O declínio das comédias românticas no cinema vive seu auge. Meg Ryan deixou de lado sua eterna aborrecência para tentar papéis sérios. Freddie Prinze Jr., Sarah Michelle Gellar e outros totens teens sofreram fracassos após fracassos antes de entender que não podem ser levados a sério. O momento é bom para mostrar para os antiquados produtores hollywoodianos que não são apenas valores e costumes que se transformam ao longo dos tempos. O amor também muda e muito. Alguns cineastas (Kevin Smith, Richard Linklater) perceberam isso há algum tempo, mas foi preciso uma Coppola para ensinar o bê-a-bá dos relacionamentos modernos. ENCONTROS E DESENCONTROS (LOST IN TRANSLATION) é a mais bela e emocionante comédia romântica do nosso tempo e só precisa de um leve beijo na boca para isso.
Por mais que Sofia Coppola se esforce, é improvável que algum dia alguém esqueça que a diretora e roteirista é filha de Francis Ford Coppola (O PODEROSO CHEFÃO). Mas não há como negar que ela vem criando seu próprio espaço e que há um salto considerável entre AS VIRGENS SUICIDAS, seu longa de estréia, e ENCONTROS E DESENCONTROS, que trouxe na bagagem diversos prêmios internacionais.
Nada mal para um filme assumidamente pequeno, discreto e ecônomico. Bill Murray é um ator veterano que viaja para Tóquio para fazer um comercial de uísque e embolsar alguns milhões. Scarlet Johansson acompanha o marido numa de suas inúmeras tours no Japão, fotografando bandas de rock. Bill tem uma mulher perdulária, dois filhos chatos, uma mansão e a angústia de chegar a uma certa idade e ter perdido a felicidade no meio do caminho. Scarlett é linda, tem um companheiro que diz "eu te amo" cada vez que sai porta afora, dinheiro apesar da idade e a angústia de ser jovem e não ter encontrado sua própria felicidade. Ela é o possível passado dele. Mas ambos se encontram no luxuoso hotel da capital nipônica e as duas gerações encontram um amor tão puro e essencial que nem mesmo pode ser maculado pelo sexo.
Apesar do título cretino, ENCONTROS E DESENCONTROS é muito mais sensível do que deixa transparecer. Sofia consegue arrancar da dupla de atores uma interpretação única, que só vai se repetir quando os planetas do sistema solar se alinharem outra vez: Bill Murray entrega o papel de sua vida e nem precisa falar muito. Até mesmo na hora de fazer rir (as tentativas de comunicação com os japoneses são simplesmente hilariantes), ele sai de seu mundo interior e surpreende. Esses momentos servem para tornar o filme atemporal e atraente para qualquer geração. Mas aqueles que sentirem um nó na garganta ao ouvir "Just Like Honey", do Jesus & Mary Chain, ao final do filme, vão entender sua beleza. Quem ficar boiando pode alugar CASABLANCA outra vez. Não há vergonha nisso.
Spoiler Rating: 87
LBC Rating: ~
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