2.8.07

"Duro de Matar 4.0" é filme de ação genérico

“Duro de Matar 4.0” é um filme de ação completamente genérico protagonizado por um John McClane roubado da personalidade de suas aventuras anteriores (de policial comum jogado em situações extraordinárias, o que rendia ao espectador a mágica identificação improvável e mais um adendo de comicidade, McClane tornou-se um super agente imbatível, imortal e, por isso mesmo, previsível), tanto que mais adequado seria considerá-lo uma continuação do insípido “Código Para o Inferno”, policial também estrelado por um Willis na missão muito similar a de “Duro de Matar 4.0”: proteger um jovem que desvenda um código criptografado do órgão de Segurança Nacional.

Calha que a semelhança de sinopses é apenas o início para uma espécie de compêndio de seqüências de ação e tramas retiradas de outros filmes: uma seqüência de perseguição automobilística tirada diretamente de “Operação França” se transmuta numa outra, xerocada de “True Lies” (envolvendo McClane e um jato), cenas nas quais McClane se encontra dentro de veículos dependurados (“O Mundo Perdido”), cenas de pirotecnia impossíveis envolvendo a explosão completamente gratuita do Congresso Americano (“Independence Day”) ou a de uma usina de energia elétrica (“Independence Day” também) que fazem acreditar que a ameaça que McClane combate é alienígena (o que se adequaria melhor à grandiloqüência das cenas de ação) ou até o novo padrão: a famigerada cena de risco dentro do vão de elevador (“O Homem Sem Rosto”, “No Fundo do Mar”, “Poseidon”); tudo isso enquanto a trama ainda não se torna uma cópia de “Comando Para Matar”, envolvendo o seqüestro da filha de McClane. Falar que um filme hollywoodiano não é original é como acusar o cheeseburguer de ser plágio do bife à parmegiana, mas até nesse caso o sujeito se deu ao trabalho de adicionar duas fatias de pão. Aqui, nem isso: Wiseman subtraiu todo o sal, oferecendo um prato sem sabor, sem graça. Pudera, em “Duro de Matar 4.0”, o sujeito se revela uma cópia pálida de Michael Bay, apostando na improbabilidade e na grande escala da destruição da ação, mas sem sua deliciosa pretensão dramática desajeitada e, honestamente, burra. Mas até na burrice podemos constatar a ambição da tentativa; Wiseman filma no automático: enquadramentos corretinhos, uma assepsia virtual de causar estrabismo, montagem 1-2-3. O que temos na tela é tão excitante e impactante quanto um filme virtual feito pelo The Sims.

“Só porque é rock velho, isso não faz dele um clássico”, Farrell reclama do rádio que estoura Creedence Clearwater Revival nos auto-falantes. E, de fato, “Duro de Matar” não é nenhum clássico, ainda que sua relevância seja comprovada na forma como os três filmes roteirizaram para Bin Laden o ataque de 11 de setembro (um prédio explode no primeiro filme, um ataque terrorista a um avião no segundo, caos urbano em Nova York no terceiro), mas apenas um filme que inovava ao escalar para o papel do anabolizado tão na moda nos gays anos 80 um protagonista calvo vindo da televisão, mais adequado para a comédia do que para as cenas de combate físico – tinha também um bom roteiro, cenas escritas e filmadas criativamente (os vilões atirando nas janelas de vidro e McClane precisando derrotá-los descalço ainda é uma das cenas de maior inteligência bruta dentro do cinema de ação), vilões marcantes e direção segura de John McTiernan, repetida com méritos na terceira continuação. Não, não era um clássico; era um filme de ação muito bem sucedido com o qual o espectador construía fortes laços afetivos. Realmente não é só porque é velho que é um clássico. Mas também não precisava matar o velho e estuprar o cadáver.

Spoiler Rating: 59
LBC Rating: 57

Por Bernardo Krivochein - Zeta Filmes

Um comentário:

Vinícius P. disse...

Gostei muito desse filme, sem dúvida o melhor de ação nesse ano. Esse tipo de cinema não é meu preferido, mas quando feito dessa forma de "Duro de Matar 4.0", consegue me encantar tanto quanto algum filme mais 'sério'.

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