vida "normal". Essa é a premissa de nove entre dez HQs de super-heróis, do menino adolescente que descobre que "grandes poderes trazem grandes responsabilidades" em "Homem-Aranha", passando pela escola de mutantes do professor Xavier em "X-Men", até a mais adulta "Watchmen", um dos maiores cânones do gênero, em que Alan Moore retrata a decadência dos mascarados.

OS INCRÍVEIS se baseia nessa mesma idéia, a de que num dia o governo baixa um decreto que proíbe a ação dos super-heróis, a animação. A superprodução da Pixar conta a história de uma família de heróis lutando para se equilibrar depois da aposentadoria forçada imposta pelo governo dos EUA. O novo cotidiano de Beto Pêra, o outrora hiperativo e esbelto Sr. Incrível, se resume agora a vender apólices para os clientes da Seguros S.A. e cuidar para que os vizinhos não percebam sua identidade secreta. A dona-de-casa Helena, conhecida no passado como a Mulher-Elástica, tenta justificar aos filhos, Flecha e Violeta, por que não devem sair por aí usando seus poderes.

Num mundo onde todos são especiais, a única verdade é que ninguém é especial, raciocina o garoto que, para não dar bandeira de sua supervelocidade, é sempre obrigado a chegar em segundo lugar nas corridas da escola. Por trás da aparente ingenuidade, a animação propõe uma reflexão sobre a natureza do discurso liberal em que, mais que os mesmos direitos, todos devem ter a mesma postura em relação ao mundo. Diferenças? Que diferenças? Somos todos filhos de Deus, acreditamos na democracia e quem estiver contra que vá viver numa ilha distante bem longe dos nossos olhos...

E é isso que faz o Gurincrível, quando criança fã número 1 do Sr. Incrível, hoje o impiedoso vilão Síndrome, que, apesar de não ter nenhum poder, foi capaz de criá-los em laboratório e agora arquiteta sua revanche contra os super-heróis que no passado o desprezaram. "Quando todos forem super-heróis, então ninguém será super-herói."

O filme usa diversas referências da cultura pop - é hilário o argumento da costureira de fantasias Edna Moda para tirar a capa do uniforme do Sr. Incrível: "Você se lembra de Thunderhead? Um cara legal, bom com as crianças. 15 de novembro de 1958. Tudo bem, mais um dia salvo... até que sua capa se enroscou num míssil!". A ação é...incrível e os cenários, belíssimos, mas é justamente no que tem de mais humano, de menos superpoderoso, que o filme da Pixar nos pega de surpresa.

Spoiler Rating: 88
LBC Rating: ~

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