Na versão dos estúdios Disney para A BELA E A FERA, o conto original foi simplificado. Nele, a família de Bela se resume a seu pai, que é apenas um viúvo um pouco excêntrico. Além disso, foi criada a figura de um rival para a Fera, sob a forma de um homem aparentemente atraente por fora, mas feio por dentro. De acordo com a nova sensibilidade que os homens contemporâneos devem demonstrar no amor, introduzida pelas mulheres após sua liberdade conquistada, a Fera é capaz de compreender os interesses intelectuais da jovem; o outro é um brutamontes, disposto a casar-se para fazer dela uma doméstica a seu serviço.Como no caso do conto original, romanceado pelas senhoras do século XVIII, no desenho, a figura da Fera se adaptou aos ideais de homem de uma época: de cavalheiro no perfeito domínio das artes do amor cortês, ele se transmutou para um homem delicado e inteligente que uma mulher livre e intelectualizada – A Bela nesse caso amava os livros – espera ao seu lado. Já o pai de Bela, segue como um personagem socialmente desvalorizado, sendo ela a única que o admira e por isso seu amor é tão nobre, pois é capaz de amar na adversidade.
Há um parentesco claro entre o amor que Bela devota ao pai e o que destina a Fera: Em ambos os casos, contorna as convenções sociais. No primeiro, não importa o quão excêntrico e amalucado seu pai seja; No segundo, a beleza que falta à Fera deixa de lhe fazer caso. Bela mostra capacidade de transferir o mesmo tipo de vinculo por ambos, como se o amor por um ensinasse a amar o outro. Fera também se revela disposto a esperar que Bela termine o luto por um amor, para que possa aceder a outro. No início, a jovem apenas sente saudades do pai, a seguir sente-se bem, mas tem pena do pai que está doente. Bela deve voltar para casa, apenas para constatar que seu coração já não pertence mais àquele lugar, só então esta em condições de viver um novo amor. Fera espera esse tempo de amadurecimento. Sua paciência, porem não é infinita, por isso, está quase morto de tristeza quando Bela retorna.
Conforme a versão animada, há um relato que precede o desenrolar da estória: Fera teve seu coração testado por uma fada, que, numa aparência esfarrapada, pede abrigo no castelo, o que lhe foi negado. Por ter sido considerado egoísta e incapaz de amar, foi condenado a ficar sob a forma repulsiva até que uma mulher, apesar disso, viesse a amá-lo. Aqui, ele tem de aprender a dobrar seu caráter bruto e entender as necessidades dos outros, em outras palavras, deixar sua infantilidade para trás. A rosa é usada como uma espécie de ampulheta, um símbolo do tempo que lhe resta para o feitiço seja quebrado: Com o passar dos anos, as pétalas caem, quando cair a ultima, ele morrera sem ter sido amado e perdera a chance de voltar à forma original. Com esse recurso, a condição animal é para Fera, apenas uma exteriorização de seu caráter. Quando finalmente é amado, pode ser visto como humano. Assim, A BELA E A FERA pode ser pensada como um conto de conquista do amor e da humanidade. Afinal, não se nasce homem, torna-se um.
Spoiler Rating: 89
LBC Rating: ~
Por Marcos Petrucelli, Diana e Mário Corso (Fadas no Divã) e Redação da Folha de São Paulo


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