19.7.07

À Prova de Morte


Com seu quinto longa-metragem, "Prova de Morte", exibido na disputa pela Palma de Ouro, o diretor americano Quentin Tarantino voltou em grande estilo, ao berço de sua fama no cinema. Quando debutou no Festival de Cannes -com "Cães de Aluguel" (1992)- e quando venceu a Palma de Ouro - com o filme seguinte, "Pulp Fiction" (1994)-, era marca de Tarantino ser um liqüidificador de referências cinematográficas.

"Prova de Morte" sedimenta o caminho que o diretor seguiu desde então ("Jackie Brown" e os dois volumes de "Kill Bill"), transformando os filmes de Quentin Tarantino no gênero de um homem só. Como os demais filmes do autor, "Prova de Morte" é um pastiche de seus estilos, filmes e autores favoritos. E, como os demais, tem uma notória marca pessoal na forma da mistura.

Com gestos amplos, fala rápida e abundante e sorriso freqüente, Tarantino disse não acreditar num cinema feito para fãs de um único gênero de filmes. "Não pretendo que meus filmes sejam melhores, mas quero que eles transcendam [os gêneros aos quais pertencem]. Tenho minha própria agenda."

Ele disse que o "ponto de partida" do novo filme foi a idéia de homenagear o "slasher movie", mas decidiu substituir a faca que rasga os personagens nesse tipo de filme pelo carro "à prova de morte" do título, que tem a bordo o vilão Stuntman Mike (Kurt Russel).

O modelo do carro só oferece imunidade ao motorista, e Mike se serve disso para se divertir matando mulheres, à custa de pé no acelerador e batidas, muitas batidas. De novo, Tarantino faz um filme seu jorrar sangue (tributo ao gênero "gore") e ainda aproveita para filmar uma alucinante perseguição de automóvel (ação pura).

"Prova de Morte" é a versão alongada - para 2h07, contra 1h35 original- da metade que Tarantino assina em "Grindhouse", já lançado nos EUA - com retorno de público abaixo do previsto. A outra metade é de Robert Rodriguez, que ficou fora de Cannes.

A escolha de repartir o filme e trazer apenas a parte de Tarantino a Cannes foi defendida pelo produtor Harvey Weinstein como "a decisão correta", para atrair atenção internacional a um projeto que, nos EUA, não saiu como o esperado.

O filme em si é um ensaio estilistico inspirado nos slashes movies dos anos 70 e, resume-se ao seguinte argumento: na primeira parte três sexys e formosas moças, primeiro num bar e depois num velho carro japonês dialogam longamente sobre temas de sexo, até que Mike, um paranóico ex-dublê de cinema (Ken Russel), com quem se tinham cruzado no bar, choca de frente e propositadamente contra elas na estrada, provocando uma sequência de cinema, ao nível mais extremo, com chapas, braços e pernas voando por todos os lados;

Na segunda parte outras três moças, agora mais radicais e menos ingenuas (entre elas Rosário Dawson e a neo-zelandeza Zoe Bell, que foi dupla de Uma Thurman em Kill Bill, e aparece agora como atriz, interpretando a si mesma), voltam aos diálogos sobre sexo, dentro de um Chevrolet Amarelo, parecido com o de Thurman em Kill Bill.

Até que novamente o louco tenta atirá-las fora da estrada. Entretanto, numa extraordinária cena de perseguição de automóveis, o feitiço vira-se contra o feiticeiro e assim acaba o filme. Isto tudo com cortes bruscos na montagem, repetições, e uma cópia cheia de riscos, como é de praxe. O argumento é simples e minimalista, inspirado, sem ser demasiado revivalista nos filmes dos anos 70, - estão lá muitos filmes B, mas também, algo de "O Carro Assassino", de Steven Spielberg - sem um género especifico e com um toque de modernidade e uma trilha musical impecável, que o coloca mais no domínio de uma obra de arte contemporânea, do que do cinema, no seu lado artístico mais convencional. Gostando ou não, é impossível ficar indiferente à "PROVA DE MORTE" que promete grandes cizões na crítica e no público.

Spoiler Rating: 87
LBC Rating: ~

Por Silvana Arantes (Folha de São Paulo) e José Vieira Mendes (Premiere)

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