13.7.07

Dias de Glória

Foi emocionante assistir, em Cannes, em 2006, a euforia da equipe de INDIGÈNES, quando o longa de Rachid Bouchareb ganhou o prêmio coletivo de interpretação masculina. Os atores subiram ao palco do Grand Théâtre Lumière, o diretor os acompanhou e, abraçados, todos choraram. INDIGÈNES/DIAS DE GLÓRIA faz um resgate histórico muito importante. Durante a 2ª Guerra, os árabes vindos de países colonizados pela França no norte da África não eram considerados cidadãos franceses, ou eram cidadãos de segunda categoria. Apesar disso, milhares deles se integraram ao Exército da França para combater o nazismo. Vítimas do racismo e do preconceito, muitos deram a vida combatendo um regime que era a própria expressão do racismo e da discriminação.

Bouchareb e seus atores (Jamel Debbouze, Raschdy Zem, Samy Naceri e Sami Bouajila), ao recuperar essa história, não estavam apenas corrigindo a história oficial, que tendia a minimizar a luta dos 'indigènes'. O resgate era mais pessoal. Embora a fita trate da guerra, ela resgata a memória dos pais heróis, nem que seja para discutir justamente o que é o heroísmo.

Bouchareb relembra a presença dos 130 mil soldados das colônias africanas na Segunda Guerra Mundial. O centro da coisa é o tratamento diferente dado aos soldados - em primeiro lugar, no topo da hierarquia, os franceses, depois os 'pied noirs', ou seja, os franceses da Argélia e de outros países do Magreb; terceiro os 'indigènes', os naturais desses países, sem ascendência francesa, e literalmente tratados como buchas de canhão.

Todos, no contexto da guerra, são convocados para libertar a 'mãe-pátria', a França ocupada pelos nazistas. Mas será que a França é mesmo uma mãe para todos esses soldados, sem distinção de cor e origem? É bem o que o filme discute e, pelo grande sucesso na França, ficamos sabendo que esse é um problema sensível. E é claro que é, pois a questão da integração dos filhos de famílias árabes continua em aberto, com atestam os motins nas periferias de Paris e em outras cidades.

De novo, como em A CONQUISTA DA HONRA de Clint Eastwood, temos um contraponto entre o que aconteceu durante a guerra e a atualidade. Não há nenhum maniqueísmo na maneira como esses homens são retratados. Há os que vão combater pela França por dinheiro, como é o caso dos dois irmãos que pegam em armas porque um deles precisa se casar. Mas há também um deles que se expõe ao risco máximo porque precisa ser aceito como francês. Esse é um dos mais poderosos sentimentos humanos - o desejo de pertencer a algo maior do que ele, como uma nação. O que o filme diz é que, esse trabalho de aceitação, iniciado há mais de 60 anos, ainda não se completou.

Spoiler Rating: 80
LBC Rating: 68


Por Luiz Carlos Merten & Luiz Zanin Oricchio - Estado de São Paulo

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