
Desde seu segundo longa, "Esperando o Messias", feito em 2000, ele se afirmou como um dos talentos do novo cinema argentino que invadiu o mundo e chamou o interesse de crítica e público. "Todas as Aeromoças Vão para o Céu" e, sobretudo, "O Abraço Partido", seus trabalhos seguintes, vieram confirmar uma opção pelo detalhe e um gosto pela crônica cotidiana, sempre marcados pelo humor judaico.
Com "Leis de Família", Burman reitera seu vocabulário e ao mesmo tempo busca encontrar saídas para não ser identificado como um cineasta que faz sempre o mesmo filme. Em seu novo longa, Burman recorre mais uma vez ao fiel Daniel Hendler, uma espécie de alter ego do diretor. Hendler vive Ariel Perelman, um professor de direito também filho de um advogado, com o qual mantém um relacionamento ao mesmo tempo afetuoso e conflitante.
A família é o tema recorrente dos filmes de Burman, que persegue seus meandros como um moralista, tentando enxergar o descompasso entre impulsos individuais e funções sociais pré-determinadas.
A presença recorrente de Hendler aproxima os filmes de Burman do ciclo Antoine Doinel, em que Truffaut seguia as mutações existenciais do personagem de Jean Pierre Léaud, da infância à idade adulta.
Só que, em vez de repetir o foco nas relações amorosas, Burman as desloca para o campo dos papéis sociais. Em "Leis de Família", esse interesse se renova na sobreposição de lugares de seu protagonista, ao mesmo tempo filho e pai, que se vê obrigado a tolerar as divergências fora de casa e a reproduzir funções familiares dentro de casa.
Nessa ambigüidade, o que Burman consegue representar com vivacidade é o descompasso entre as leis e os fatos, entre a determinação e o livre-arbítrio, do qual ninguém se encontra a salvo.
Spoiler Rating: 71
LBC Rating: 67
Por Cássio Starling Carlos - Folha de São Paulo
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