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Há outra metáfora, quando o príncipe, no conto dentro do filme, precisa evaporar a água do mar para encontrar a princesa desaparecida. A arte de Hsiao Hsien constrói-se por meio de metáforas que são, ao mesmo tempo, densas e sutis. A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO dialoga com um clássico - O BALÃO VERMELHO, que o diretor francês Albert Lamorisse realizou em 1956. É um dos mais belos filmes sobre a infância. Mostra um garoto carente em Paris. Solitário, ele estabelece essa relação com o balão do título, que sobrevoa a cidade.
Hsiao Hsien retoma a história do balão vermelho. Desta vez o garoto é filho de Juliette, e ela empresta sua voz a um espetáculo de marionetes. O filho é entregue aos cuidados de uma baby-siter, que num determinado momento mostra à mãe o filminho que realizou sobre o menino. A relação da baby-siter com a mãe era muito mais detalhada, para que a segunda se sentisse culpada pelos momentos que rouba ao filho para se dedicar à carreira. O diretor cortou toda explicação. Queria deixar o espectador livre para respirar - ou para construir o filme no seu inconsciente?
Hsiao Hsien nasceu na China, mas criou-se em Taiwan. Vencedor do Leão de Ouro de Veneza - por CITY OF SADNESS, em 1989 -, ele não é tão conhecido no Brasil quanto mereceria. A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO é lindo. Juliette contou que nunca trabalhou num filme como este. O roteiro previa as cenas, mas os diálogos eram improvisados e a câmera seguia os atores no set, sem marcação prévia. Apesar disso, poucas vezes ela se sentiu tão entregue a um diretor, e olhem que Juliette é um ícone do cinema de autor (Kieslowski, Haneke). Para a atriz, Hsiao Hsien representa, no cinema, o absoluto da liberdade.
Spoiler Rating: 76
LBC Rating: ~
Por Luis Carlos Merten (Estadão)
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