O título é apropriado. Em CACHÉ (escondido, em francês), o austríaco Michael Haneke - diretor de A PROFESSORA DE PIANO - conta a história de Georges (Daniel Auteil), um apresentador de TV que começa a receber vídeos anônimos em casa. A imagem do vídeo é sempre a mesma: uma tomada feita da rua que mostra a fachada da casa, pontuada por poucos movimentos de entrada e saída da família.
Não é só a câmera que está escondida. Aos poucos, Georges se dá conta de que o remetente pode ser alguém de um passado distante e também oculto, sobre o qual ele nunca conversou com a mulher (Juliette Binoche). Logo se descobre que a relação com o filho também não é das mais transparentes. Mais não se pode dizer para não estragar a surpresa.
A maestria de Haneke, que ganhou a Palma de melhor diretor em Cannes, consiste em trabalhar com planos fixos de longa duração e grande força, que permitem diversas interpretações. Os significados estão escondidos atrás da imagem, e cabe ao espectador descobri-los -ou, em muitos casos, simplesmente imaginá-los. Nada ganha uma conclusão definitiva, nem mesmo no final.
Mais uma vez, o diretor explora o lado sombrio da alma humana -aquele que provoca medo e angústia. Constrói uma espécie de intimismo negro. Com histórias verossímeis e nada fantásticas, apavora mais do que os filmes de terror, embora o suspense criado em sua obra esteja sempre mais próximo do drama. CACHÉ sonda os mistérios da culpa e do ressentimento, sentimentos destruidores que podem se esconder por trás até de atos esquecidos do passado. Um filme para cabeças frias e corações fortes.
Spoiler Rating: 87
LBC Rating: 83
Por Thiago Stivaletti - Folha de São Paulo
28.12.07
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