

Vindo de Cannes, coberto de elogios, o filme caminha com bastante elegância por onde muitos perderiam as estribeiras num festival de sustos baratos: Seu foco definitivamente firmado no curioso drama da história (que, ao estender a questão da orfandade e incluir o ângulo do HIV, poderia ganhar toda uma nova carga de urgência) deve ter feito a festa de um público inteligente carente de filmes de suspense igualmente inteligentes.
Laura (Belén Rueda) passou os anos mais felizes de sua infância num orfanato à beira do mar, onde recebeu cuidados de funcionários e outros órfãos que amava como irmãos. Trinta anos depois, ela retorna com seu marido Carlos, e Simon, o filho de sete anos, com o sonho de restaurar e reabrir o orfanato há muito abandonado como abrigo para crianças inválidas.
O novo lar e seus mistérios despertam a imaginação de Simon e o menino cria uma teia de histórias fantásticas e jogos pouco inocentes. São brincadeiras perturbadoras que começam a incomodar sua mãe que adentra o estranho universo do garoto e com isso resgata memórias incômodas e há muito esquecidas de sua própria infância.
Bem cuidado, bem produzido e fotografado com o mesmo porte elegante que o roteiro se carrega, o diretor Juan Antonio Bayona trabalha nos detalhes, usa o poder de sugestão, mas não se furta a filmar os fantasmas, até porque eles podem ser produtos de uma imaginação doentia. O quadro é sugestivo e coerente com os filmes de Guillermo Del Toro (e mais com A ESPINHA DO DIABO do que com O LABIRINTO DO FAUNO).
Não se trata de um filme de terror explicito. Terrores como O ORFANATO são chamados de slow burning nos EUA, mas nesse caso a queimadura arde tão lenta que nada se sente, nada se marca. Nada acontece. Enquanto filme de terror, é como olhar para um aquário por seis horas, mas enquanto drama psicológico é um colírio de se encher os olhos.
Spoiler Rating: 89
LBC Rating: ~
Por Luiz Carlos Merten (Estado) & Bernardo Krivochein (Zeta Filmes)
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