30.11.07

A Vida dos Outros


Havia fortes candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas a Academia mais uma vez surpreendeu. O franco favoríto era O LABIRINTO DO FAUNO, de Guillermo Del Toro, que recebeu três estatuetas (fotografia, direção de arte e maquiagem), mas não a de melhor filme em língua não-inglesa. O Oscar foi para o alemão A VIDA DOS OUTROS, de Florian Henckel von Donnersmarck. Não houve reclamação, nem poderia haver. O diretor estreante de 34 anos fez um filme para ficar na memória. E teve um aliado importante - o ator Ulrich Mühe, considerado um dos maiores nomes do teatro alemão-oriental.

Há um conceito de espetáculo que sustenta tanto a trama quanto a encenação. O que torna o filme atraente e contemporâneo. A trama tem como centro um casal, um dramaturgo e uma atriz. Ela atrai a cobiça de um ministro, que lança contra ele o arsenal de arapongas do Estado com o objetivo de detectar alguma atividade contra-revolucionária e eliminar o concorrente. Como pivô da armadilha, encontra-se o capitão Wiesler, exímio espião, que monta um aparato de escuta no sótão do prédio onde o casal habita, registrando seu cotidiano, diálogos, brigas e embates amorosos. Enquanto o casal vive o drama, Wiesler é apenas o espectador solitário desta cena.

Pois é o agente que, logo na abertura, dá a seus subordinados uma lição de interrogatório "científico", que vai subverter o próprio método pela emoção. A opacidade do policial termina revelando mais sobre a Alemanha Oriental do que mil discursos. Mas não é só a mediocridade desse homem. É o que ocorre com ele, a partir dele. Um grande filme, e uma grande interpretação.

Spoiler Rating: 91
LBC Rating: 67

Por Luiz Carlos Merten (Estado) e Cássio Starling Carlos (Folha)

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