4.12.07

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

É século XIX em Londres e todos estão cantando, mas quando o sangue esguicha do Signor Adolfo Pirelli, você sabe que isso não é nenhum MY FAIR LADY...SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONIACO DA RUA FLEET é um conto selvagem de canibalismo, loucura e serial killers. E esse show de horror é conduzido com maestria pelas mãos de Tim Burton.

Com seu realismo gótico resplandecendo em vermelho sangue, essa versão da clássica peça da Broadway de Stephen Sondheim perde um pouco do tom cômico. Alias, não há espaço para risos, exceto aqueles nervosos, nessa estória humana de amor duas vezes-perdido e a capacidade destrutiva do horror da vingança.

SWEENEY TODD é um obscuro melodrama britânico que pode ou não ser baseado em fatos reais do séc XVIII. Mostra a historia de um barbeiro que foi banido de Londres e depois de tempos, volta como Sweeney Todd e, unindo-se com uma torteira, eles transformam em recheio de tortas as pessoas que são vitimas de sua sanguinolenta navalha.

O show de Sondheim, em 79, ocorreu dentro do contexto da Revolução Industrial, sua corrupção endêmica e avareza. Uma ópera mais satírica. Mas Burton e o roteirista John Logan tomaram o tema como um verdadeiro presente, onde puderam, sem culpa alguma, expor seus devaneios macabros. À exceção das seqüências de imaginário ou flashback de dias felizes, o filme assume um olhar monocromático que reflete na arquitetura de toda a cidade. Depp e Carter vestem-se austeramente de preto com grandes círculos negros em torno dos olhos, quase como bonecos da NOIVA CADÀVER.

Ao optar por atores dramáticos, ao invés de atores-cantores, Burton foi sábio no tom trágico e emocional da história, estreitando o foco a Sweeney; a Nellie Lovett, senhora das tortas de carne, flagelada pelo amor não correspondido de Sweeney; e Toby (Edward Sanders, que tem uma voz impressionante), um pequeno diabrete que ajuda os “confeiteiros”, mas é inocente em obter os ingredientes da torta.

Depp é o coração e entranhas do filme. Seu Sweeney é governado pela vingança. Apresentado com suas navalhas, que a Senhora Lovett guardou carinhosamente por todos os anos de exílio, ele agarra uma lâmina com mão firme e troveja: “Meu braço está completo outra vez”.

Sua raiva homicida centra-se no juiz Turpin (um sisudo Alan Rickman), um vil predador sexual que ordenou a prisão de Sweeney através de Beadle Bamford (um adulador Timothy Spall) para poder roubar sua esposa (Laura Michelle Kelly) e filha. Sweeney descobre que sua esposa se envenenou e Turpin tomara o bebê como fruto de luxúria (Johanna, uma macilenta Jayne Wisener). Anthony (Jamie Campbell Bower) é um jovem marinheiro que resgata Sweeney do mar, assim como, pretende fazê-lo também com Johanna em terra.

Assim, um triângulo de personagens obcecados emerge. Depp interpreta um Sweeney, tão focado na morte a sangue frio, que perde completamente a humanidade de ser. Carter como Nellie Lovet, com seu cabelo penteado aparentemente com um batedor de ovos, obcecada por Sweeney e o juiz, faminto por jovens mulheres.

Aliás, ele é o principal “se” do filme. Em palco, é um homem atormentado, esforçado com sua obsessão, mas aqui é um bandido melodramático conservando, em estoque, todos os defeitos humanos. Embora Rickman use todos os truques para persuadir o público que não é uma caricatura.

Os números musicais gotejam com audaciosa sagacidade e lirismo crítico de Sondheim. Uma canção de ninar transporta como ameaça. Uma valsa à conspiração. O cinismo através da crítica social de cada canção.

O sangue justaposto à música é altamente inquietante. Burton esfrega o sangue na cara do público, para fazê-los sentir toda a loucura e fúria destrutiva da obsessão de Sweeney. Atrelando com Depp, seu velho alter-ego, Burton faz de SWEENEY TODD um poço obscuro que arde em fúria e consome a si próprio. Com sua atuação surpreendente, Depp é um Sweeney Todd por gerações!

Spoiler Rating: 94
LBC Rating: ~

2 comentários:

Kamila disse...

Assisti ao telefilme dramático inspirado nesta história com o Ray Winstone como Sweeney Todd e adorei. Espero com ansiedade este musical do Tim Burton.

Unknown disse...

Quando se trata de premiações é quase impossível falar de um filme supostamente "ignorado" sem entar em retrospecto.
Na 76° Edição do Academy Awards® Chicago obteve o maior número de indicações e o maior número de prêmios, 6. Sweeney Todd-O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet recebeu apenas 3 indicações na 81° Edição do Óscar®, vencendo apenas, o merecido, prêmio de Melhor Desenho de Produção.
Todas essas informações se dão para se impor meu ponto de vista sobre quão grande foi a incoerência da Academia na supracitada edição.
Técnicamente, o filme de Tim Burton só perde na Trilha Musical e Mixagem de Som. Não que Danny Elfman tenha composto algo inferior ao filme de 2002, mas por que por diversar vezes soa desconexa com alguns números.
A Direção de Tim Burton é superior à de Rob Marshall, o Roteiro de John Logan contém bem mais profundidade emocional, e suas personagens evoluem com o desenrolar do longa, sempre com absoluto controle narrativo, enquanto o Roteiro de Bill Condon pouco evolui sua trama central que graças aos incontáveis números musicais chegam perto de perder seu foco narrativo. Quanto as atuções, Johnny Depp, Boham Carter, Alan Rickman, Jamie Campbell e Sacha Baron Cohen estão bem melhores do que os caricatos Richard Gere, John C. Reilly e Renné Zellweger. A única ressalva do elenco de Chicago é Catherine Zeta Jones.
Agora chego ao ápice do meu texto com a seguinte pergunta: Porque Sweeney Todd não foi reconhecido da mesma maneira que Chicago? E já respondo. Preconceito. A Academia tem bastante preconceito com o trabalho de Burton e continua ignorando o prêmio a Depp.
A produção Burtoniana merecia indicaçôes nas seguintes categorias: Melhor Filme, Direção, Ator*, Atriz, Roteiro Adaptado, Maquiagem, Figurino*, Desenho de Produção* e Montagem.
Ratting: 90!

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