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É bastante provável que FANTASIA 2000 seja uma decorrência, ao menos em parte, desse fracasso. Daí não ser estranho que, entre o original e a nova versão, o que mais mudou - à parte as técnicas de animação - foi o critério de escolha das músicas. Peças sombrias, como "Uma Noite em Monte Calvo", cederam vez a obras com astral mais alto, como a abertura da "Quinta Sinfonia", de Beethoven, ou "Pompa e Circunstância", de Edward Elgar.
FANTASIA 2000 reflete, sem saber, o contraste que existe entre o poder da música, dionisíaco, grupal - que felicidade ver tantos bichos numa Arca de Noé imensa, reverberando de ecos inaudíveis para nós - e a perfeição técnica, apolínea e recortada do desenho. Em 1940, Walt Disney fazia do dionisíaco, do grupal, um pesadelo: é o "Aprendiz de Feiticeiro", fantasia do nazismo. FANTASIA 2000 tem menos medo da música. Entrega-se a um monte de baleias, entrega-se às mais cabeludas utopias ecológicas do trecho relativo ao "Pássaro de Fogo", sabendo-se atual. Aceita a comparação com 1940, porque imita a grupalidade que havia então, invertendo o sinal que tinha.
O que era totalitarismo se transforma em coletividade, em comunidade ecológica. O que era jogo entre figura e fundo se torna conflito entre duas e três dimensões. O conflito exige resolução. Pois a harmonia que vemos no episódio de Mickey era falsa: refere-se a um momento em que se alistar no exército correspondia a lutar pela liberdade do indivíduo. Em que obedecer à ordem significava (falsamente) ser feliz.
FANTASIA 2000 caracteriza-se como um filme de diversão familiar típico dos estúdios Disney, sem a ousadia e inventividade extrema do primeiro "Fantasia", e também sem o tom sombrio que parece freqüentar as fantasias infantis de Disney e por vezes metamorfoseá-las em soturnos pesadelos.
Quinta Sinfonia
O primeiro segmento é a "5a Sinfonia" de Bethoven. O público certamente irá identificar rapidamente a música, que é acompanhada de formas triangulares que voam sobre belíssimos cenários pintados em pastel.
Pinheiros de Roma
O próximo segmento é o menos imaginativo de todos, mas ainda pode ser considerado um dos mais belos. É "Pinheiros de Roma", composição de Ottorino Respighi. Os animadores desconsideraram totalmente o título e criaram baleias voadoras feitas no computador. O desenho não tem uma história definida, mas é bastante agradável aos olhos e ouvidos.
Rapsódia em Azul
O segmento mais criativo está por vir: "Rapsódia em Azul", com a música de George Gershwin. Vemos aqui um desenho feito claramente para os adultos, onde acompanhamos os conflitos pessoais de quatro personagens nova-iorquinos. Destaque para a inspiração visual do artista Al Hirschfeld, cuja foi incorporada na animação. Uma curiosidade é que "Rapsódia" foi produzido para ser um curta independente de FANTASIA 2000, mas Roy Disney gostou tanto do desenho que resolveu incorporá-lo ao longa-metragem. Isto pode ser percebido, já que este segmento tem uma duração maior que os demais.
O Soldadinho de Chumbo
Baseado na obra de Hans Cristian Andersen, "O Soldadinho de Chumbo" é apresentado ao som da composição "Piano Concerto No. 2, Alegro, Opus 102" de Dimitri Shostakovich. Assim como em "Pinheiros de Roma", enquanto os personagens foram criados digitalmente, os cenários foram feitos tradicionalmente. Felizmente, ambos os elementos casam perfeitamente, apesar de que é possível notar a idade do segmento pelas técnicas de animação - foi produzido em meados de 92, quando a animação digital ainda estava em sua fase inicial. Assim como em "A Pequena Sereia", o final mais trágico da obra de Andersen foi transformada em um final feliz que segue a linha tradicional da Disney.
O Carnaval dos Animais
Eric Goldberg, diretor da "Rapsódia" foi responsável por outro dos melhores segmentos da fita, "O Carnaval dos Animais" de Camille Saint-Saëns. O que aconteceria se você desse um yo-yo à um bando de flamingos? A resposta é mostrada nesse colorido segmento, e infelizmente, o mais curto. Com certeza vai arrancar boas gargalhadas dos espectadores.
O Aprendiz de Feiticeiro / Pompa e Circunstancia
Seguindo, encontramos dois seguimentos estrelados por dois personagens clássicos da Disney: Mickey Mouse e Pato Donald. "O Aprendiz de Feiticeiro" do compositor Paul Dukas vem do FANTASIA original, e o inédito "Pompa e Circunstância" (música de Edward Elgar) mostra Donald como o atrapalhado ajudante de Noé. É impossível imaginar FANTASIA sem "O Aprendiz", mas, assim como "Pompa", pode-se sentir certa jogada de marketing por trás de ambos os segmentos. Afinal, ter dois dos personagens mais famosos do estúdio ajuda bastante a promover o filme, certo? Tudo bem, pois quem ganha é o espectador, pois ambos os segmentos são impecáveis em todos os aspectos.
O Pássaro de Fogo
Para fechar FANTASIA 2000 com chave do ouro, a belíssima composição de Igor Stravinsk, "O Pássaro de Fogo" ganha vida em um desenho tão poderoso quanto a música que o originou. Os irmãos Gaëtan Brizzi e Paul Brizzi foram encarregados da direção do segmento e, palmas para eles, pois fizeram um pequeno grande filme, poderoso e ousado em todos os sentidos.
Spoiler Rating: 85
LBC Rating: ~
Por Matheus Mocelin Carvalho - Animatoons
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