O anjo interpretado por Virginia Madsen em A ÚLTIMA NOITE (A PRAIRIE HOME COMPANION), filme de Robert Altman, está ali para sublinhar que não é apenas um outrora popular programa de rádio que chega ao fim. O tema de fundo é a morte, ainda que em versão mais terna e suave.
No sentido estrito, alguns personagens vão mesmo encontrá-la ao final. Mas, simbolicamente, celebra-se também o funeral de um período na história do rádio (e, por extensão, do entretenimento de massas), era romântica em que valores nobres se sobrepunham à frieza contábil guiada somente pela busca da ampliação das margens de rentabilidade.
Mundo hostil e frustrante para quem trabalha com arte, como os músicos que se apresentam pela última vez no programa de rádio cujos bastidores são bisbilhotados pela câmera sinuosa de Altman. A melancolia no ar lança a dúvida: a morte não seria uma alternativa mais razoável do que a sobrevivência nesses tempos bicudos?
Alguém ali será agraciado pelo anjo com esse prêmio, saindo de cena em grande estilo. Os demais precisarão enfrentar o dia seguinte e, com ele, um dilema que agora já não preocupa mais Altman: lutar para manter a integridade, artística e pessoal, diante de condições pouco favoráveis a ela, ou reconhecer o desajuste e se aposentar?
A trama é mera desculpa para um desfile de talentos, que cantam um pout-porri da Country Music e falam, falam e falam, muitas vezes de improviso. Tudo capturado pela inquieta câmera, que não parece querer disfarçar que está ali, e montado fantasticamente (parece até que o filme acontece em tempo real) por Jacob Craycroft.
Embalado por canções tristes, A ÚLTIMA NOITE equivale, todo ele, à lenta execução de uma balada saudosista, com rompantes bem-humorados, mas de essência sombria, em torno da inevitabilidade (e da proximidade) da morte.
Spoiler Rating: 85
LBC Rating: 70
28.12.07
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