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E não apenas o público. Alguns jornalistas saíram perplexos da sessão, que começou às 8h30 e se estendeu até quase o meio-dia. Na entrevista, um deles perguntou logo de saída do que tratava o filme. De excelente humor, David Lynch limitou-se a responder: "Acho que isso é claríssimo." Mais específico, disse que o encanto do cinema era exatamente esse, o de permitir que o espectador entre em um mundo onde ele não sabe o que pode acontecer. Compra um ingresso para o imprevisível.
Como entender esse tipo de cinema? Lynch aconselha: "Não se intimide; use a intuição; deixe-se levar e lembre-se de que o cinema vai além das palavras. Esse é o problema das entrevistas: queremos reduzir um filme a uma explicação e isso o empobrece. O público deve entrar numa sala de cinema com a mesma disposição de quem vai ouvir música num auditório. Busquem a experiência, não o sentido."
São boas dicas. O problema é que o cinema, na visão tradicional, é uma arte narrativa (ainda derivada da literatura e do teatro do século 19) e por isso cria no público a expectativa de um sentido fácil, assimilável. E não é que ele vai se encontrar nessa "história" (e ponha aspas nisso) interpretada entre outros por Laura Dern e Jeremy Irons. Laura faz o papel de uma atriz, convidada a trabalhar num filme que, ela descobre em seguida, é o remake de outro filme, inacabado pois os protagonistas foram assassinados durante o trabalho. Já se vê que IMPÉRIO DOS SONHOS anda (também) na fronteira entre a realidade e a ficção, assim como no limite entre o sonho e a vigília. Onde um, onde outra? Velha questão que os mais experientes conhecem de Calderón de La Barca e Lao-Tsé. Enfim, nada é seguro nessa experiência inquietante de IMPÉRIO DOS SONHOS, que nos deixa com os olhos pregados na tela por quase três horas, e nos faz sentir como na corda bamba. Sem rede de segurança. Uma experiência estética e tanto, acreditem.
Spoiler Rating: 81
LBC Rating: 80
Por Luiz Zanin Oricchio (Estado de São Paulo)
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