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Em BAMBI, é o mundo de sonho metafórico de “bons” animais que ilustra a condição humana perfeita e pacifica, em oposição ao mundo de pesadelo de PINOCCHIO e seus “maus” meninos que, literalmente, se transformam em animais.
Embora BAMBI seja um filme de extraordinário encanto superficial, sendo sua floresta uma das mais adoráveis cenas panorâmicas feitas por Disney, a força emocional da fita reside nas abstrações de sua complexidade autobiográfica. Realizado durante o período em que os pais de Disney faleceram, BAMBI revela o melancólico desejo de Disney de retornar à infância e revisitar os animais que foram os primeiros a comover sua alma artística. O incêndio que destrói a floresta de BAMBI, no clímax da estória, é em verdade o raivoso reconhecimento de Walt dessa impossibilidade.
A estória reflete muito das pessoas que viviam na época. A imponência do pai de Bambi, por exemplo, mostra exatamente o perfil paterno da época. Aquela imagem que tinha que ser respeitada e que estava acima do bem e do mal. Alguém que assiste ao filme hoje em dia pode estranhar esse distanciamento entre pai e filho, mas se olharmos para trás veremos que não exageraram quando fizeram o pai de Bambi dessa maneira.
Pode parecer um filme com enredo fraco, que não chega a lugar nenhum. Mas o filme vai muito além de uma simples estória, ele conta a maior de todas, a história da vida! Como nascemos, como crescemos, como nos acostumamos com certas situações, como nos sentimos frágeis, como lidamos com as perdas... Enfim, BAMBI é o resumo da vida e assim sendo, é quase impossível não tirarmos algumas lições dele.
BAMBI foi a última grande animação a ser produzida por Walt Disney em um período de oito anos. Os incentivos dos estúdios à guerra e a produção de filmes em massa sobre o tema, deixaram todos os artistas mobilizados pela causa, deixando os grandes projetos de lado por um longo período. As dificuldades de conseguir incentivos fiscais para grandes produções, restrições em obter material de prioridade... Enfim, a crise econômica pela qual Walt Disney passou, refletiria na produção de seus filmes. O próximo grande animado seria "Cinderela", de 1950.
A morte da mãe de Bambi
Luis Fernando Veríssimo
“Num recente encontro de escritores na França, um americano de quem eu nunca tinha ouvido falar, mas é cult de muitos franceses, Jerome Charyn, revelou que a grande tragédia da vida dele, o que marcou sua personalidade e provavelmente sua literatura para sempre, foi a morte da mãe do Bambi. Muitos riram, mas eu entendi imediatamente o que ele queria dizer. Temos mais ou menos a mesma idade. Somos da geração que nunca se recuperou da morte da mãe do Bambi. Todos os nossos parâmetros de maldade, injustiça e perda vêm desta experiência.
A descoberta de que mãe também morre é um trauma comum a todas as espécies, desde o primeiro bicho, mas só quem assistiu à morte da mãe do Bambi no cinema com uma idade impressionável teve uma evidência gráfica, arrasadora, deste fato. Nossa geração foi feliz até os cinco ou seis anos, depois nunca mais foi a mesma. Culpa do Walt Disney, que ainda nos traria a imagem do elefante Dumbo sendo embalado pela tromba da sua mãe presa numa jaula de circo, para acabar de vez com todas as nossas ilusões sobre a vida “.
Luis Fernando Veríssimo
“Num recente encontro de escritores na França, um americano de quem eu nunca tinha ouvido falar, mas é cult de muitos franceses, Jerome Charyn, revelou que a grande tragédia da vida dele, o que marcou sua personalidade e provavelmente sua literatura para sempre, foi a morte da mãe do Bambi. Muitos riram, mas eu entendi imediatamente o que ele queria dizer. Temos mais ou menos a mesma idade. Somos da geração que nunca se recuperou da morte da mãe do Bambi. Todos os nossos parâmetros de maldade, injustiça e perda vêm desta experiência.
A descoberta de que mãe também morre é um trauma comum a todas as espécies, desde o primeiro bicho, mas só quem assistiu à morte da mãe do Bambi no cinema com uma idade impressionável teve uma evidência gráfica, arrasadora, deste fato. Nossa geração foi feliz até os cinco ou seis anos, depois nunca mais foi a mesma. Culpa do Walt Disney, que ainda nos traria a imagem do elefante Dumbo sendo embalado pela tromba da sua mãe presa numa jaula de circo, para acabar de vez com todas as nossas ilusões sobre a vida “.
Spoiler Rating: 85
LBC Rating: ~
Por Marc Eliot - O Príncipe Sómbrio de Hollywood
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