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"Não tenho a história terminada e pronta quando começamos a trabalhar num filme. A história começa quando eu começo a desenhar. Nunca sabemos onde a história irá. (...) Sem uma história prévia, cada cena torna-se crucial." Isso conduz a uma intensidade constante. O diretor acrescenta: "Há uma ordem interna, as demandas da própria história, que me conduzem à conclusão".
E ele parte sempre do mundo que conhecemos...
Ninguém se cansa de ver e rever Chihiro. Mas o que faz dessa animação algo tão cativante, tão especial? De olhos e preconceitos armados para encontrar "mais uma animação japonesa", o espectador surpreende-se ao constatar que "Chihiro" não é feito de crianças de olhos exageradamente esbugalhados ou de uma batalha entre o bem e o mal, com a derrota deste último no final.
Chihiro é uma garotinha de 10 anos que nada tem das Lolitas tão presentes nos animê. Está indo, com os pais, de mudança para uma casa nova. No meio do caminho, encontram uma espécie de parque temático em abandono. Os pais descobrem comida, se empanturram até... virarem porcos. Há uma casa de banho para deuses cansados, um trem que avança sobre a superfície aquática, um bebê gigante, filho de bruxa anã e malvada. Há um deus-rio que agoniza por causa das águas poluídas. Há, ainda, crença nas crianças, que trazem uma promessa de redenção para os tempos presentes, grosseiros e materialistas.
Hayao Miyazaki discorre: "Penso que crianças também podem sentir nostalgia. É uma das emoções mais compartilhadas pela humanidade. É uma das coisas que nos fazem humanos e por isso é tão difícil de definir. Ao ver o filme "Nostalgia", de Tarkóvski, compreendi que a nostalgia é um sentimento universal". E ainda: "Nós todos nos parecemos com porcos, com nossas barrigas redondas. Eles são próximos de nós. Gosto deles".
Pois é por Chihiro que Miyazaki se apaixona. Pelo misto de pavor, prudência e coragem que a menina vai demonstrar diante dos desafios da jornada pelo País das Maravilhas, com "maravilhas" nem tão diferentes das de Lewis Carroll, mas estranhas para a cultura ocidental. Com 99% das cenas pintadas a mão, a animação é um mergulho no imaginário de lendas e espíritos da cultura japonesa. Fantasioso, pode ser tido como "de criança". Azar é o nosso, dos "adultos", que não temos a senha para uma das paisagens mais provocativas tecidas pelo cinema moderno.
Spoiler Rating: 92
LBC Rating: ~
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