15.11.07

O Aviador

Certamente O AVIADOR, de Martin Scorsese, é o filme mais bonito de 2004. A producão que reconstrói a Hollywood dos anos 30 é um esplendor, toda desenhada por Dante Ferretti, que trabalha sempre com Scorsese; aliás, toda sua equipe se reúne novamente neste filme. Não sem motivo, o filme foi indicado a 11 Oscars.

Sem esquecer o fio narrativo da história, ficamos sabendo que Howard Hughes (Leonardo DiCaprio) é cineasta, playboy, neurótico, milionário. Mas a ênfase é dada ao que Hughes era antes de tudo: um aviador, responsável por quebrar recordes de velocidade e distância e principalmente por investir sua fortuna pessoal na aviação. O filme não deixa claro como ele a adquiriu - já no começo do longa, Hughes aparecendo filmando sua primeira produção, HELL´S ANGELS, com sua primeira estrela, Jean Harlow, interpretada pela cantora Gwen Stefani, que não tem nada a ver com ela.

Foi por causa desse dinheiro investido em pesquisa que a aviação dos EUA cresceu tanto. Hughes foi dono da TWA e lutou contra o monopólio da Pan American, mas o forte do filme é sua luta contra uma investigação do Congresso onde é pressionado por um político corrupto muito bem feito por Alan Alda, indicado ao Oscar de ator coadjuvante.

E o filme é bonito porque Scorsese mexeu nas cores de forma que o filme ficou com as cores da época do Technicolor, ou seja, tudo muito brilhante e constratado, extremamente adequado. Ao contar a história de uma lenda de Hollywood, um notório produtor-diretor-dono-de-estúdio (RKO), o diretor está em seu elemento mostrando trechos inteiros de HELL´S ANGELS, um pouco de O PROSCRITO e dando vida a algumas de das namoradas de Hughes, como Ava Gardner, Faith Domergue e principalmente Katharine Hepburn.

Aí se encontram os problemas de roteiro em relação ao que aconteceu. Ava Gardner, por exemplo, aparece em 1939, quando na verdade entraria na história cerca de sete anos depois. Para piorar, a inglesa Kate Beckinsale não se parece nem um pouco com Ava, que é mostrada sob um ponto de vista muito positivo, revelando o bom caráter que sempre foi. Frank Sinatra também é mencionado, apesar de ainda não ter estado no pedaço naquele momento.

Essas pequenas falhas, porém, são quase corrigidas por Scorsese, que teve a luz de escalar Cate Blanchett para interpretar Katharine Hepburn. A australiana é uma atriz espetacular, que dá um show. Sem cair na mera imitação, mas se assemelhando na maquiagem, no cabelo, nos gestos e principalmente na voz, Blanchett faz uma encarnação perfeita, como raramente vimos antes. A personagem de Blanchett se torna a principal figura feminina do filme.

Porém o filme erra ao não dar mais informações sobre o destino posterior de Howard Hughes - não há nem sequer, ao final, aqueles letreiros para informar quando morreu, que foi ficando cada vez mais louco, que se casou com a estrela Jean Peters e possivelmente tambem com Terry Moore. E talvez O AVIADOR não construa um retrato sólido de quem foi Hughes justamente porque não se aprofunda nas informações, limita-se a registrar que ele tinha trauma de germes e ficou progressivamente mais recluso e maluco.

Leonardo DiCaprio, tambem co-produtor, é um bom ator e convence plenamente como o jovem herói, mas tem certa dificuldade para envelhecer, especialmente no porte, na postura e peso. Mas é um bom trabalho num filme que não cansa, mas é preciso levar em conta que o período e a temática do filme me agradam particularmente.

Spoiler Rating: 94
LBC Rating: ~

Por Rubens Ewald Filho

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