
A partir desse "plot" inusitado, Jorge Furtado constrói mais uma comédia sofisticada, que se desdobra em críticas ácidas à política e em um afetuoso elogio à amizade. As contradições relativas à produção cinematográfica em um país subdesenvolvido e as idiossincrasias do audiovisual brasileiro tornam-se um delicioso subtexto em um tratamento só aparentemente ingênuo.
Furtado sempre se interessou por formas de dramaturgia ao mesmo tempo sofisticadas e comunicativas. Também recorrente em sua filmografia é a busca de um formato contemporâneo para atualizar fórmulas consagradas. E aqui, mais do que em qualquer outro de seus filmes, a "história" é um mero pretexto; muito mais importante é o "hipertexto" que transforma a própria elaboração narrativa em personagem.
A estrutura do "hipertexto" -palavras (e imagens) que remetem a outras- aproxima "Saneamento Básico" do curta "Ilha das Flores".
Não por acaso, os protagonistas recorrem a dicionários para procurar até mesmo o significado de palavras conhecidas. Pouco importa que, para uma personagem escolarizada como a de Fernanda Torres, pareça estranho não saber o que significa "ficção". O que interessa é o jogo narrativo -cômico, lúdico e referencial- que a cena produz.
Apesar da inspiração na "commedia dell" arte", o tom está muito próximo das comédias de Ettore Scola e Dino Risi. "Saneamento Básico" critica dois "motores" da contemporaneidade (a imagem e o dinheiro) com sabor de filme antigo.
Spoiler Rating: 85
LBC Rating: 70
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