13.7.07

"Cartas de Iwo Jima" encontra eco nos EUA de hoje

"A Conquista da Honra" e "Cartas de Iwo Jima" são filmes que se dispõem como espelhos e refletem a Segunda Guerra a partir de pontos de vista distintos. Estreado há algumas semanas, "A Conquista" aborda o "lado americano", o que não significa que o defenda. É dos soldados, de sua experiência, que trata o diretor Clint Eastwood, em um nível. E é da representação da guerra que se ocupa o filme, num outro nível.

"Cartas de Iwo Jima", que agora chega aos cinemas, aborda o "lado japonês", e novamente isso não quer dizer que o defenda. Existe uma nítida diferença entre os dois filmes. O primeiro parte do conhecimento que Clint tem de seu país. "Cartas", ao contrário, é um filme de prospecção. Como se a pergunta a fazer fosse: que povo é esse que enfrentamos? Por que o enfrentamos? Por que o detestávamos? A resposta passa por uma reflexão sobre os enfrentamentos atuais entre os EUA e os povos islâmicos.

Mas a composição do filme parte da pouca intimidade do diretor com os costumes japoneses. Daí um trabalho mais clintiano, em que a morte se apresenta desde as primeiras imagens, pela voz do padeiro Saigo. Sua primeira carta escrita à mulher é como que uma carta de além-túmulo, de alguém que já se vê morto.

Saigo tem como contraponto o novo comandante das tropas japonesas, o competentíssimo general Kuribayashi. Este não parece ser um militarista na tradição nipônica. Tanto sabe ser compassivo com os comandados como considera um erro o atual enfrentamento.

Kuribayashi também escreve cartas e em certo momento confessa não saber por que aceitou esse comando que só pode culminar com a própria morte. No entanto, o general não é um desses samurais que consideram morrer a suprema honra. Como um Miyamoto Musashi, ele entende que o dever do guerreiro é viver para lutar. Ele não cultiva a morte nem muito menos a deseja.

No entanto, ela o ronda, pois é sob o signo da fatalidade que se delineia este filme. Aquele mar coberto de navios de guerra, que vimos em "A Conquista" e que nos tranqüilizava quanto ao resultado do combate, agora parece uma maldição. Idem os aviões que bombardeiam a ilha, que os recrutas americanos saudavam com tanta alegria e que agora soam aterrorizantes.

O conjunto dos dois filmes é evidentemente pacifista. O primeiro questionava a guerra a partir de suas representações.

O segundo torna a guerra insuportável na medida em que nos leva a conhecer intimamente os japoneses. E, se conhecemos o outro, se o admitimos como um igual, já não temos forças para exterminá-lo. Existem aí ecos do atual enfrentamento dos EUA com os povos islâmicos, sem dúvida. Não se trata, no entanto, de atacar George Bush. Clint Eastwood nunca foi de chutar cachorro morto.

Spoiler Rating: 95
LBC Rating: 80


Por Inácio Araujo - Folha de São Paulo

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