Na fase final do Festival de Veneza de 2006, MUNDO NOVO, de Emanuele Crialese, chegou a ser apontado como favorito ao Leão de Ouro. Não ganhou. Mas, mesmo assim, deixou uma belíssima impressão. O filme não é apenas oportuno - é, principalmente, muito bem construído.
Oportuno, porque toca no problema vital dos países da Europa unificada - as atitudes (contraditórias) em relação às ondas migratórias que vêm dos países pobres em direção aos ricos. Crialese procura lançar alguma luz sobre o presente olhando para o passado. Nos primeiros anos do século 20, grandes massas de italianos decidiram emigrar, grande parte deles em direção aos Estados Unidos. Iam 'fazer a América', como diziam. Quer dizer, escapar da pobreza, localizada em especial no Sul do país, e dirigir-se às terras da promissão, situadas no outro lado do Atlântico.
O filme não é apenas oportuno, mas criativo do ponto de vista formal. Crialese trabalha em dois registros. O documental, com ambientação em paisagens da Sicília e personagens falando dialeto siciliano. Esse registro documental alterna com outro, diametralmente oposto e referido à imaginação dos personagens, que sonham com um país onde o dinheiro dá em árvores e frutas têm a dimensão de uma casa térrea.
O fio da narrativa é puxado por uma personagem excêntrica em relação a todos os outros - uma garota criada na Inglaterra, sofisticada naquele ambiente rústico, e que precisa de um casamento de conveniência para obter o visto americano. Charlotte Gainsbourg encarna essa figura misteriosa, que pode ser uma aproveitadora, uma prostituta ou, ainda, apenas uma vítima entre tantas naquele tempo desesperado.
A base do procedimento de Crialese é a mesma de Gianni Amelio em LAMERICA. Recordar o passado de emigração dos italianos para que eles reflitam sobre suas atitudes em relação aos que vêm hoje à Itália em busca de algo melhor. São diretores humanistas, críticos em relação à xenofobia da direita italiana.
Spoiler Rating: 84
LBC Rating: 71
7.12.07
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Um comentário:
Este filme acabou de estrear por aqui. Nem estava assim tão interessada nele, mas, depois desse texto, acho que vou assistí-lo.
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