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Rohmer, 87, dá uma lição de maestria e juventude espiritual em OS AMORES DE ASTRÉE E CELADON. Chabrol, 77, faz uma crônica demolidora da burguesia parisiense em A MULHER CORTADA AO MEIO. E Rivette, aos 79, encarou com bastante energia a adaptação do romance de Balzac "A Duquesa de Langeais" no filme NÃO TOQUE NO MACHADO (2006).
"A Duquesa de Langeais" é o segundo livro da "História dos Treze", conjunto de três novelas escritas por Balzac entre 1833 e 1835 -as outras são "Ferragus" e "A Menina dos Olhos de Ouro". Todas têm em comum uma confraria de amigos dispostos a tudo para ajudarem uns aos outros.
Segundo o tradutor Paulo Rónai, o livro "é a história de um duelo entre uma mulher faceira e o seu apaixonado", uma trama de dois movimentos.
No primeiro, Antoinette de Langeais, casada, seduz o general Armand de Montriveau, um pouco por diversão, um pouco por exibicionismo, levando-o ao desespero, por ela não querer nem poder retribuir na mesma moeda amorosa.
No segundo movimento, Antoinette se descobre vítima de uma paixão furiosa pelo general, que, por vingança, resolve submeter a duquesa a uma tortura emocional semelhante a que ele sofreu.
A novela começa numa ilha espanhola, onde o general reencontra a duquesa, enclausurada num convento. Faz um flashback para contar a história desse amor desencontrado e retorna à ilha para o desfecho trágico. Rivette seguiu a mesma ordem narrativa.
O diretor se concentra no principal do livro: o orgulho e a insegurança da nobreza da Restauração, o ressentimento amoroso e a guerra dos sexos expressa nos "combates verbais" (Rónai) da duquesa e do general (os ótimos Jeanne Balibar e Guillaume Depardieu).
O diálogo belicoso, muito bem adaptado, aproxima o filme do teatro, deslocamento que tanto atrai Rivette. Mas é outra a principal exploração cinematográfica de "Não Toque no Machado" -primeiro título dado por Balzac a seu livro.
O filme é construído como um estratagema de lugares fechados (as casas, os salões, os quartos, o convento...) que os amantes invadem e ocupam, onde eles se exibem, brigam e se ocultam, levando a disputa a se estender do diálogo ao espaço, da fala ao olhar. Com perfeito domínio dos planos, o diretor Jacques Rivette exibe as táticas do amor como uma perversa geopolítica da visão.
Em 1942, o francês Jacques de Baroncelli adaptou o romance "A Duquesa de Langeais", de Balzac, com roteiro do dramaturgo Giraudoux, que reinventou os diálogos do autor de "A Comédia Humana". Exatamente 65 anos depois, Jacques Rivette voltou a Balzac e à duquesa de Langeais, só que desta vez ele adotou o título que o folhetim tinha ao ser publicado em capítulos NÃO TOQUE NO MACHADO (NE TOUCHEZ PAS LA HACHE).
É um filme suntuoso, numa dramaturgia aparentemente - mas só aparentemente - mais clássica. E os atores! Jeanne Balibar e Guillaume Depardieu tocam o sublime.
Spoiler Rating: 75
LBC Rating: ~
Por Alcino Leite Neto (Folha de São Paulo) e Redação do Estado
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