13.7.07

Boas atuações fortalecem trama densa de amor

Apesar do jeitão esnobe, "O Despertar de uma Paixão" tem lá seu encanto. As credenciais apontam para o filão, quase sempre estéril, da superprodução de época de estirpe nobre, legitimada pela base literária (no caso, o romance "O Véu Pintado", de W. Somerset Maugham). Mas detalhes permitem ao resultado ir além do filme-à-caça-de-Oscar.

Aliás, "O Despertar de uma Paixão" foi praticamente ignorado, limitando-se a ganhar um Globo de Ouro de trilha sonora. O filme decepciona quem espera puro academicismo, talvez pela estrutura um pouco truncada, pela substância densa que permeia a relação entre os personagens e pela forma corajosa com que os atores os defendem.

Edward Norton e Naomi Watts apresentam trabalhos de rara sutileza. Não fazem questão de tornar seus personagens simpáticos à primeira vista. Watts, sobretudo: sua Kitty é uma garota cheia de caprichos, que se casa por puro medo de quebrar convenções sociais. Na primeira parte do filme ela é desagradável e desinteressante -uma atuação sem concessões.

De família rica, Kitty cede à pressão da mãe e aceita se casar com o biólogo classe-média Walter (Norton). Vai para a China, onde ele trabalha, e lá não demora a se envolver com o vice-cônsul Charlie Towsend (Liev Schrieber). Walter descobre e, para se vingar, aceita o posto na direção de um hospital numa cidade do interior assolada por uma epidemia de cólera. A experiência será redentora.

Não só para Kitty mas também para Walter, que assume sua responsabilidade pelo fracasso do casamento. O personagem mais interessante é Waddington (Toby Jones), um típico britânico decadente que chegou à China pelas vias do colonialismo e há anos vive ali com uma concubina chinesa. É ele quem conduz a melhor seqüência, uma estranha noite regada a bebida e ópio, em que Walter e Kitty enfim se descobrem.

É esse caminho narrativo inverso -um casamento que começa errado e se descobre possível; o amor que nasce das ruínas- um dos aspectos que fazem a diferença de "O Despertar de uma Paixão" (péssimo título genérico para uma história substancial). O diretor John Curran, que estreou com o pequeno "Tentação", tem dificuldade em orquestrar um filme grandioso. Mas, sabiamente, abre espaço para que o longa respire pelo trabalho dos atores. Sobre um pano de fundo exótico, entre comentários políticos sobre a colonização britânica, mantém o foco no relacionamento humano, fazendo uma espécie de amor nos tempos do cólera mais intimista e sem chance de saídas mágicas.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: 62


Por Pedro Butcher - Folha de São Paulo

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