13.7.07

A crise existencial do ogro Shrek

Depois de Homem-Aranha e Piratas do Caribe, chegou a vez de Shrek provar se sua terceira aventura nas telas tem gás para levar adiante a mais bem-sucedida franquia de animação na história do cinema. Shrek Terceiro chega no dia 15 ao Brasil com 570 cópias, grande expectativa e um currículo tão robusto quanto o ogro verde. As duas primeiras fitas renderam aos estúdios DreamWorks cerca de US$ 1,4 bilhão nas bilheterias, vendas de 90 milhões de DVDs e um Oscar de melhor animação. No fim de semana de estréia, nos Estados Unidos, o longa faturou incríveis US$ 122 milhões, um recorde na área de animação. Com o dinheiro, porém, vieram críticas de que o filme ameaça a sobrevivência dos contos de fada e ajuda a criar uma geração de miniadultos de 7 anos. Shrek Terceiro continua trazendo divertidas paródias de clássicos infantis e coloca personagens como a Bela Adormecida em enrascadas pouco comuns às edulcoradas versões tradicionais. Mas seria mesmo o fim do faz-de-conta?

Segundo a psicanalista Diana Corso, autora do livro Fadas no Divã com o marido, Mário Corso, as críticas não procedem. "É importante para as crianças de hoje sentir-se representadas em seus defeitinhos", diz. "Todo mundo solta pum, tem frieira, calcinha meio suja ou irmão meio zarolho. Toda menina, além de querer ser a Barbie, sabe que é uma Fiona, e ela gosta de ter uma representação disso."

Então está bem. Esse é um falso problema. Mas há outro, verdadeiro: as piadas sem graça. Se antes provocava gargalhadas fáceis, agora o ogro suscita sorrisos amarelos em uma aventura meio frouxa. Se você quiser se divertir com "Shrek Terceiro", saia depois de passados os primeiros dez minutos. Ali estão as situações mais engraçadas, pelo menos para os pais. A morte do "rei-sapo", cuja voz é de John Cleese, é puro Monty Phyton, antigo grupo do comediante.

É seguida por uma "orquestra" tocando "Live and Let Die", música de um filme de James Bond, composta por Paul McCartney. O segredo do sucesso de "Shrek" sempre foi o duplo sentido, piadas adultas que só os pais entenderão e situações universais para que as crianças se entretenham. O exemplo perfeito são esses primeiros minutos. É por isso que é a cinessérie de animação mais bem-sucedida da história. Que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, quando surgiu. Que criou um modelo de "meta-animação" que vem sendo repetido à exaustão. Etc.

Mas, como o próprio ogro em "Shrek Terceiro", a coisa toda começa a mostrar sinais da idade. Ou pelo menos uma crise de meia-idade. Aqui, ele foge da responsabilidade de ser rei depois da morte do sogro. Para tanto, parte em busca de um possível herdeiro-substituto (Artie, voz de Justin Timberlake, que vem se revelando um bom ator). A acompanhá-lo, os inseparáveis Gato de Botas (Antonio Banderas) e Burro (Eddie Murphy), ainda responsáveis pela maior parte das risadas.
Momentos antes de o marido partir, Fiona (voz de Cameron Diaz, no filme em que a personagem tem menos cenas importantes) revela que está grávida. Enquanto procura escapar da sucessão, Shrek (voz de Mike Myers) tenta aceitar o inevitável: sua própria linha sucessória. Conseguirá? Só saberá quem agüentar mais 82 minutos...

Spoiler Rating: 81
LBC Rating: 54


Por Ubiratan Brasil (Estado de São Paulo), Sérgio Dávila (Folha de São Paulo) & Denerval Ferraro Jr. (Revista Época)

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