.jpg)
As heroinas do Sr. Miyazaki são jovens e corajosas e combinam uma ingênua decência com uma propensão para violência. Durante suas viagens, encontram frequentemente mulheres mais velhas e sábias que servem às vezes como vilãs, às vezes como figuras maternas. Esse conto, que o Sr. Miyazaki encontrou numa versão japonesa há alguns anos, permite que combine estes dois tipos em um único personagem. Sua heroina, Sophie, começa como uma tímida fabricante de chapéus de 18 anos que através da maldição de uma bruxa, transforma-se em uma velha de 90 anos. A principio, horrorizada pela mudança, ela encara isso como uma liberação de toda ansiedade, medo e consciência, e descobre em si própria um novo gosto para aventuras.
Há certamente uma abundância de aventuras. A capacidade do Sr. Miyazaki para invenção narrativa ainda não encontrou limites num filme recheado de criaturas estranhas e incidentes maravilhosos, alguns inspirados no livro, outros inteiramente de sua própria imaginação. Suas imagens têm uma riqueza e sensibilidade que torna quase impossível acompanhar tudo o que se vê, pela maneira como a história se desloca de um silencioso campo a um espetáculo lírico. A movimentação dos montes e as ruas da cidade dão a impressão de verdadeiros campos de batalha celestiais, e os momentos de delicada ternura alternam-se com cenas de violência e destruição.
O país de Sophie - que sugere uma mistura da Bavaria com a Bretanha rural no último século - está em guerra com um reino vizinho, e talvez essa seja a mais profunda sensação do filme: Uma certa aversão à irracionalidade e futilidade do militarismo. A participação de Sophie na política é relutante e indireta, embora ela se torna evidente durante seu relacionamento com Howl, um mago mal humorado com compulsão por limpeza e dono do castelo preto que se vê a mover por entre as montanhas.
Seus sentimentos por Howl combinam uma solicitude maternal, uma afeição fraternal e uma paixão tola de adolescente, o que fazem do "Castelo Animado" entre outras coisas, uma curiosa e tocante história de amor. Com base neste encontro, a "Bruxa do Lixo" interpreta a relação dos dois de modo errado, e por isso transforma a jovem numa velhota de 90 anos. Nesta condição, Sophie sai da sua casa e vagueia pelas redondezas, onde, ao acaso, acaba por entrar no castelo de Howl. Escondendo a sua verdadeira identidade, a jovem instala-se no castelo como uma velha faxineira.
Sobre esse castelo: É certamente um das concepções mais extraordinárias a aparecer recentemente nos cinemas, mais engenhoso do que a armada intergalactica em a "Vingança do Sith". Movendo-se através de campos e montanhas em pés de galinha, sua arquitetura sugerem rostos humanos, o castelo é um emblema perfeito para a lógica narrativa do Sr. Miyazaki. É claramente feito a mão, estranhamente proporcionado, engraçado, às vezes apavorante e de forma inexplicável. Varia livremente de lugar a lugar e é também, de algum modo, vários lugares em um só lugar através de um portal mágico que modifica as paisagens com o apertar de um botão. Não é assombrado exatamente, mas apesar de tudo é visitado por espíritos obcecados e deprimidos.
A fluidez é a marca mais evidente do estilo de Miyazaki. Tanto do ponto de vista da história como do desenho, tudo é concebido como um fluxo que, no seu conjunto, termina formando um universo de extrema coerência e beleza internas. Um universo quase felliniano, por vezes grotesco, mas sempre encantador, capaz de explorar todo o potencial de liberdade que a animação dá. Não é raro que as crianças se entreguem a esse universo mais facilmente do que os adultos, que ficam esperando explicações para tudo. Mesmo que não compreendam detalhes, como muitas vezes também não compreendem nos filmes americanos as piadas feitas para distrair os mais crescidos, as crianças costumam vidrar os olhos nos traços e cores do animador.
Spoiler Rating: 82
LBC Rating: ~
Nenhum comentário:
Postar um comentário