24.10.07

El Otro


Em EL OTRO, de Ariel Rotter, um homem, durante uma viagem de negócios, troca de identidade com o sujeito que morreu a seu lado, no ônibus. É uma metáfora sobre a sempre complexa questão da identidade.

O ponto de partida não é novo e Michelangelo Antonioni, para citar apenas um exemplo, já explorou as possibilidades da transformação em outro num de seus clássicos - O PASSAGEIRO, PROFISSÃO REPÓRTER, com Jack Nicholson, nos anos 70. Mas o fato de uma história não ser completamente original - poucas são, se é que ainda existe alguma que o seja, realmente - não impede que o diretor e roteirista Rotter diga coisas interessantes sobre as pessoas e seu país.

Rotter já havia sido selecionado para os festivais de Roterdã e Berlim, em 2001, com um filme intitulado SÓLO POR HOY. Com EL OTRO, ele não apenas voltou a Berlim, em fevereiro, como seu filme recebeu dois prêmios importantes - o Urso de Prata de melhor ator para Julio Chávez e o prêmio especial do júri. Embora os júris fossem diversos, o de Berlim, em 2007, corrigiu a injustiça do ano passado, quando Chávez já deveria ter recebido seu Urso de Prata, por outro filme até melhor - EL CUSTÓDIO (O Guardião), de Rodrigo Moreno.

Chávez faz agora este homem que, meio na brincadeira, joga com a possibilidade de trocar de persona para não ter de voltar para casa (e para uma vida que não o satisfaz). Com o novo, ele inventa para si mesmo uma nova profissão, a de médico, o que faz com, que, lá pelas tantas, seja chamado para atender a uma emergência. Ele mantém a farsa ou não? A questão da responsabilidade pessoal e social vira um dos subtemas de EL OTRO.

Longas seqüências sem diálogos e sem música, primazia absoluta da imagem e uma sensibilidade particular para os sinais emitidos pelo corpo. Não por acaso, as primeiras cenas do filme são de um teste de visão e, em seguida, de um teste de gravidez. Para Rotter, é o corpo que revela os tormentos da alma.

Spoiler Rating: 65
LBC Rating: ~

Por Luis Carlos Merten (Estado) e José Geraldo Couto (Folha)

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