25.1.08

O Gângster

Baseado na história real de Frank Lucas, que foi o rei da heroína em Nova York entre 68 e 75, O GÂNGSTER (AMERICAN GANGSTER) é ao mesmo tempo um tributo e uma revisão do gênero que consagrou Francis Ford Coppola. Para ser mais específico, o filme de Ridley Scott é uma tentativa de reviver uma das grandes eras desse gênero cinematográfico - que, não por acaso, corresponde ao período de reinado de Lucas. Ao longo da projeção, o diretor empilha citações diretas aos principais clássicos dos anos 70 dedicados ao universo dos criminosos organizados ou dos policiais que os perseguem: OPERAÇÃO FRANÇA (1971), SERPICO (1973) e o temporão SCARFACE (1983), entre outros. Mas Scott e a equipe de marketing do filme não esconde de ninguém que suas principais referências foram O PODEROSO CHEFÃO (1972). O resultado é um produto sólido, eficaz, digno. Mas não uma obra-prima.

A princípio, muitas características aproximam Frank Lucas (Denzel Washington) de Michael Corleone (Al Pacino). No início dO GÂNGSTER, o personagem vivido por Washington aparece como motorista, segurança e cobrador de dívidas de Bumpy Johnson, lendário dono do crime no Harlem. Quando este morre, em 1968, Lucas é a escolha mais improvável para sucedê-lo, mas ele consegue ocupar o lugar do antigo chefe com uma mistura de atitudes discretas e ameaças de violência, "ética" profissional e tino para o "comércio". Em pouco tempo, ele se torna maior que seu antecessor e passa a pairar sobre a máfia. Assim, vira alvo de investigações do detetive Richie Roberts (Crowe), um dos raros policiais incorruptíveis da Nova York dos anos 70. Como Michael Corleone, Lucas é um homem que quer transformar o crime organizado não apenas em uma atividade racional, mas também em um negócio regido pela lógica empresarial.

E a contraposição entre a trajetória do gângster e a do policial que está em seu enlaço torna-se a tematica do filme. O paralelismo é uma tentativa de dar conta da complexidade da situação, mas da forma como é aplicado, tem efeitos reducionistas. A contraposição entre bandido e mocinho segue uma cartilha por demais básica: para cada qualidade de um, é apresentado um defeito do outro, ou vice-versa. Se vemos Lucas tratar bem a família, veremos Roberts negligenciar o filho; se vemos Roberts recusar propinas, veremos a brutalidade de Lucas. Esse método acaba comparando e nivelando coisas muito diferentes entre si em nome da humanização dos personagens. Ainda assim, "O Gângster" sustenta o interesse graças à força da história, até agora desconhecida (ainda que bastante romanceada, é verdade).

Spoiler Rating: 86
LBC Rating: ~

Por Ricardo Cahill (Bravo!) e Pedro Butcher (Folha de São Paulo)

Nenhum comentário:

by TemplatesForYou
SoSuechtig,Burajiru