29.8.07

Carpem Diem

A Eternidade parece distante quando temos apenas 20 ou 30 anos. Raramente em nossa juventude paramos para pensar que um dia partiremos dessa para outra dimensão. Há momentos em que somos instados a refletir sobre essa circunstância. Isso acontece quando morre um conhecido, especialmente se ele é uma pessoa de pouca idade ou ainda uma criança.

As projeções que fazemos do céu são assemelhadas ao que vemos na televisão, nos filmes. Há muitas nuvens, tranqüilidade praticamente absoluta, anjos vagando para todos os lados com suas asas a dar-lhes autonomia e credibilidade, a bondade é percebida nas auréolas e nas expressões caridosas de todos aqueles que vagueiam por esse espaço privilegiado.

Em nossos sonhos sobre a vida depois de nossa existência sobre a terra é comum que pensemos na possibilidade de encontrar entes queridos, que partiram antes de nós, indo dessa para uma melhor (alguns ou muitos anos antes). Pensamos em nossos avós ou bisavós, nos pais, em irmãos e primos, até mesmo em nossos amores e filhos...

Queremos contar-lhes sobre o que vivemos e também escutar deles sobre tudo aquilo que viram e conheceram a respeito da travessia que fazemos do mundo dos vivos para o dos mortos. A propósito, a palavra morte, no contexto ocidental é constantemente rechaçada, em muitos casos, verdadeiro tabu, assunto a respeito do qual poucas pessoas se dispõem a falar.

Tentamos descobrir a todo o momento como seria esse caminho, queremos saber se as tranqüilizantes imagens que nos são passadas pelos filmes ou pela literatura realmente são condizentes com o que iremos encontrar. Por isso mesmo pensamos em encontrar entes queridos que nos auxiliem a entender melhor esse novo ambiente pelo qual iremos perambular pelo resto de nossas vidas. Existe também, nessa expectativa de encontrar um rosto familiar entre as nuvens da eternidade a constante necessidade que sentimos de segurança.

Em CINCO PESSOAS QUE VOCÊ ENCONTRA NO CÉU , nos dá a sua versão de como seria essa passagem. É interessante notar, por exemplo, que a história de Eddie, personagem central da trama que se desenvolve no filme, nos é contada como uma fábula, que poderia ser apresentada como a vida de qualquer pessoa. Eu ou você, tendo o cotidiano que temos, vivendo na agitação do trabalho, cumprindo diariamente com uma enorme carga de compromissos, tendo que nos dedicar também a outros afazeres e as nossas famílias, poderíamos, até, ser os personagens principais dessa fita.

E quem é esse tal de Eddie, centro da fábula que nos é apresentada? Eddie é um velho mecânico especializado na manutenção de brinquedos de um parque de diversões. Ele tem mais de 80 anos e, ainda não sabe, mas está prestes a morrer. Na verdade ele tem apenas mais uma hora de vida quando a narrativa se inicia.

Isso nos faz pensar a respeito de quanto tempo ainda temos pela frente. Será que viveremos até os cem anos, ou será que estamos destinados a apenas mais alguns dias, talvez horas? Como estamos vivendo cada novo dia que temos pela frente? Da melhor forma possível ou como um fardo a mais, que teremos que carregar como um burro de carga puxando uma carroça sem que a esse animal sejam dadas alternativas ou possibilidades?

Há um pouco de Eddie em cada um de nós justamente por causa disso, ou seja, pelo fato de termos um cotidiano e uma relação que estabelecemos com ele. Muitas vezes resolvemos adotar um percurso em que prevalecem os espinhos, as chagas, as dores. Não conseguimos nos desvencilhar de uma visão pessimista do mundo, mesmo sabendo que de alguma forma contribuímos para que a vida de outras pessoas seja melhor. Vejam bem, sempre estamos ajudando de alguma forma, mas muitas vezes não nos damos conta disso.

Nosso céu ou nosso inferno começa por aqui e não apenas depois que morremos. Somos nós que, de certa forma, decidimos se nossas vidas serão bem vividas ou não. Temos autonomia para escolher nossos amigos, companheiros, emprego, se vamos ou não estudar. É claro que determinadas contingências contextuais podem e irão interferir, assim como sabemos que há certos aspectos de nossas vidas que são definidos a partir de heranças genéticas e familiares (de convívio).

Viver representa uma oportunidade única. Não há bilhete de volta. Não há segundo tempo previsto para nenhum de nós, meros mortais. Se não fizermos bom uso dessa chance que estamos tendo, não teremos outro livro para escrever sobre nossas vidas. CINCO PESSOAS QUE VOCÊ ENCONTRA NO CÉU nos coloca em contato com nós mesmos, nossas pequenas vaidades, os erros comuns do cotidiano, as ausências que deveríamos evitar, as distâncias que nos causam saudade e que mesmo assim nos negamos a reconhecer (seja por orgulho ou por qualquer outro motivo).

Spoiler Rating: 73
LBC Rating: ~

Por João Luís Almeida Machado - Planeta Educação

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