
Esse tratamento franco dos infortúnios que a vida lhe preparou e de sua tendência à autodestruição nem de longe se aproxima da composição de um retrato negativo, ao contrário. A recriação das dificuldades, internas e externas, obedece ao propósito maior de sublinhar a fragilidade física e psicológica da personagem, bem como o contraste extraordinário que se expressava em sua arte: como aquela voz, apesar de tudo, saía dali para encantar?
Uma coisa tem a ver diretamente com a outra, sustenta o filme, de acordo com a lógica habitual dos superespetáculos biográficos: a grandeza de Piaf como artista se deveu, em boa parte, à natureza tormentosa de sua vida pessoal. A partir do momento em que ela é descoberta nas ruas de Paris, as esferas pública e privada se confundem irremediavelmente, sem que o sucesso em uma consiga evitar o naufrágio da outra.
O vaivém no tempo usado por Dahan (RIOS VERMELHOS 2) reforça essa idéia, além de tornar menos esquemática a progressão dramática, alternando subitamente momentos de infelicidade profunda com outros de conexão mágica com a vida. E, assim como Jamie Foxx e Joaquin Phoenix sustentam RAY e JOHNNY E JUNE, respectivamente, a pequena Cotillard (UM BOM ANO), meros 32, faz de PIAF um solo impressionante que acentua o caráter humano de sua Edith sem comprometer o entendimento de sua trajetória como uma espécie de graça divina.
Spoiler Rating: 76
LBC Rating: 63
Por Sérgio Rizzo
Um comentário:
Considero o trabalho do diretor Dahan um tanto irregular. Na verdade acho essa cinebiografia muito parecida em alguns aspectos com outros filmes do gênero - especialmente aqueles que mostram astros da música, quando o maior destaque acaba sendo a obra do artista, e não sua personalidade. O visual é magnífico, mas é lógico que a Marion Cottilard é o ponto alto, uma das melhores atuações do ano.
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