É uma das vertentes mais ricas do cinema, a do filme de boxe. O cinema versus o pugilismo rendeu desde clássicos como PUNHOS DE CAMPEÃO, de Robert Wise, e TOURO INDOMÁVEL, de Martin Scorsese, até obras como CORPO E ALMA, de Robert Rossen, O INVENCÍVEL, de Mark Robson, e o lacrimogêneo O CAMPEÃO de Franco Zeffirelli. Até o genial ROCCO E SEUS IRMÃOS, de Luchino Visconti, pode ser incluído na tendência, é verdade que de forma um tanto lateral, já que seu tema não está propriamente nos bastidores do ringue, mas no interior da família, com todas as suas contradições. Eis que agora Ron Howard acrescenta novo título à série: A LUTA PELA ESPERANÇA (CINDERELLA MAN), com Russell Crowe no papel do pugilista irlandês Jim Braddock. É um personagem sob medida para expressar o gosto do diretor pelo tema da segunda chance.
Braddock existiu. Pugilista promissor em 1929, perdeu o pé na carreira e, durante a depressão econômica dos anos 30, foi reduzido quase à indigência, trabalhando nas docas de Nova York para alimentar (mal) a família. Chegou a mendigar, passando o chapéu entre antigos amigos da fase de opulência. No desespero, conseguiu uma luta, e ganhou. Subiu de novo, contra tudo e todos. Virou a esperança dos miseráveis dos EUA, culminando na luta do título.
Cabem, a propósito de A LUTA PELA ESPERANÇA , diversos adjetivos aplicáveis a Howard - intenso, brutal, apelativo, sentimental, eficiente, manipulador. Todos, menos elegante, porque a elegância pressupõe outra coisa que não as cenas dolorosas em que o pai jura ao filho que a família não vai se separar jamais ou a outra em que Braddock briga com a mulher porque ela, sem saber, quebrou a promessa dele. Tudo converge para a luta e o espectador que não conhece a história de Braddock chega a duvidar se ele conseguirá ganhar, até porque a grandeza dos derrotados é um tema de John Ford ao qual o diretor é sensível. Howard não é um grande cineasta, mas às vezes supera as próprias limitações. A luta é de uma brutalidade estarrecedora, e muito bem filmada, além de tecnicamente perfeita como assegura o especialista do Estado na cobertura da área, Wilson Baldini Jr. E existem os atores.
Howard, talvez por ter sido ator, sabe dirigir seus elencos para atuações memoráveis. Russell Crowe é magnífico e você poderá perguntar qual é a novidade, já que ele é sempre ótimo. Arrogante na vitória do começo, quando passeia soberbo pelo ringue, ele transmite o porquê de Jim Braddock ter sido um lutador tão obstinado. Quando cai no ringue e vê os descamisados ou pensa na família, é como Cabíria, nas noites fellinianas, tocando o solo para se reerguer com mais força. Tão boa quanto Crowe é Renee Zellweger, como a mulher que vence o próprio medo para apoiar o homem amado. É uma linda história de amor.
Spoiler Rating: 92
LBC Rating: 38
Por Elaine Lipworth (The Independent), Daniela Creamer (El Pais) e Luis Carlos Merten (Estadão)
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