14.12.07

Santos e Demônios

Dito Montiel passou a infância e adolescência no problemático bairro do Queens, Nova York, até meados dos anos 80. Viu os seus amigos presos, mortos, viciados ou largados. Se Dito Montiel escapou desse destino para se tornar escritor (e cineasta), o próprio atribui sua salvação à proteção de algum anjo, ou anjos.

Daí vem o nome do filme, A GUIDE TO RECOGNIZING YOUR SAINTS, uma revisão emocional autobiográfica, uma edição atualizada, se preferir. Não há lembrança agridoce que não esteja embriagada do filtro romântico de Montiel: por mais que os discursos dos personagens procurem refletir a realidade de forma apurada, as inflexões no diálogo traduzem muito mais do que os personagens esperam transparecer: um assoberbante sentimento de carência. E então figuras da juventude, fantasmas do passado, são vistos como espécie de santidade.

SANTOS E DEMÔNIOS contrapõe realidade com velhas lembranças. Quando o filme precisa substituir os excelentes Shia LaBeouf, Channing Tatum (numa performance particularmente explosiva), Peter Anthony Tambakis e Melonie Diaz por suas contrapartes adultas (interpretadas por nomes mais famosos: Robert Downey, Jr., Eric Roberts, Scott Campbell e Rosario Dawson) não há mudança no charme nem no desenho dos personagens. A transição é a das mais tranqüilas. Sem recair na presepada contemporânea que impõe a conclusão definitiva nos assuntos pendentes, os relacionamentos de “A Guide...” são (im)perfeitos como Deus os fez. Ainda brigando, ainda tentando decifrar um ao outro, ainda verbalizando mal o profundo afeto que sentem um pelo outro, é um troço lindo de se ver. Se nem todos têm a sorte de realizarem seus objetivos, menos ainda podem dizer que possuem um lugar imutável. Montiel tem sorte.

Spoiler Rating: 70
LBC Rating: ~

Por Marcelo Hessel (Omelete) e Bernardo Krivochein (Zeta Filmes)

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