Aos 87 anos, Rohmer não veio defender pessoalmente OS AMORES DE ASTRÉE E CELADON (LES AMOURS D´ASTRÉE ET CELADON, seu 27º longa-metragem), mas mandou uma mensagem justificando a ausência: "Veneza já honrou muitos de meus filmes [...]. Já recebi até um Leão de Ouro especial pelo conjunto de minha obra. Mas não quero que ninguém pense que vou começar uma criação de leões. Apenas meu precário estado de saúde me impede de estar com vocês para acompanhar Astrée e Céladon, levados a Veneza pelo vento que eu gosto tanto de filmar, e que talvez sintam passar pela laguna".
O bilhete de Rohmer soou especialmente comovente dado o frescor e a leveza de seu filme, em nada parecido com a obra de um homem velho. A partir de um clássico da literatura francesa escrito por Honoré d'Urfe no começo do século 17, o diretor retoma o estilo dos outros filmes de época de sua carreira, recusando-se a encenar diante da câmera uma representação pseudo-realista do passado. Prefere investir em um visual inspirado em pinturas e gravuras da mesma época e em diálogos não-atualizados, que mantêm a poética muito particular do período.
Na linha da fábula pastoril, dois amantes se desentendem, se separam e acabam se reencontrando depois de muitas situações equívocas. Ambientada no século 5 d.C., segundo uma narrativa do século 17.
Com toda sua poesia, o filme de Rohmer pareceu deslocado.
Spoiler Rating: 85
LBC Rating: ~
Por Pedro Butcher (Folha de São Paulo)
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