Não há como ignorar...A atuação de Javier Bardem em MAR ADENTRO é magnífica. É daquelas interpretações que definem um filme, lhe dão o corpo e a alma necessários para que adquiram vida própria, emocionem e se fixem na memória afetiva do espectador. Tanto é que Bardem colecionou prêmios em penca - a começar pela Coppa Volpi do Festival de Veneza, onde o filme concorreu, e pelo Goya, o "Oscar" espanhol.
Bardem, neste difícil papel, interpreta o pescador Ramón Sampedro, que ficou tetraplégico depois de um acidente quando tinha 26 anos. No tempo do filme ele está com 54. Há muito cansado da situação, ele deseja morrer. O problema é que precisaria ser assistido para isso, pois está condenado à imobilidade. Em uma palavra, como se costuma dizer no cinema, o filme "discute" o áspero tema da eutanásia. E claro, aqui, como em outros casos, a palavra "discussão" é apenas uma aproximação metafórica, pois não se trata de um discurso articulado, lógico, racional, contra ou pró a morte voluntária. É apenas uma espécie de estudo de caso real. Um caso particular, que permite a cada qual tirar suas conclusões, como convém quando a arte é ética e não panfleto desta ou daquela causa.
De qualquer forma, o filme causou polêmica, pois grupos religiosos não consentem sequer em tocar no assunto. Aliás, uma das cenas mais fortes é justamente o encontro entre um padre e Sampedro. Há sinceridade de parte a parte e cada qual defende suas convicções. Mas fica clara a impossibilidade de o religioso se colocar no lugar do outro. Não por falta de piedade, mas porque traz um discurso pronto e acredita nele como num dogma. Não há diálogo.
De resto, o filme se coloca essa questão muito inquietante: por que alguém decide deixar voluntariamente a vida? Certo, Sampedro está paralisado e este seria o motivo. Mas ele não se conduz como um depressivo. Ao contrário. Parece cheio de energia, humor, criatividade. E, no entanto, conclui que, do jeito que está, não vale a pena viver. Bardem é brilhante nessa caracterização. O filme poderia ser ainda mais forte se não cedesse aqui e ali à armadilha de algum apelo melodramático. Como os bons vinhos, este cairia melhor se fosse um pouco mais seco.
Spoiler Rating: 92
LBC Rating: ~
Por Luiz Zanin Oricchio (Estado de São Paulo)
27.12.07
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